Governo Lula amplia verba à Jovem Pan após acusá-la de fake news

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O governo Lula (PT) ampliou a verba de publicidade destinada a emissoras de rádio da Jovem Pan mesmo após acusar a empresa de promover fake news sobre as eleições e estimular atos golpistas.

Os veículos do grupo receberam ao menos R$ 2,4 milhões em campanhas de mídia do governo federal em 2024, depois de ficarem praticamente sem inserções até os últimos meses de 2023.

A retomada da publicidade federal contrasta com declarações de fevereiro do ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência, Paulo Pimenta (PT), que disse ter cortado verbas da Jovem Pan em razão de fake news disseminadas pela emissora.

No mês seguinte, a AGU (Advocacia-Geral da União) aderiu à ação judicial do Ministério Público Federal, que pede condenação da Jovem Pan em R$ 13,4 milhões. A Advocacia-Geral disse, à época, que a emissora promoveu a "veiculação sistemática de conteúdos desinformativos que incentivaram a ruptura do regime democrático brasileiro".

A empresa se tornou alvo da Procuradoria da República em São Paulo por, entre outros pontos, abrigar comentaristas bolsonaristas que defenderam teses golpistas sobre as urnas eletrônicas. A ação ainda pede a cassação da outorga da emissora, ponto que não foi referendado pela União.

Jovem Pan, Secom e AGU não responderam aos questionamentos da reportagem sobre a volta à emissora das campanhas publicitárias do governo.

Desde o último ano, a rede fez tentativas de modular o discurso e sinalizar ao governo que atenuou a sua linha editorial e demitiu parte dos comentaristas mais alinhados ao ex-presidente, como Zoe Martínez, vereadora eleita de São Paulo pelo PL.

Nos quatro anos do governo Jair Bolsonaro (2019-2022), a rede de rádio e TV da Jovem Pan recebeu ao menos R$ 18,8 milhões em anúncios do governo federal.

No fim de 2023, os veículos da empresa voltaram a ser inseridos nos planos de mídia do governo federal. A emissora recebeu R$ 270 mil no ano.

Já os R$ 2,38 milhões repassados em 2024 ao grupo são próximos ao valor dos anúncios direcionados a veículos da Globo, como a rede CBN, segundo dados extraídos em 16 de dezembro do portal da Secom sobre despesas de publicidade da própria secretaria e dos ministérios.

A comparação entre os grupos, porém, pode ser imprecisa. A atualização deste portal depende da confirmação da veiculação das publicidades em cada emissora de rádio, entre outros fatores.

A mesma base de dados aponta que veículos do grupo Band receberam cerca de R$ 3,6 milhões em 2024. É a maior soma repassada a um mesmo grupo de comunicação de rádio neste ano, conforme os valores hoje disponíveis.

O sistema da Secom indica, até agora, R$ 48,2 milhões em despesas com publicidade em rádio do governo em 2024. A secretaria não aponta valores repassados à TV e aos canais na internet da Jovem Pan sob Lula.

As campanhas federais nas emissoras de rádio da empresa foram ampliadas a partir de maio deste ano. A Jovem Pan recebeu R$ 532 mil em anúncios sobre ações do governo Lula para a reconstrução do Rio Grande do Sul após as enchentes.

A gestão petista também pagou ao menos R$ 260 mil por publicidade sobre o projeto de regulamentação do trabalho de motoristas de aplicativos.

A maior parte da verba direcionada à Jovem Pan (R$ 1,56 milhão) bancou anúncios de ações da Secom, enquanto cerca de R$ 820 mil são das campanhas do Ministério da Saúde, entre elas o combate à dengue e a prevenção ao HIV.

O portal administrado pela Secom, porém, não inclui os pagamentos feitos para propagandas de bancos públicos e das estatais, como a Petrobras, que são mantidos sob sigilo mesmo em processos baseados na Lei de Acesso à Informação.

Em fevereiro, o ministro Paulo Pimenta disse à Folha que a Secom considerou que não poderia mais repassar verbas à Jovem Pan por causa de investigações contra a empresa por suposta participação em atos golpistas.

"Como foi aberta investigação específica sobre a questão da Jovem Pan, inclusive depois do 8 de janeiro, por conta dessa vedação, nós nos sentimos sem possibilidade de manter a empresa no plano de mídia", afirmou à época.

Na mesma entrevista, Pimenta mudou o discurso quando soube da reintrodução da emissora em campanhas do governo e disse que não existia um "veto" para anunciar na empresa. "Não há uma vedação, há uma recomendação, uma orientação."

"Se uma agência, se um ministério, entende que para uma determinada a campanha a Jovem Pan... Não tem nenhuma vedação nesse sentido", disse.

O ministro ainda afirmou que havia conversado com a empresa sobre as razões para cortar a verba da empresa e negou que eventual tentativa de moderar o discurso tenha feito o governo voltar a direcionar anúncios ao grupo.

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