O setor elétrico avalia que a atual situação dos reservatórios das principais usinas do país afasta um cenário de risco de desabastecimento de geração de energia pelas hidrelétricas, ao longo de 2025. Isso significa menor necessidade de acessar as usinas térmicas, que são mais caras e poluentes.
Embora o plano de geração de energia seja revisado todos os meses, conforme a necessidade de cada região e o comportamento dos rios, a avaliação do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e do Ministério de Minas e Energia é a de que o ano teve início com um bom estoque de água nas barragens que funcionam como as principais caixas d’água do país.
Os reservatórios estão com volume médio que supera 55% da capacidade plena, permitindo que o período seco – entre maio e novembro – seja ultrapassado sem maiores dificuldades.
Para o consumidor, isso significa não apenas a garantia de entrega da energia, mas também uma sinalização de que a conta de luz deve ser menos pressionada. O cenário desenhado dispensa a necessidade de acionamento das usinas mais caras do país, que só entram em operação quando fontes mais baratas já estejam em atividade.
O ministro do MME, Alexandre Silveira, disse à Folha que, em 2024, não foi preciso acionar usinas térmicas que já não estivessem previamente programadas para entrar em operação, o que reduz a pressão sobre o preço da energia.
"Seguimos trabalhando para que, neste ano, não precisemos ligar as usinas mais caras. A matriz está mais complexa e precisamos compreender que se torna necessário combater a instabilidade, mas o cenário é positivo para 2025", afirmou.
"É cedo para cravar um cenário mais preciso para o ano todo, porque isso é acompanhado mês a mês e temos de estar preparados para situações críticas, mas podemos dizer que começamos o ano com o pé direito", disse Christiano Vieira, diretor de operação do ONS. "Está chovendo nas cabeceiras dos rios dos principais reservatórios. A se manter esse período chuvoso até meados de abril, o quadro geral é positivo."
Em 2024, uma média de 10,7% da energia nacional produzida no país veio de fontes térmicas, como gás fóssil, carvão e óleo diesel. Em 2023, essa média anual foi equivalente a 9,3% do total.
"Estamos confiantes de que seja um ano bom, sem forte pressão sobre as hidrelétricas, embora a geração térmica tenha cada vez mais o papel de garantir o abastecimento, devido à crescente mudança do perfil da matriz elétrica, com entrada da solar e a eólica, que trazem um componente de variabilidade grande na operação, uma dinâmica nova", disse Marcio Rea, diretor-geral do ONS.
Para o consumidor, o sinal mais claro da situação do abastecimento é sentido todo mês, por meio do acionamento das bandeiras tarifárias. Elas variam entre as cores verde, amarelo e vermelha, conforme a situação do cenário hidrelétrico e a necessidade de ligar as usinas térmicas.
Entre maio de 2022 e março de 2024, a bandeira foi verde, sem custo extra para o consumidor. Nos meses seguintes, oscilou entre as três cores, com impacto na conta de luz, até que voltou à cor verde em novembro do ano passado e assim permanece, até este mês.
As três cores também funcionam como critério para orientar o panorama traçado pelo ONS que define quando é hora de acionar cada tipo de usina térmica do país, conforme seu custo de produção. Para 2025, o operador definiu que, dentro do cenário "verde", há uma capacidade de geração térmica disponível de até 8.274 megawatts médios, um volume de energia que praticamente se iguala ao que foi utilizado no ano passado.
Caso essa quantidade não seja suficiente e seja preciso ligar mais térmicas, é acionada a "curva de referência amarela", que inclui usinas mais caras, mas amplia o potencial para até 12.387 megawatts médios. Num cenário mais crítico, em que nem mesmo essa quantidade consiga evitar um risco de desabastecimento, é acionada a curva vermelha, que amplia essa capacidade para até 16.594 megawatts médios.
A necessidade de acionar usinas mais caras tem impacto direto nos encargos que são cobrados na conta de luz, além das bandeiras tarifárias.
No Orçamento de 2025, a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), um dos principais encargos cobrados na tarifa de energia elétrica, chegará a R$ 40,6 bilhões, um valor 9,23% superior aos R$ 37,2 bilhões aprovados para 2024.
É da CDE que também saem repasses para a geração de energia elétrica nos sistemas isolados, regiões que não estão conectadas à rede nacional de transmissão, para bancar custos com diesel e carvão mineral.