Fraude no seguro: golpistas usam IA para fingir problemas com o carro

há 1 semana 2

A hipótese não é absurda - e já está no radar das maiores seguradoras. A possibilidade de alguém gerar uma imagem falsa de sinistro e tentar usá-la para receber uma indenização é real. Mas não é exatamente nova.

"No começo, quando as avaliações passaram a ser online, a gente sofreu mais, porque nossos sistemas eram mais simples. Pegavam uma imagem da internet e fotografavam a tela. No início, nossas soluções não identificavam isso e achavam que era um carro de fato", conta Jaime Soares, presidente da Comissão de Seguro Auto da Fenseg (Federação Nacional de Seguros Gerais).

De prints a miniaturas

Segundo Soares, ao longo do tempo o setor desenvolveu tecnologias capazes de detectar esse tipo de manipulação. "Hoje, conseguimos pegar a maior parte dessas falsificações", explica. "Temos casos em que um cliente pegou um carrinho em miniatura e tirou a foto como se fosse um veículo original."

Essas tentativas foram ficando cada vez mais criativas. Só que, paralelamente, os sistemas de vistoria também evoluíram. Hoje, boa parte das seguradoras opera com aplicativos próprios, nos quais o segurado envia fotos do veículo para comprovar o estado de conservação no momento da contratação ou após um sinistro.

E é justamente nesse processo que entra a inteligência artificial: ela analisa as imagens, identifica inconsistências e cruza informações como localização e ângulo das fotos com os dados previamente registrados.

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IA contra IA

Se antes bastava um truque visual ou uma edição amadora para burlar o sistema, hoje os algoritmos embarcados nos apps de seguradoras dificultam bastante a vida de quem tenta fraudar.

"Essas soluções são mais protegidas porque o app precisa estar no celular da pessoa, e ele verifica se está próximo da geolocalização do veículo. As fotos são tiradas ali mesmo, com a câmera do app, o que dificulta fraudes. Você não consegue simplesmente mandar uma imagem qualquer", explica Soares.

Além disso, as seguradoras utilizam algoritmos que detectam padrões específicos de imagem, como brilho anormal, distorções nas bordas ou ausência de metadados compatíveis com a câmera do celular. A IA também é treinada para identificar, por exemplo:

  • Imagens geradas ou manipuladas digitalmente, com danos irreais ou mal distribuídos;
  • Placas clonadas ou fotos de veículos que não coincidem com o cadastro do segurado;
  • Incompatibilidade entre o relato e o tipo de dano apresentado na imagem.

E tem mais: "Depois que a pessoa envia as fotos, a gente também desvia parte desses casos, de forma aleatória, para oficinas credenciadas, que vão checar se o carro está mesmo com aquele dano", acrescenta.

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A verdade é que a inteligência artificial ampliou o leque de possibilidades - tanto para quem tenta fraudar quanto para quem precisa se proteger. O que antes parecia golpe de filme agora pode ser feito com um celular e meia dúzia de comandos de texto.

Mas o mercado segurador não está parado. "A gente hoje está muito mais preparado do que no passado. Temos times de cientistas de dados aqui, sempre evoluindo, melhorando para entender novos tipos de fraude e comportamentos", afirma Soares.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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