Por
Marcelo Jabulas
Publicado em 27/08/2024 às 10h05
Atualizado em 27/08/2024 às 10h50
O motor turbo se tornou algo comum nos hatches compactos nos dias de hoje. Volkswagen Polo, Chevrolet Onix, Hyundai HB20, Peugeot 208 e até mesmo o Citroën C3 contam com opções turbinadas. Mas há 30 anos era bem diferente e o turbo de fábrica era algo relegado a esportivos importados e ao Fiat Uno Turbo.
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Quando a Volkswagen lançou o Gol GTI, com sua injeção eletrônica Bosh, ela elevou o sarrafo da indústria brasileira. Todas foram atrás e aboliram os carburadores. Mas em 1994 a Fiat resolveu importar o motor Sevel 1.4 da Itália e “futucar” com uma turbina de 0,8 BAR de pressão.
Assim nascia o Uno Turbo, o primeiro carro turbinado de fábrica do Brasil. Na época, o motor rendia consideráveis 118 cv e 17,5 kgfm de torque. Pode parecer pouco nos dias de hoje, afinal do Turbo 200 1.0 fabricado no Complexo Industrial da Stellantis em Betim (a fábrica da Fiat) entrega 130 cv e 20,4 kgfm de torque.
Mas é preciso reconhecer que de lá para cá os processos de fabricação se tornaram mais sofisticados e mais precisos, graças à montagem robotizada. No entanto, fato é que o Uno Turbo foi um divisor de águas.
Diferentemente do Gol GTI que viu sua injeção ser distribuída e modernizada ao longo dos anos. A turbina do Uno só se popularizou nos últimos 5 anos. Assim, o modelo se tornou uma espécie de ícone e consequentemente peça de coleção.
Fabricado entre 1994 e 1996, a tiragem do Uno Turbo não foi grande. Assim, quem tem um Uno Turbo preservado tem uma pequena fortuna estacionada na garagem. Segundo a Fipe, os valores de tabela variam entre R$ 21 mil e R$ 27 mil.
No entanto, as poucas unidades anunciadas nos classificados online não custam menos de R$ 80 mil. E se estiver impecável, o anúncio pode chegar a nada menos que R$ 115 mil.
Mas o que o Uno Turbo tem para merecer tanto dinheiro? A começar pela raridade. Poucos carros foram montados e poucos ainda estão de pé após 30 anos.
Além disso, o Uno Turbo tinha visual único, com belos para-choques, com saias integradas, charmosos faróis de neblina, assim como grade exclusiva e detalhes que deixavam o carrinho simplesmente lindo.
Por dentro, bancos revestidos em camurça, quadro de instrumentos completo (isso mesmo, nos anos 1990 conta-giros era artigo de luxo e tinha marca que vendia como opcional) com direito a manômetro.
Motor do Uno Turbo
Mas a cereja do bolo era o motor Sevel 1.4 com seus 118 cv a 5.750 rpm e todos os 17,5 kgfm de torque disponíveis a razoáveis 3.500 giros. Números que, somados ao baixo peso de 975 kg, garantem aceleração de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos e máxima de 195 km/h.
Segundo os dados informados pela Fiat na época de seu lançamento, o consumo do Uno Turbo, abastecido somente com gasolina, era de 9,0 km/l no trajeto urbano. Na estrada era divulgado 12,0 km/l. O problema era aliviar o pé para atingir tais médias.
Já o conjunto de suspensão foi apenas recalibrado, mas manteve o sistema McPherson nos eixos dianteiro e traseiro, assim como freios a disco apenas nas rodas dianteiras. No eixo posterior eram os convencionais tambores.
Legado do Uno Turbo
Assim, 30 anos depois, o Uno Turbo serviu de guia para uma geração de hatches compactos turbinados. Curiosamente, a Fiat, que fabrica motores Turbo 200 e Turbo 270 em Betim, ainda não decidiu equipar seu hatch com eles.
A Fiat até criou uma edição conceitual do Argo, batizada de Sting, para o Salão do Automóvel de 2017. No entanto, o estudo estava mais focado em mostrar acessórios Mopar que propriamente uma versão esportiva, já que era derivado da versão HTG (com motor 1.8 E.torq). Afinal, naquela época ne mesmo a fábrica de motores de Betim estava pronta.
Segundo executivos da marca, o Argo Turbo entrou nas pautas e foi cogitado várias vezes. Mas “mercadologicamente não fazia sentido, diferentemente da Strada que tinha espaço para ser reposicionada”, explicou nossa fonte. “Acho que chegaram a montar, mas nunca vi”, confidencia. Ou seja, ficaria caro demais para produzir e vender.
Além da Strada, o motor turbo 1.0 também está presente em Pulse e Fastback, assim como C3 Aircross, C3, Peugeot 2008 e 208, além do do futuro Basalt. O Argo também merece um turbo, nem que seja para prestar homenagem ao pai de todos os hatches turbinados.
Afinal, se a questão é preço, os Uninhos anunciados por R$ 115 mil deixaram claro que existe mercado, mesmo que seja para uma tiragem modesta. No entanto, em uma conversa informal com um ex-funcionário, lá por volta de 2020, foi dito que a Stellantis iria dar prioridade nos modelos franceses, o que já aconteceu. Será que chegou a vez do Argo Turbo? Você compraria?
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