A greve nacional dos entregadores de aplicativos, que programaram dois dias de paralisação em todo país, chegou a afetar todas as entregas de restaurantes que dependem exclusivamente do iFood consultados pela Abrasel SP (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo).
Os estabelecimentos que utilizam outras plataformas de entrega tiveram impacto menor, mas ainda significativo, com queda no movimento de delivery estimada entre 70% e 80%. Já os bares e restaurantes que mantêm frota própria de entregadores registraram aumento na demanda, com crescimento de até 50% nas entregas. A associação ainda não tem a estimativa de perdas em reais dos estabelecimentos.
João Previattelli, cofundador do restaurante Haya Falafel, relatou que, nesta segunda (31), primeiro dia de paralisação, a loja não recebeu nenhum pedido pelo iFood e apenas dois pedidos pelo Rappi. Em dias normais, a média costuma ser de 80 a 90 solicitações por dia. Edilson Savaki, proprietário do Nako Lamen, contou que, devido à falta de entregadores parceiros, sua loja foi fechada pelo próprio iFood. Hoje, o estabelecimento segue fechado.
O restaurante Pratada São Paulo, localizado na região central da capital paulista, não abriu entre esta segunda e terça-feira (1º) em apoio à greve. "Qualquer reivindicação deles é muito válida", afirma o proprietário, Adss Moreira.
O fundador da hamburgueria Sliders, Pedro Facchini, diz que, atualmente, o delivery é responsável por cerca de 70% do faturamento de suas lojas, que estão localizadas na Vila Olímpia e na Paulista, em São Paulo. Na segunda-feira, as unidades da hamburgueria foram fechadas pelo iFood devido à falta de entregadores. Hoje, as duas —unidades estão abertas, mas com a área de entrega limitada a 450 e 200 metros.
Folha Mercado
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Cesar Akkari, proprietário do restaurante Emporio San Martin, foi um dos empresários que conseguiu registrar um aumento nas vendas por manter frota própria de entregadores. Na segunda-feira, o restaurante recebeu cerca de 58 pedidos por delivery, valor superior à média de cerca 22 solicitações das segundas-feiras.
"Eu tive que parar o restaurante por volta das 20h30 porque não parava de chegar pedidos", conta Akkari. Para esta terça, o proprietário contratou mais um entregador para conseguir atendar as demandas e estabeleceu um tempo reduzido para as entregas.
Segundo o iFood, a empresa está monitorando as manifestações e trabalhando para manter a operação funcionando. "Vale lembrar que, atualmente, 60% dos pedidos intermediados pelo app são entregues pelos próprios restaurantes. O iFood reafirma seu respeito às manifestações pacíficas", acrescenta a empresa.
O MID (Movimento Inovação Digital), que reúne mais de 180 empresas, incluindo o Rappi, diz reconhecer e respeitar o direito constitucional dos entregadores de se manifestar de forma pacífica e que participa das discussões sobre as condições de trabalho dos profissionais do setor.
Os trabalhadores reivindicam a criação de uma taxa mínima de R$ 10 por entrega, o aumento do valor pago por quilômetro rodado de R$ 1,50 para R$ 2,50, a limitação do raio de atuação das bicicletas a até três quilômetros e o pagamento integral pelos pedidos agrupados.
Os organizadores da greve também denunciam práticas antissindicais, como incentivos financeiros para desencorajar a participação dos entregadores na mobilização.
Em nota, o SindimoSP diz que sente abandono do governo federal para resolver a situação. "São dois anos de mandato do presidente Lula e do ministro Luís Marinho que se comprometeram em acabar com a precarização do setor, mas, até aqui nada, pelo contrário, as empresas é que ditam normas e regras", afirma o sindicato.
A Folha procurou o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), que não respondeu até a publicação dessa reportagem.