Híbrido-leve: Eletrificação de verdade ou apenas um paliativo?

há 2 semanas 2

O Renault Kwid é comercializado como um SUV, e, embora isso possa soar estranho para alguns, o modelo atende a critérios específicos de proporções e altura do solo que permitem enquadrá-lo nesse segmento. Mas ele é realmente um SUV? Para a maioria das pessoas, a resposta seria negativa, mesmo que o Kwid não esteja tecnicamente fora dos padrões estabelecidos.

Com os híbridos-leves, ocorre algo similar: eles são classificados como veículos eletrificados pela legislação por atenderem a determinados critérios técnicos. No entanto, podem realmente ser considerados híbridos na prática?

Nos últimos anos, a demanda por veículos mais econômicos e sustentáveis tem aumentado consideravelmente, impulsionada, entre outrpelo aumento dos preços dos combustíveis. Como resultado, muitas montadoras têm investido em tecnologias híbridas, incluindo os modelos híbridos-leves (MHEV), que ganham cada vez mais espaço no mercado. Mas será que esses veículos realmente são "eletrificados"? E qual a sua vantagem no uso diário? 

hibridos leves - plug in eletricos

Foto de: ABVE

A sigla MHEV vem de Mild Hybrid Electric Vehicle (Veículo Elétrico Híbrido Leve) e descreve um tipo de veículo híbrido que é menos complexo do que os híbridos convencionais (HEV) ou os híbridos plug-in (PHEV). O híbrido leve é uma solução intermediária entre os carros com motor de combustão interna tradicional e os híbridos completos, oferecendo um sistema elétrico simples e acessível. Ele é mais barato de produzir do que os híbridos completos, pois não exige componentes tão sofisticados, como um motor elétrico tradicional ou uma bateria de grande capacidade.

sistema-hibrido-suave

Foto de: Volkswagen

No MHEV, o principal componente do sistema híbrido é uma bateria pequena associada a um gerador elétrico. Esse gerador substitui o motor de partida e o alternador convencionais, atuando como um "minimotor". Ele acumula energia durante a frenagem (recuperação de energia cinética) e usa essa energia para ajudar a ligar o motor de combustão, alimentar os equipamentos de bordo e fornecer um pequeno aumento de torque durante acelerações rápidas. O sistema é gerenciado por um computador de bordo, que otimiza o uso da energia.

Stellantis - apresentação

Foto de: Stellantis

Os veículos MHEV têm como objetivo reduzir o consumo de combustível e as emissões de CO2. Eles não oferecem uma experiência de condução completamente elétrica, mas ajudam a aliviar o motor de combustão interna, o que pode resultar em uma redução no consumo de combustível de cerca de 5% a 15%, dependendo do modelo. Essa economia é particularmente perceptível durante a condução urbana, onde há paradas e partidas frequentes, uma situação onde os híbridos leves se saem melhor. 

Porém, como o MHEV não possui um motor elétrico de tração, como os HEVs ou PHEVs, ele não pode ser considerado um "híbrido completo". O veículo ainda depende do motor de combustão para se mover, com o sistema elétrico apenas dando suporte ao motor tradicional, especialmente em momentos de alta carga ou baixa eficiência. Isso significa que o MHEV não oferece a possibilidade de condução elétrica exclusiva por alguns quilômetros, como acontece com os híbridos completos.

No Brasil, os modelos híbridos-leves (MHEV) vêm ganhando espaço no mercado. Em novembro de 2024, os micro-híbridos representaram 11,2% das vendas do segmento de eletrificados, superando até os tradicionais híbridos HEV flex (9,1%). Esse crescimento se deve, em parte, à maior acessibilidade dos modelos MHEV e ao aumento da oferta desses veículos no mercado nacional.

Fiat Pulse Impetus Hybrid

Foto de: Fiat

Embora os MHEVs atendam a alguns critérios da legislação para serem classificados como veículos eletrificados, o grau de eletrificação deles é bastante limitado. O sistema elétrico desses veículos não é capaz de mover o carro de forma independente, o que significa que eles não contribuem de forma significativa para a descarbonização da matriz de transporte.

Nessa linha, a questão que muitos especialistas levantam é se, de fato, o MHEV oferece uma experiência de direção que justifique a classificação de veículo híbrido. Se considerarmos que o modelo não permite a condução exclusivamente no modo elétrico e que as reduções de consumo e emissões são modestas, a experiência de um MHEV acaba ficando distante da de um híbrido convencional ou, ainda mais, de um veículo totalmente elétrico.

  Fiat Pulse Hybrid (MHEV) Toyota Corolla Hybrid (HEV)
Consumo urbano (etanol) 9,3 km/l 12,8 km/l
Consumo rodoviário (etanol) 10,2 km/l 11,1 km/l
Consumo urbano (gasolina) 13,4 km/l 18,5 km/l
Consumo rodoviário (gasolina) 14,4 km/l 15,7 km/l

Os híbridos-leves (MHEV) são eletrificados que oferecem ganhos modestos de consumo, com uma média de redução de 10% nas emissões em comparação aos veículos tradicionais com motor de combustão. No entanto, eles não proporcionam a experiência completa de um carro híbrido, já que não conseguem rodar de forma 100% elétrica nem atingem as médias de consumo mais vantajosas, que são possíveis apenas com veículos HEV (híbridos convencionais). O MHEV surge como uma opção intermediária entre a combustão e a eletrificação, mas para quem deseja uma experiência real de eletrificação, os híbridos plenos (HEV) ou PHEV são alternativas mais atraentes.

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