Governo Trump iniciou guerra contra a ciência, dizem pesquisadores

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Em uma carta aberta divulgada nesta segunda-feira (31), cerca de 1.900 pesquisadores acusam a administração Donald Trump de conduzir um "ataque em larga escala contra a ciência dos Estados Unidos" que pode atrasar pesquisas por décadas e ameaçar a saúde e a segurança dos americanos.

Os signatários da carta, todos eles membros eleitos das academias nacionais de ciências, engenharia e medicina, alertaram sobre os danos causados pelas demissões em agências de saúde e ciência e pelos cortes e atrasos no financiamento que historicamente deu suporte a pesquisas dentro do governo e em universidades americanas.

"Por mais de 80 anos, sábios investimentos do governo americano construíram a estrutura de pesquisa desta nação, tornando-a invejável no mundo", diz a carta. "Surpreendentemente, a administração Trump está desestabilizando essa estrutura ao reduzir o financiamento para pesquisa, demitir milhares de cientistas, remover o acesso público a dados científicos e pressionar os pesquisadores a alterar ou abandonar seus trabalhos por motivos ideológicos."

Segundo a carta, muitas universidades e instituições de pesquisa até agora "mantiveram silêncio para evitar antagonizar com a administração e pôr em risco seu financiamento". Mas, ainda de acordo com o texto, "a estrutura científica nacional está sendo dizimada".

Os signatários pedem aos americanos que apelem ao Congresso para proteger o financiamento científico.

Com os esforços de Elon Musk para reduzir gastos e a repressão de Trump a instituições que ele vê como inimigos ideológicos, o governo federal buscou desmantelar partes do aparato de financiamento científico.

Durante os primeiros meses de gestão do republicano, o financiamento dos Institutos Nacionais de Saúde, que apoia o trabalho de mais de 300 mil cientistas em todo o país, ficou bilhões de dólares abaixo dos níveis típicos.

A Casa Branca também moveu-se para cancelar pesquisas em áreas específicas, como saúde transgênero e ciência climática.

A administração Trump anunciou na semana passada a demissão de 10 mil funcionários no Departamento de Saúde e Serviços Humanos como parte de uma ampla reorganização que refletia as prioridades do secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr.

O departamento contratou um cético em vacinas para pesquisar uma tese, há muito desmentida por cientistas, de que haveria ligação entre vacinas e autismo. Na última sexta-feira (28), o principal regulador de vacinas do país renunciou, citando as "desinformações e mentiras" de Kennedy.

Nas últimas semanas, membros da Academia Nacional de Medicina, uma organização sem fins lucrativos que fornece aconselhamento independente sobre políticas de saúde, começaram a discutir suas preocupações com membros das academias nacionais de ciências e engenharia.

Essas conversas deram origem à carta aberta, segundo Steven Woolf, um dos organizadores do texto. Ele estuda políticas de saúde na Universidade da Virgínia Commonwealth.

A carta foi redigida por um grupo de 13 cientistas representando áreas como medicina, ciências do clima, sociologia e economia.

"Eu sei o que isso vai fazer com a expectativa de vida nos Estados Unidos, com as taxas de mortalidade, com a crise de saúde mental que estamos enfrentando", disse Woolf. "Essas mudanças na estrutura de pesquisa vão se traduzir em danos para os americanos do dia a dia."

Woolf citou, por exemplo, a reestruturação da Agência de Pesquisa e Qualidade em Saúde, encarregada de proteger a segurança dos pacientes e garantir aos americanos acesso a serviços preventivos gratuitos como mamografias.

"O órgão responsável por proteger a qualidade dos cuidados de saúde nos EUA acabou de ser demolido", afirmou Woolf.

A carta descreve as consequências dos cortes de financiamento, incluindo pausas em estudos de pesquisa, demissões de professores e redução nas matrículas de estudantes de pós-graduação.

Também acusa a administração de "praticar censura" ao, entre outras coisas, "bloquear pesquisas sobre temas considerados objetáveis, como mudanças climáticas, ou que resultem em conclusões indesejadas, sobre temas que vão desde a segurança das vacinas até tendências econômicas".

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