Fim de trabalho remoto na Amazon vai na contramão de maioria das big techs

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O CEO da Amazon, Andy Jassy, enfrentou pouco conflito desde que ordenou que os funcionários voltassem ao escritório três dias por semana em maio do ano passado.

"Se você não pode discordar e se comprometer, provavelmente não vai funcionar para você," ele disse em agosto de 2023 aos que continuaram reclamando da mudança. A fala também ignorava uma paralisação anterior organizada por centenas de funcionários descontentes na sede da empresa em Seattle.

Esta semana, a Amazon reforçou sua posição. Mais de 300 mil de seus funcionários corporativos ao redor do mundo foram informados de que devem retornar à tradicional semana de cinco dias a partir do início de 2025, uma das políticas de retorno ao escritório mais rigorosas entre os grandes grupos de tecnologia.

"Antes da pandemia, não era garantido que as pessoas pudessem trabalhar remotamente dois dias por semana, e isso também será verdade daqui para frente," Jassy escreveu em um memorando para os funcionários na segunda-feira (16). "As vantagens de estarmos juntos no escritório são significativas. Você precisa estar junto com seus colegas de equipe ao inventar e resolver problemas difíceis."

Jassy —que está na Amazon desde 1997 e substituiu o fundador Jeff Bezos como diretor executivo em 2021— tornou-se o símbolo de um número crescente de executivos que defendem o retorno completo ao escritório, incluindo Jamie Dimon, do JPMorgan Chase, e Elon Musk, da Tesla.

Embora a postura da Amazon seja menos severa do que a de Musk —que disse aos funcionários da Tesla em 2022 que, se não estivessem no escritório pelo menos 40 horas por semana, poderiam "fingir trabalhar em outro lugar"— a política coloca a Amazon em desacordo com a maioria de seus rivais.

Apenas 3% das empresas de tecnologia com mais de 25 mil funcionários estão de volta aos cinco dias presenciais, de acordo com a empresa Flex Index, que analisou as políticas de 2.670 empresas. Quase três quartos seguem um padrão híbrido estruturado e 23% oferecem termos totalmente flexíveis.

Apple, Alphabet, Meta e Microsoft estão entre as que, pelo menos por enquanto, adotaram um padrão de trabalho híbrido. Ainda assim, até políticas mais lenientes passaram por várias revisões e enfrentaram resistência persistente dos funcionários.

Em 2020, Mark Zuckerberg disse que a Meta se tornaria "a empresa mais avançada em trabalho remoto". No ano passado, ele chamou quase todos os 70 mil funcionários de volta ao escritório pelo menos três dias por semana.

O chefe de recursos humanos do Google disse aos funcionários em junho do ano passado que o trabalho remoto completo seria permitido "apenas por exceção". A frequência ao escritório seria monitorada por meio dos crachás dos funcionários e também impactaria avaliações de desempenho e promoções.

A Apple também acrescentou gradualmente a obrigatoriedade de mais dias presenciais ao longo de 2022, começando com apenas um em março e aumentando para três em agosto, apesar da resistência de alguns de seus 160 mil trabalhadores.

Até mesmo o Zoom, cujo software facilitou grande parte do boom inicial do trabalho remoto durante a pandemia, disse em agosto do ano passado que qualquer funcionário que morasse a menos de 80 quilômetros de um escritório seria obrigado a comparecer pelo menos dois dias por semana.

Outros grupos de tecnologia, como Netflix e Nvidia, ainda não emitiram um mandato universal fixo para a presença no escritório.

Quando o experimento rigoroso da Amazon começar em janeiro, o processo será acompanhado de perto por outros líderes. Em 2023, Jassy disse que "dezenas" de outros diretores executivos com quem ele conversou sentiam o mesmo sobre o trabalho remoto e "praticamente todos" queriam os funcionários de volta ao trabalho presencial em tempo integral.

O diretor executivo da T-Mobile, Mike Sievert, incentivou empresas rivais a levarem seus funcionários de volta ao escritório. No entanto, muitos ainda estão cautelosos e veem a modalidade híbrida como uma vantagem na contratação de jovens talentos em engenharia e programação e de candidatos de origens mais diversas, que costumam priorizar a flexibilidade.

Prithwiraj Choudhury, professor da Harvard Business School, afirma que "qualquer empresa que forçar uma política de retorno ao escritório perderá uma parte dos melhores funcionários, porque aqueles que desempenham melhor sempre têm opções externas."

Pesquisas da Universidade da Pensilvânia descobriram que posições remotas em grupos de tecnologia atraíram 15% mais candidatas mulheres e 33% mais candidatos de minorias sub-representadas no setor.

Apesar disso, há pouca perspectiva de a Amazon voltar atrás. Jassy colocou a política no centro das medidas projetadas para reviver a cultura notoriamente exigente da Amazon, imposta nos primeiros anos por Bezos.

Agora, os executivos estão preocupados por acharem que o caráter de start-up da empresa pode ter sido tomado por burocracias, à medida que a empresa alcançou 1,5 milhão de funcionários e expandiu seus negócios de comércio eletrônico para computação em nuvem, saúde e carros autônomos.

Folha Mercado

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Jassy, no entanto, afirmou no memorando desta semana que "à medida que crescemos, também adicionamos mais camadas. Isso criou artefatos que gostaríamos de mudar —por exemplo, pré-reuniões para as pré-reuniões das reuniões de decisão— que criam sobrecarga e desperdiçam tempo valioso".

A Amazon mostrou que está disposta a impor as regras. Após a introdução do mandato de três dias em 2023, a empresa monitorou a frequência dos funcionários por meio dos crachás de identificação e enviou e-mails de repreensão àqueles que não cumpriam os requisitos mínimos, relatou o Financial Times na época.

Um corte de gerentes intermediários também está planejado. Até 7.000 pessoas podem ser demitidas para economizar US$ 700 milhões (R$ 3,8 bi) anualmente, sugerem as estimativas do analista do Bank of America, Justin Post, além dos 27 mil funcionários que a Amazon disse que demitiria no ano passado para cortar custos e reformular operações corporativas.

Nicholas Bloom, professor de economia da Universidade Stanford, diz que a mudança da Amazon pode ser apoiada, em parte, por pesquisas da Stanford Business School que mostraram que os trabalhadores eram mais inovadores e criativos em reuniões presenciais, embora ele tenha observado que "isso não significa que você tenha que ir todos os dias".

A mesma pesquisa também descobriu que o trabalho híbrido não é menos produtivo do que o trabalho totalmente presencial —embora o trabalho totalmente remoto estivesse ligado a uma queda de produtividade de cerca de 10%.

Executivos que querem os funcionários de volta foram encorajados por um mercado de trabalho mais restrito à medida que o boom de contratações pós-pandemia diminui, o que devolveu o poder aos empregadores. Empresas de tecnologia cortaram 263 mil empregos em 2023 e dezenas de milhares este ano.

Se bem-sucedida, a atitude da Amazon pode se espalhar amplamente. "Ainda não estabelecemos normas de trabalho pós-covid. Sempre que uma empresa de alto perfil toma uma decisão como essa, isso provoca discussões semelhantes em outras organizações também", disse David D’Souza, diretor no órgão profissional de recursos humanos do Reino Unido.

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