Força-tarefa interdita obra da BYD na Bahia e resgata 163 em trabalho análogo à escravidão

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Uma força-tarefa de órgãos federais afirmou ter identificado a presença de 163 operários trabalhando em condições análogas à escravidão em empresas terceirizadas que atuam nas obras de construção da fábrica da BYD (Build Your Dreams), montadora de carros elétricos chinesa, em Camaçari (50 km de Salvador).

O resultado parcial das inspeções foi apresentado nesta segunda-feira (23) pelo Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho e Emprego, Defensoria Pública da União, Polícia Rodoviária Federal, Ministério Público Federal e Polícia Federal.

Procurada, a BYD não havia respondido até a publicação desse texto.

Segundo a investigação, foi feito o resgate de 163 trabalhadores, todos chineses, que estavam trabalhando em condições degradantes, com jornadas extenuantes e restrições à liberdade. Todos os operários foram ouvidos individualmente, dizem os órgãos. Eles eram funcionários da empresa Jinjiang Group, uma das empreiteiras contratadas para realizar a obra, de acordo com a força-tarefa.

Também foi constatada superlotação nos alojamentos, que não tinham colchões, nem condições adequadas de higiene. Em um deles, havia um banheiro para 31 trabalhadores, aponta a fiscalização.

Alojamentos e trechos do canteiro de obras foram interditados. Além da BYD, foi notificada a empresa Jinjiang Group, uma das empreiteiras contratadas para realizar a obra.

Os operários também entraram no país de forma irregular, na avaliação dos auditores. Eles usavam vistos temporários de assistência técnica, voltados para trabalhadores especialistas. Ao menos 107 chineses tiveram seus passaportes retidos pela empresa e parte deles só podia sair dos alojamentos com autorização, segundo os auditores.

Reportagem da Agência Pública publicada em novembro revelou que trabalhadores chineses de empresas terceirizadas que atuam na construção da fábrica estariam sendo submetidos a rotinas de trabalho de até 12 horas por dia, sem folga semanal e sem equipamentos de proteção.

Em nota divulgada na época, a BYD afirmou que recebeu as imagens da denúncia com repúdio e determinou que os agressores fossem afastados e proibidos de ingressar na unidade. Também exigiu das empresas terceirizadas providências urgentes para garantir que tais situações não se repetissem.

A montadora lançou a pedra fundamental para construção da fábrica em outubro em 2023, em cerimônia com a presença de executivos da empresa, do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT) e do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).

A BYD assumiu o parque industrial que era da Ford, montadora norte-americana que atuou na Bahia entre 2001 e 2021. O complexo industrial será composto por três fábricas, com investimento previsto de R$ 5,5 bilhões e capacidade inicial de produção de 150 mil carros elétricos e híbridos por ano.

O procedimento de investigação foi instaurado pelo MPT a partir de uma denúncia anônima recebida no dia 30 de setembro. Uma inspeção foi realizada dia 11 de novembro na área onde a empresa está construindo sua linha de montagem.

A BYD informou, à época, que foram identificadas inconformidades em relação aos trabalhadores em Camaçari e que exigiu que as prestadoras responsáveis pelas obras agissem imediatamente. A empresa também afirmou que permanece comprometida em colaborar com o MPT e que reforçou a fiscalização da obra para assegurar o cumprimento da legislação e o respeito a todos os profissionais que nela atuam.

"A companhia opera há dez anos no Brasil, sempre seguindo rigorosamente as leis locais e mantendo o compromisso com a ética, respeito e a dignidade humana", disse a BYD.

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