Grupos de apoio a pessoas com transtornos alimentares sofrem com falta de verba e especialização

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No mês de setembro, grupos de apoio a transtornos alimentares participaram de audiência pública com a senadora Damares Alves (Republicanos) e apontaram a necessidade de investimentos e especialização para esta área da saúde.

De acordo com Vivian Suen, coordenadora do Grupo de Assistência em Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (GRATA), há urgência na contratação de profissionais de nutrição, psicologia e psiquiatria para atuar junto dos pacientes com anorexia, bulimia, entre outros transtornos alimentares. Atualmente, a maioria dos funcionários são voluntários.

Além disso, a falta de leitos especializados prejudica o tratamento de pacientes com casos graves, quando é necessária a internação. "No Brasil apenas o Ambulim tem leitos destinados a essas doenças. São apenas dez", diz.

O Ambulim, Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, atende os pacientes em ala psiquiátrica junto de outras doenças, diz o coordenador e psiquiatra Táki Cordás. Para ele, pacientes com transtornos graves como anorexia nervosa, bem como com outros quadros psiquiátricos, precisam de um hospital especializado pelo alto risco de morte. "A taxa de mortalidade da anorexia nervosa pode chegar a 20%", diz.

Na unidade de Ribeirão Preto os casos de internação são direcionados às alas comuns, onde estão desde pessoas com obesidade até pessoas com câncer. "Precisamos de profissionais com o tempo necessário para cuidar de pessoas com transtornos alimentares, que precisam ter a alimentação vigiada e ser impedidas de subir e descer escadas para perder peso, por exemplo. Um enfermeiro não pode dizer a uma menina que ela precisa comer ‘e parar de frescura’", diz Suen.

De acordo com a assessoria da senadora Damares, os temas debatidos na audiência foram encaminhados ao Ministério da Saúde, mas não devem caminhar neste ano.

Valéria Palazzo, que fundou o Grupo de Apoio e Tratamento dos Distúrbios Alimentares e da Ansiedade (GATDA) nos anos 2000, descobriu ter compulsão alimentar nas páginas da Folha. Além disso, acompanhava os dilemas de uma amiga com bulimia, que recebia suporte do Ambulim. Juntas, decidiram se especializar e falar sobre o tema de forma gratuita, oferecendo palestras, pregando cartazes, entre outras ações, com o objetivo de conscientizar sobre o tema.

"Os transtornos alimentares não podem ser prevenidos pois um dos fatores é a predisposição genética, mas podemos conscientizar as pessoas de que são doenças sérias e precisam de ajuda", diz. É ainda mais importante que famílias e amigos estejam cientes para ajudar pessoas que sofrem, explica a psicóloga e neurocientista.

"A pessoa tem tanto medo dos alimentos que os evita, corta tudo muito pequeno, joga fora e diz que comeu. Esse paciente precisa de alguém que iniba seus comportamentos nocivos estando na hora das refeições, que o acompanhe ao médico quando problemas relacionados aparecerem", endossa.

Demarcados pela autopercepção distorcida e o medo de comer, os casos de anorexia nervosa são os mais difíceis de tratar, diz. Além disso há alta taxa de abandono do acompanhamento. "O sofrimento causado pela ideia de se recuperar, que implica em recuperar peso e se alimentar, é estarrecedor ainda mais para esses pacientes", diz.

Em seu grupo em Ribeirão Preto, Suen também aponta alta taxa de evasão, especialmente em casos em que há depressão ou outras doenças associadas.

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