As fundações de previdência privada brasileira pedem maior segurança jurídica para voltar a investir em FIPs (Fundos de Investimentos em Participações), aplicações que geraram grandes prejuízos e autuações de executivos nas primeiras gestões petistas.
Em entrevista coletiva nesta quarta (7), presidentes de quatro das maiores instituições do país disseram avaliar também que a Bolsa brasileira está barata, mas esperam redução das incertezas para voltar ao mercado de capital.
As avaliações são das fundações Previ, Petros, Funcef e Valia, que gerem os fundos de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, Petrobras, Caixa Econômica Federal e Vale, respectivamente. Juntas, têm um patrimônio de cerca de R$ 530 bilhões.
São veículos considerados fundamentais pelo governo para garantir investimento de longo prazo no Brasil. Mas passaram os últimos anos concentrados em "imunizar" seus fundos mais antigos, com foco na aquisição de títulos públicos.
Agora, avaliam que têm recursos para investir em projetos de infraestrutura ou em empresas, mas querem maior segurança antes de definir a alocação de recursos.
"Sabemos que, em um cenário de queda de juros, a rentabilidade da renda fixa pode não ser suficiente para garantir o pagamento de benefícios no futuro", disse o presidente da Previ, João Fukunaga, em evento patrocinado pela instituição no Rio de Janeiro.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
"Por isso precisamos ter um olhar mais abrangente e considerar, sim, a diversificação do nosso investimento."
Os FIPs foram um veículo muito usado pelas fundações nas primeiras gestões petistas para alavancar projetos de interesse do governo, como a natimorta empresa de sondas Sete Brasil e a expansão do grupo J&F, dos irmãos Batista.
Foram também alvos de investigações da Polícia Federal, como a Operação Greenfield, que recaiu sobre gestores das fundações e acabou levando à vedação de investimentos nesse tipo de produto nos anos seguintes.
"Nesse momento há FIPs com rentabilidade muito boa", disse o presidente da Petros, Henrique Jäger. "Mas não há um ambiente jurídico seguro." Depois de um hiato, a instituição chegou a autorizar o aporte em até quatro FIPs neste ano, mas as operações não devem ser concretizadas.
As fundações avaliam que a legislação atual tende a punir mais seus próprios executivos do que os administradores das FIPs em caso de prejuízos. E defendem que são investimentos de risco, com possibilidades tanto de ganhos quanto de perdas.
"Em geral, aposta-se no crescimento de uma empresa não listada em Bolsa, em um projeto 'greenfield' [que parte do zero]. É um risco maior", afirmou o presidente da Valia, Edécio Brasil.
Os executivos veem no mercado de ações outra opção para diversificação dos investimentos. Avaliam que os ativos brasileiros estão baratos, mas ainda esperam sinais de uma nova tendência de alta.
"Quando analisamos as tendências de longo prazo, as perspectivas são boas. As empresas no Brasil estão muito baratas", disse Brasil, completando que qualquer mudança favorável no cenário internacional, como queda dos juros dos Estados Unidos, pode alavancar a Bolsa.
"A ideia é voltar [à Bolsa], mas depende do momento", concordou o presidente da Petros.
As fundações obtiveram vitória recente na Câmara dos Deputados durante processo de regulamentação da reforma tributária, que isentou os planos privados de previdência do novo IVA. Agora iniciam negociações para manter a isenção no Senado.
Em outra frente, negociam com os reguladores do setor mudanças no modelo de equacionamento de déficits, que gerou grave crise com aposentados após a recessão iniciada no fim do governo Dilma Rousseff.
Petros e Funcef, por exemplo, têm três planos de equacionamento em vigor, com seus beneficiários pagando grandes parcelas mensais para cobrir os rombos de anos anteriores, também provocados por prejuízos em investimentos em FIPs.
Eles alegam que as regras atuais levam a equacionamentos anuais e até desnecessários, já que os déficits podem ser revertidos nos anos seguintes. A cobertura imediata do rombo, assim, representaria transferência de dinheiro de aposentados atuais para futuros aposentados.