O time de análise política da XP discutiu os principais movimentos que marcaram o cenário político e econômico nas últimas semanas, em nova edição do podcast Frequência Política. A conversa foi conduzida por Paulo Gama, que destacou o reforço do grupo com a chegada de Bárbara Baião à equipe, além das participações de Vítor Scaletti, estrategista da casa, e dos analistas Bianca Lima e João Paulo Machado, diretamente de Brasília.
Entre os temas em destaque, o impacto das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos e as tentativas do governo Lula de retomar sua popularidade foram centrais na análise. Segundo os analistas, o início de abril foi marcado por medidas de estímulo à economia e ações voltadas ao alívio na percepção negativa sobre o governo.
Paulo Gama lembrou que pesquisas de opinião no início do ano indicaram uma queda na aprovação do presidente Lula. Desde então, o Planalto vem apostando em uma sequência de iniciativas para reverter o cenário. As mudanças começaram com a nomeação de Laércio Sidônio para a Secretaria de Comunicação no fim de 2024 e ganharam força com medidas como a liberação do saldo do FGTS para quem aderiu ao saque-aniversário, a ampliação do crédito consignado privado e, principalmente, o envio da proposta de reforma do Imposto de Renda.
A proposta do IR prevê isenção para quem ganha até R$ 5 mil por mês, compensada por uma alíquota mínima para quem recebe mais de R$ 50 mil mensais. Outro foco da gestão tem sido o programa Minha Casa Minha Vida, que passou por ajustes e reforço de recursos com foco eleitoral.
Incertezas contínuas na política interna
A política interna, no entanto, convive com incertezas no cenário externo. Vítor Scaletti apontou que os mercados brasileiros continuam sensíveis à conjuntura internacional, especialmente à escalada das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. “Estamos vivendo um mundo mais arriscado, com menos crescimento global. Isso não é um cenário positivo para emergentes como o Brasil”, afirmou.
Scaletti destacou ainda que o governo Trump aumentou para 125% as tarifas sobre produtos chineses e reduziu para 10% as tarifas recíprocas com outros países, incluindo o Brasil. Com isso, o país perdeu parte do “bônus relativo” que vinha sendo considerado por ter tarifas mais brandas em relação a outros emergentes.
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Embora existam oportunidades de curto prazo — como possíveis ganhos no comércio de soja ou petróleo em função da guerra tarifária entre Washington e Pequim — o panorama geral é de cautela. “O Brasil ainda precisa mostrar que é trigo, não joio, nesse cenário global. E, por ora, a percepção ainda está em construção”, alertou o estrategista.
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Caixa de ferramentas
Na avaliação de Bárbara Baião, a percepção dentro do governo é de que a “caixa de ferramentas” para recuperar apoio popular começou a surtir efeito. Uma pesquisa Datafolha recente mostrou estabilização na desaprovação do presidente, o que foi visto como um sinal de que as ações começaram a funcionar. Ainda assim, ela pondera que o governo busca calibrar os estímulos sem comprometer o arcabouço fiscal, de olho nas contas públicas.
“A aposta do governo agora é encontrar medidas que gerem impacto positivo no eleitorado, mas sem estourar o fiscal”, explicou. Segundo ela, há movimentos coordenados para atender recortes específicos do eleitorado, como trabalhadores informais e entregadores, com estímulos ao crédito e programas de apoio. “Se os índices de popularidade não reagirem mais adiante, a tendência é de uma dose maior de impulso”, afirmou.
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Com a proximidade do envio do projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), previsto para até 15 de abril, o mercado político deverá ter uma semana mais esvaziada devido ao feriado da Sexta-feira Santa. Ainda assim, os analistas alertam que as decisões que estão sendo tomadas agora ajudarão a moldar o cenário para a corrida eleitoral de 2026.