Gregos desafiam proibição de fumar em ambientes fechados 14 anos após veto

Os gregos fumam mais do que a maioria dos outros europeus e, mesmo 14 anos após a Grécia ter proibido o fumo em locais públicos fechados, não é incomum ver pessoas acendendo cigarros em bares e clubes.

Assim, enquanto a União Europeia insta os países a estenderem as proibições de fumo para espaços ao ar livre como parte de seus esforços para "alcançar uma geração livre de tabaco" até 2040, a resposta oficial da Grécia tem sido: Não, obrigado.

No ano passado, um perfil de saúde da Grécia da Comissão Europeia relatou que cerca de um quinto das mortes no país em 2019 poderiam ser atribuídas ao tabagismo, incluindo direto e passivo. Ainda assim, muitos na Grécia continuam a fumar —por hábito, desafio ou simplesmente percebendo que podem se safar.

"Quando um fumante sabe que há brechas no sistema que pode explorar para fumar, ele vai fazer isso", diz Stathis Papachristou, psicólogo e funcionário do escritório de cessação do tabagismo da Organização Nacional de Saúde Pública, em uma entrevista.

Atualmente, mais de um terço dos gregos fuma —o segundo na UE, depois da Bulgária— de acordo com a Comissão Europeia.

A Grécia proibiu o fumo em todas as áreas públicas fechadas em 2010, e a agência de estatísticas do país registrou uma queda significativa no tabagismo. Mas a proibição foi amplamente desrespeitada, então em 2019 uma lei mais rigorosa foi introduzida. Incluía multas de 100 euros (cerca de 643 reais) para clientes que fumassem em ambientes fechados e até 10 mil euros para empresas, juntamente com uma linha direta de reclamações.

Para fazer cumprir a proibição, as autoridades realizaram 3.376 inspeções em espaços públicos fechados nos primeiros 11 meses deste ano, cerca de 2.200 delas em Atenas, de acordo com a agência responsável. Disse que emitiu 659 multas, totalizando 529.400 euros, por violações durante esse período, principalmente para proprietários ou gerentes de negócios.

O ministro da Saúde, Adonis Georgiadis, diz que o fumo em áreas internas foi eliminado.

"A Grécia implementou uma série de medidas, fiscaliza seus restaurantes, praticamente eliminou o fumo em áreas internas", disse ele em resposta escrita a perguntas.

Mas especialistas dizem que o país não fez o suficiente.

"As inspeções são inadequadas", afirma Panagiotis Behrakis, pneumologista e fundador da Smoke Free Greece, uma iniciativa antitabagismo que realiza seminários em escolas. Ele acrescentou que muitos negócios permitiam fumar em espaços anteriormente abertos que foram fechados com lonas plásticas.

Em um recente sábado à noite, nuvens de fumaça pairavam dentro de vários bares de Atenas.

"Sempre que estou estressado, acendo um cigarro e desligo", diz Antonis Vasiliadis, 45, sentado com amigos em um pequeno bar lotado.

Ele disse que o preço relativamente baixo dos cigarros na Grécia —cerca de 4,50 euros por um maço de 20— permitia que ele mantivesse seu hábito de um maço por dia. Quanto aos não fumantes, ele disse: "É escolha deles estar aqui."

Katerina Theofilou, 29, uma não fumante sentada nas proximidades, diz que a fumaça das mesas vizinhas a irritava, mas não o suficiente para denunciá-la. "Estou aqui para me divertir", acrescenta ela, "não para denunciar pessoas."

Isso se aplica a frequentadores como Spiros Manakis, 38, um trabalhador de tecnologia da informação em outro bar que se descreveu como um "fumante convicto". Ele tentou parar uma vez, diz, mas decidiu que fumar combinava com seu estilo de vida sedentário de trabalho com computadores e videogames.

Quanto às restrições do governo, ele afirma: "O estado não tem o direito de proibir o fumo."

As autoridades na Grécia discordam —até certo ponto.

Após o país ter introduzido a proibição de fumo mais rigorosa em 2019, o primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis declarou: "Não há mais a desculpa de 'Essas coisas não podem ser feitas na Grécia.'" E no final de 2022, o ministro da saúde da época usou uma foto de um ator famoso fumando em um clube para alertar que ninguém estava isento. Tanto o ator quanto o clube foram multados.

Georgiadis disse que a Grécia não estenderia as restrições ao fumo em linha com a recomendação da UE. Em uma votação sobre a medida não vinculativa durante uma reunião de dezembro dos ministros da saúde europeus, a Grécia se absteve junto com a Alemanha.

"A Grécia disse: 'Tragam-nos um estudo que diga exatamente qual é o impacto da sua proposta na saúde pública, e nós a apoiaremos'", disse ele.

"É uma coisa ter uma política rígida", acrescentou, "e outra bem diferente causar danos a milhares de negócios, ao nosso produto turístico e a muitas pessoas sem saber se isso nos beneficia ou prejudica."

Os perigos do fumo passivo estão bem documentados.

E especialistas como Behrakis apontam para a recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde) de que as restrições ao fumo sejam estendidas para áreas ao ar livre, com a agência argumentando que "leis abrangentes de ambientes livres de fumo oferecem o único meio eficaz de eliminar os riscos associados ao fumo passivo de tabaco."

Isso não incomoda Nikos Louvros, 69, que possui um bar popular em Atenas e fundou um partido político nichado para os direitos dos fumantes. Um fumante inveterado, ele disse que inspetores visitaram seu bar apenas uma vez, em 2012, e não retornaram.

"Quem vem aqui sabe que pode fumar", diz ele.

Especialistas disseram que o desafio era desarraigar tais atitudes profundamente enraizadas.

"Não podemos ter um inspetor para cada fumante", afirma Papachristou. "Precisamos mudar a mentalidade grega de que seu vizinho é obrigado a inalar sua fumaça."