Flip teve Édouard Louis em festa e Felipe Neto com segurança fortificada

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A Flip, festa literária que tomou as ruas de Paraty ao longo da última semana, teve um saldo positivo. Além de uma curadoria elogiada e da presença de figuras ilustres, a positividade se deu pela abordagem dos escritores e leitores acerca dos temas propostos nas mesas. Mudança climáticas, violência, racismo, ódio e guerras foram assuntos debatidos com uma notável esperança.

O professor Luiz Antonio Simas, que abriu a programação principal com uma aula sobre o homenageado João do Rio, ilustrou esse tom esperançoso ao reverberar que "o que espanta a miséria é a festa".

Um dos pontos altos da festa foi a presença do influenciador Felipe Neto, que reuniu um público adolescente em proporções inéditas na festa. Participante de uma das mesas principais, Neto disse estar na Flip para apresentar seu trabalho humildemente e que não foi seu número de seguidores que o levou até lá. Para estar presente, o autor contou com um esquema de segurança a nível de "A Filha do Presidente".

Carla Madeira, a autora de ficção mais vendida do Brasil em 2023, fechou a festa em mesa com Silvana Tavano e Mariana Salomão Carrara. As escritoras conversaram sobre invenção e linguagem na ficção.

A lista de mais vendidos da Flip 2024 tem João do Rio, seguido pelo francês Édouard Louis. "A Mais Recôndita Memória dos Homens", do senegalês Mohamed Mbougar Sarr, foi o segundo livro mais vendido, depois de "A Alma Encantadora das Ruas", do homenageado.

A Flip 2025 também terá a curadoria de Ana Lima Cecilio, que disse que "seria fantástico" trazer Paulo Coelho para a próxima edição do evento.


Acabou de Chegar

"As Vira-Latas" (trad. Silvia Massimini Felix, Bazar do Tempo, R$ 46, 96 págs.), da jornalista chilena Arelis Uribe, foi censurado em escolas de seu país por ser considerado "sexual demais" para adolescentes. A coletânea de contos tem cenas de sexo, que fazem parte das narrativas sobre meninas de bairros populares que descobrem, nas palavras da crítica Shisleni de Oliveira-Macedo, "muitas formas de amor e seus desencontros".

"Babado Forte" (Ubu, R$ 169,90, 464 págs.) é uma reedição da obra lançada pela jornalista Erika Palomino em 1999 e, segundo ela, 70% do conteúdo do livro novo é original. Ambas as edições constroem a cena das baladas de rua que depois migraram para galpões e prédios abandonados. O repórter João Perassolo destaca as manifestações culturais que aparecem na nova versão do livro, dentre elas a cultura do bate cabelo das drags e a festa Batekoo.

"Hollywood e o Mercado de Cinema no Brasil" (Letramento, R$ 69,90, 238 págs.) demonstra, com base em pesquisas do autor Pedro Butcher, que a hegemonia hollywoodiana se deve a inúmeros fatores que se sobrepõem à qualidade das produções cinematográficas. Para o crítico Inácio Araujo, o livro comprova a penetração do cinema dos EUA no Brasil, e uma hegemonia que começou com a abertura dos escritórios da Universal em 1915.


E mais

Han Kang é a primeira sul-coreana a vencer o Nobel de Literatura, o maior prêmio literário do mundo. Nascida em Gwanju e criada em Seul, a autora tem três livros publicados no Brasil pela Todavia, "A Vegetariana" (2018), "Atos Humanos" (2021) e "O Livro Branco" (2023). Para a escritora e editora Laura Erber, a vitória de Kang personifica uma nova realidade, na qual o imaginário afetivo e crítico da Ásia encontra espaço fértil para se disseminar nos livros, na música pop e no cinema.

A Feira de Frankfurt, maior evento literário do mundo, começou na última terça. A feira reúne autores estrelados como Elif Shafak, Atef Abu Saif, Roberto Saviano, Yuval Noah Harari e Julia Quinn. Com o embalo da vencedora do Nobel e um palco para escritores e temáticas asiáticas, o evento indica um olhar que tende a sair do eurocêntrico, como aponta Walter Porto.


Além dos Livros

O francês Édouard Louis protagonizou uma das melhores mesas da história da Flip, segundo o jornalista Maurício Meireles. Diante de uma plateia lotada, Louis falou sobre o processo de fuga de suas origens, tema principal de sua obra literária de não-ficção. Antes de subir no palco, o autor conversou com a colunista Tati Bernardi, e lhe contou que vê a literatura como "um contra-ataque".

Louis não marcou presença apenas no palco principal da Flip, mas também nas ruas de Paraty. Solto pelo centro histórico da cidade, o francês de 31 anos se tornou uma grande sensação das ruas —dançou, bebeu, tirou selfies e conversou com outras personalidades literárias.

Outro autor internacional que se destacou na festa foi o senegalês Mohamed Mbougar Sarr, que teve uma agenda agitada ao longo do evento. Na quinta-feira esteve na casa de Chico Buarque no Rio de Janeiro, onde tomaram café e depois jogaram futebol com Gregorio Duvivier e Antônio Pitanga. No sábado, o autor de "A Mais Recôndita Memória dos Homens" dividiu o palco principal da Flip com Jeferson Tenório e no domingo fechou a programação da Casa Folha em conversa com o jornalista Walter Porto.

Além de Sarr, a Casa Folha também recebeu outros nomes de peso como Ruy Castro, Vera Iaconelli, Christian Dunker e Txai Suruí, e também promoveu encontros diversos.

Sérgio Rodrigues e Marcelo Viana realizaram a reunião do português com a matemática, Anna Virginia Ballousier e Bruna Maia foram contrapontos em conversa sobre sagrado e profano, Francesca Angiolillo e Raquel Cozer compartilharam suas experiências na escrita de biografias, Tayguara Ribeiro e Marina Lourenço contaram do processo de produção da série de reportagens "Quilombos do Brasil", e Celso Rocha de Barros e Marcus André Melo concordaram que o 8 de janeiro foi uma ameaça à democracia.

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