Freguesia do Ó sobe arranha-céus e aguarda inauguração do novo metrô em SP

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Mostrar-se íntimo da periferia paulistana virou um ativo nestas eleições, mas só mesmo um Tarcísio de Freitas diria que a Freguesia do Ó hoje é "quebrada". Gil não vale: as demandas artísticas são bem outras —e o punk efetivamente nasceu ali ao lado, no Limão.

Seja como for, a Freguesia nunca esteve tão "on". As três futuras estações da linha 6 - Laranja do metrô compreendidas em seu distrito e as muitas áreas verticalizáveis fazem incorporadores crescerem os olhos para a região.

E ela é grande, limitada ao sul pela Marginal Tietê e a norte pela Brasilândia. Seu centro histórico, o Largo da Matriz onde está fincada a igreja de Nossa Senhora do Ó, não coincide com o geográfico, mas isso é de somenos: lançamentos se espraiam pela freguesia –aqui com minúscula mesmo, como sinônimo da palavra mais contemporânea "bairro".

Comecemos pelo sul: na um dia sombria rua da Balsa, paralela da marginal quase na altura da ponte do Piqueri, surgiu um complexo da Helbor, quatro torres residenciais com cem apês cada e um "mall", o Patteo São Paulo, tudo isso em terreno de 18 mil m². O lançamento é de 2021, mas ainda restam 15% das unidades de dois e três dormitórios.

Segundo Marcelo Bonanata, diretor de vendas da incorporadora, a Freguesia "vai explodir" e terá "grande impulsionamento" à medida que as obras do metrô avançarem. A previsão atual é que o trecho na zona norte da Linha 6 esteja a operar em 2026, algo eleitoralmente bastante desejável. A Helbor não tem outras áreas no distrito, o que pode parecer um contrassenso, mas Bonanata explica que a empresa já dispõe de um "grande landbank" (banco de terrenos) na região metropolitana de São Paulo.

A partir dos dados de cobrança de ITBI na Freguesia do Ó, a startup imobiliária Loft notou aumento relevante em 2024, de 41,1%, da venda de apartamentos de até 90 m² de área total, considerados pequenos. Imóveis maiores tiveram queda percentual de comercialização no período (a comparação é de janeiro a julho deste ano com igual período de 2023).

A Kazas, linha popular do Grupo Kallas, tem produtos distintos na Freguesia, e todos estão abaixo dessa baliza dos 90 m². Eles são de "famílias" diferentes, mas têm em comum a altura dos prédios, de 24, 28 e 29 andares, suficientes para determinar outro patamar de skyline para a região.

O Vision, que será entregue em janeiro de 2025, compilou em duas torres 395 unidades de 36 m² a 42 m². Os preços ficam entre R$ 264 mil e R$ 350 mil. Nas imagens promocionais, destaque para features como bicicletário, coworking, fitness externo e seção de delivery.

O Fábula, com 336 unidades em torre única, tem apês de 42 m² e 45 m² a partir de R$ 380 mil. Todos fazem jus a vaga de garagem, um diferencial para esse tipo de produto.

Gil Vasconcelos, diretora de incorporação do Grupo Kallas, também vê a região com otimismo, sinônimo explícito, no caso, para "metrô". "A barreira da Marginal foi vencida", diz, em referência a uma certa cisma do mercado –e talvez do comprador– com esse limite geográfico da cidade, a norte do rio Tietê.

Para os apreciadores dos bares de cervejas hoje chamadas de especiais, e que tanto embalam o imaginário de bairros como Santa Cecília e Pinheiros, a barreira da Marginal caiu faz uma data. O Frangó, considerado pelo público o melhor bar de cerveja de São Paulo de 2024, de acordo com a pesquisa Datafolha para a revista O Melhor de São Paulo, desde os anos 1990 apresenta cervejas especiais a quem mal ouviu falar de Lei da Pureza, de uma pilsen irretocável como a velha Urquell a uma belga de abadia em garrafa com rolha, como a Corsendonk.

Sem contar a própria lager Frangó, feita pela piracicabana Dama, a partir do uso de três lúpulos distintos.

Outra atração do local é a coxinha com Catupiry, citada pelo cantor Lulu Santos como um dos dois desejos que o publicitário Washington Olivetto pretendia saciar logo após ser libertado do sequestro (o outro era ir a um show do próprio Lulu). Com a unidade vendida a R$ 10,80 e uma porção por R$ 58, fez sucesso pela cidade e passou a ser replicada por alguns concorrentes.

Norberto de Oliveira Neto, um dos sócios do Frangó, falou à Folha que a pandemia deixou marcas, e foi preciso reduzir o número de funcionários e de rótulos de cervejas. Mas ele também vê sinais positivos à volta, como uma certa ressurreição da octogenária pizzaria Bruno, também no Largo da Matriz, agora tocada pela terceira geração da família fundadora.

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