O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, não está disposto a suspender todo o pacote de tarifas de retaliação do Canadá se o presidente dos EUA, Donald Trump, mantiver qualquer tarifa sobre produtos canadenses, de acordo com um alto funcionário do governo.
A gestão de Trudeau não está propensa à ideia de um "meio-termo" para um acordo na guerra comercial como sugerido pelo secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick.
Em particular, qualquer cenário em que o Canadá tenha que abandonar as tarifas retaliatórias em troca de uma redução parcial das tarifas dos EUA será rejeitado pelo premiê canadense, disse o funcionário, falando sob a condição de anonimato.
O funcionário não comentou se o Canadá reduziria algumas de suas medidas de retaliação caso Trump recue em pelo menos algumas tarifas dos EUA. Trudeau e Trump devem se reunir nesta quarta-feira.
A administração Trump impôs tarifas de 25% sobre todas as importações canadenses para os EUA na terça-feira, com exceção de produtos energéticos como petróleo e gás natural, que têm uma taxa de 10%. O governo de Trudeau respondeu com tarifas sobre 30 bilhões de dólares canadenses (US$ 20,8 bilhões) em produtos dos EUA, incluindo cosméticos, pneus, frutas e vinho.
Caso as medidas dos EUA não sejam encerradas em três semanas, o Canadá promete expandir as tarifas para mais 125 bilhões de dólares canadenses (US$ 86,77 bilhões) em até 21 dias em itens importados dos EUA. A segunda fase inclui uma vasta gama de categorias —incluindo carros, caminhões, alumínio e uma longa lista de produtos alimentícios e agrícolas.
Nesta quarta-feira, Lutnick disse à Bloomberg TV que Trump está considerando alívio tarifário para setores específicos, possivelmente um deles seria o automotivo.
"Vão haver tarifas —vamos ser claros— mas o que ele está pensando é em quais seções do mercado ele talvez considere dar alívio até chegarmos, claro, a 2 de abril", disse Lutnick. "Acho que vai ficar em algum lugar no meio."
Lutnick afirmou que as ações dos EUA não são uma guerra comercial, mas uma "guerra contra as drogas" destinada a conter o fluxo de fentanil para os EUA e reduzir a taxa de mortes por overdose do país.
Mas Trudeau rejeitou essa premissa, apontando para estatísticas da agência de fronteira dos EUA que mostram quantidades muito pequenas da droga encontradas por agentes na fronteira Canadá-EUA ou perto dela.
Em dezembro, autoridades canadenses anunciaram 1,3 bilhão de dólares canadenses em novas medidas de vigilância e segurança de fronteira, e Trudeau, desde então, aumentou o valor, destinando a quantia para o policiamento do crime organizado e nomeando um veterano policial como "czar do fentanil" do país.
"A desculpa que ele está dando para essas tarifas atuais de fentanil é completamente falsa, completamente injustificada, completamente errada", disse Trudeau na terça-feira.
O que ele quer é ver um colapso total da economia canadense porque isso tornará mais fácil nos anexar
Trudeau disse que as tarifas de Trump levarão a uma dor significativa para os próprios residentes do presidente.
"Ele rapidamente vai descobrir, assim como as famílias americanas vão descobrir, que isso vai prejudicar pessoas de ambos os lados da fronteira", disse o premiê. "Os americanos vão perder empregos, os americanos vão pagar mais por mantimentos, por gasolina, por carros, por casas."
O ministro da Energia do Canadá, Jonathan Wilkinson, apontou que as ações de Trump danificaram permanentemente o relacionamento entre os dois países, que têm uma longa história de parceria profunda.
"Mesmo que as tarifas sejam retiradas, nunca voltaremos ao que éramos três meses atrás", comentou Wilkinson. "Nunca mais confiaremos nos americanos da mesma forma que confiávamos."