No episódio mais recente do podcast Frequência Política, o governo federal foi tema central de debate ao apresentar um novo pacote de medidas econômicas voltadas a um público historicamente mais difícil de alcançar: a classe média. Conduzido por Paulo Gama, o episódio marcou a estreia da jornalista Bárbara Baião na equipe, que agora reforça o time ao lado do estrategista Vítor Scaletti e dos analistas Bianca Lima e João Paulo Machado, diretamente de Brasília.
Entre as principais ações está a criação da Faixa 4 do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, que atenderá famílias com renda mensal de até R$ 12 mil. A proposta permitirá o financiamento de imóveis de até R$ 500 mil e será submetida à votação no Conselho Curador do FGTS em 15 de abril — mesma data em que o governo enviará a proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) ao Congresso Nacional.
A expectativa é que a medida movimente até R$ 30 bilhões em 2025. Desse total, R$ 15 bilhões viriam do FGTS, com realocação de recursos da Faixa 3 (destinada a famílias com renda de até R$ 8 mil), e outros R$ 15 bilhões seriam disponibilizados pela Caixa Econômica Federal, com funding próprio obtido via poupança e letras de crédito imobiliário. A iniciativa já conta com decreto presidencial que autoriza o uso do Fundo Social do pré-sal.
Governo estuda ajustes nos critérios de renda
Além da nova faixa, o governo estuda ajustes nos critérios de renda das Faixas 1, 2 e 3, ampliando o alcance do Minha Casa, Minha Vida. Outro ponto em análise é a criação de uma linha de crédito para pequenas reformas residenciais — apelidada pelo presidente Lula de “crédito para puxadinhos” — com recursos de R$ 3 bilhões remanescentes dos R$ 18 bilhões já autorizados pelo Fundo Social. As iniciativas visam dinamizar o setor da construção civil, reconhecido por sua capacidade de gerar empregos e estimular a economia.
No campo tributário, a proposta de reforma do Imposto de Renda segue parada na Câmara dos Deputados. O texto prevê a correção da tabela para aliviar a carga sobre a classe média, mas a comissão especial que analisará a matéria ainda não foi oficialmente instalada. Arthur Lira (PP-AL) será o relator, e Rubens Pereira Júnior (PT-MA), o presidente da comissão. A definição dos demais membros, contudo, está travada por disputas internas entre os partidos, especialmente no União Brasil, o que pode afetar o ritmo da tramitação.
Do ponto de vista macroeconômico, os estímulos ao consumo levantam dúvidas sobre seus efeitos na inflação. Com a Selic ainda em patamar elevado, o Banco Central pode enfrentar dificuldades para manter sua estratégia de desinflação. Segundo Vítor Scaletti, há revisões nas estimativas de crescimento do PIB para 2025, que podem subir de 2% para até 2,5%, puxadas por investimentos públicos e pelo novo pacote habitacional. O desafio será conter a inflação em um ambiente global de incertezas e, ao mesmo tempo, sustentar o crescimento.
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Agenda econômica em capital eleitoral
Politicamente, o governo tenta transformar a agenda econômica em capital eleitoral. O plano é atrair a classe média com um conjunto de medidas que combinam acesso à moradia, crédito para consumo e revisão da carga tributária. Ainda assim, os analistas do Frequência Política ponderam que a efetividade desse movimento depende tanto da implementação quanto da narrativa que o governo conseguirá construir para se aproximar de um eleitorado mais exigente.
Para seguir acompanhando os bastidores da política e da economia com análises diretas de Brasília, os próximos episódios do Frequência Política já estão disponíveis nas principais plataformas de áudio.