Fósseis revelam a cabeça de inseto que chegava a 3 metros de comprimento

há 2 meses 3

Durante o Período Carbonífero, os níveis de oxigênio atmosférico da Terra aumentaram, ajudando algumas plantas e animais a atingirem proporções gigantescas. Um exemplo notável foi o Arthropleura, o maior inseto já conhecido, com até 3,2 metros de comprimento, e que habitava o que hoje é a América do Norte e a Europa.

Embora seus fósseis sejam conhecidos desde 1854, existia uma grande lacuna na compreensão dessa criatura porque nenhum dos restos tinha uma cabeça bem preservada.

A descoberta na França de dois fósseis de Arthropleura com cabeças intactas agora corrigiu isso, fornecendo os detalhes anatômicos necessários para os cientistas classificá-lo como um enorme milípede primitivo e determinar que não era um predador, mas sim um comedor de plantas.

Os exemplares, desenterrados em Montceau-les-Mines, são de indivíduos jovens, de cerca de 305 milhões de anos atrás. Na época, o local estava perto do equador, com um clima tropical e um ambiente pantanoso exuberante em vegetação. Enquanto o Arthropleura era o gigante desse ecossistema, os fósseis preservam jovens indivíduos com apenas quatro centímetros de comprimento.

Os fósseis mostraram que a cabeça do Arthropleura era aproximadamente circular, com antenas finas, olhos pedunculados e mandíbulas fixadas sob ela. Arthropleura tinha dois conjuntos de apêndices alimentares, o primeiro curto e redondo, e o segundo alongado e semelhante a pernas.

Os espécimes reuniam 24 segmentos corporais e 44 pares de pernas. Com base em suas peças bucais e um corpo construído para locomoção lenta, os pesquisadores concluíram que Arthropleura era um detritívoro como os milípedes modernos, alimentando-se de plantas em decomposição, em vez de um predador como os centopeias.

Ele poderia ter desempenhado o mesmo papel em seu ecossistema que os elefantes hoje ou grandes dinossauros como os saurópodes de pescoço longo no passado: "Um animal grande passando a maior parte do tempo comendo", segundo o paleontólogo Mickaël Lhéritier do Laboratório de Geologia de Lyon na Universidade Claude Bernard Lyon 1, na França. Ele é autor principal do estudo publicado nesta quarta-feira (9) na revista Science Advances.

"É um animal bastante majestoso, seu gigantismo lhe confere uma aura peculiar, como a aura das baleias ou elefantes", disse Lhéritier. "Adoro imaginá-lo como a 'vaca' do Carbonífero, comendo durante a maior parte do dia, mas, é claro, uma vaca com exoesqueleto e muitas pernas a mais."

Arthropleura era o maior artrópode terrestre conhecido, um grupo que inclui insetos, aranhas, piolhos-de-cobra, centopeias, lagostas e caranguejos.

A anatomia de sua cabeça forneceu evidências de que piolhos-de-cobra e centopeias estão mais intimamente relacionados do que se pensava.

"Essas características anatômicas são bastante marcantes porque, mesmo que o corpo de Arthropleura exiba características semelhantes às de piolhos-de-cobra —dois pares de pernas por segmento—, as características da cabeça são uma mistura de piolho-de-cobra e centopeia", afirmou Lhéritier.

As antenas do Arthropleura são semelhantes às de milípedes, com sete segmentos. A forma de seus apêndices alimentares e a posição das mandíbulas são semelhantes às de centopeias, embora a forma das mandíbulas seja semelhante à de milípedes.

Os olhos pedunculados, como os de um caranguejo, são marcantes porque nenhum membro vivo do grupo de artrópodes que inclui milípedes e centopeias —chamados de miriápodes— têm esse tipo de olho.

Com os novos fósseis, os pesquisadores conduziram uma análise combinando dados anatômicos e genéticos para centopeias e milípedes e chegaram à conclusão de que o Arthropleura é "um milípede ancestral.

"Mesmo que tivesse algumas partes bucais de centopeia, a anatomia de seu tronco parece indicar que não era carnívoro como as centopeias modernas, pois não possuía forcípulas —'presas' de centopeia— ou quaisquer apêndices construídos para caça. Ter dois pares de pernas por segmento, como os milípedes, afetou sua locomoção e significa que era um artrópode bastante lento," disse o pesquisador.

Outros exemplos de gigantismo de artrópodes do Carbonífero incluíam Meganeura, uma libélula do tamanho de uma águia, e Pulmonoscorpius, um escorpião com mais de um metro de comprimento.

"Há dois possíveis fatores para explicar isso: um pico de concentração de oxigênio na atmosfera durante o Carbonífero e a disponibilidade de recursos. Como os artrópodes colonizaram a terra antes dos vertebrados, tiveram acesso a novos recursos que favoreceram sua diversificação, e algumas espécies puderam atingir tamanhos gigantescos," explicou Lhéritier.

Leia o artigo completo