Festivais literários crescem cada vez mais no Brasil

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De Araxá a Petrópolis, de Pomerode a Cachoeira, no Recôncavo Baiano, "a cena dos festivais dissemina cada vez mais eventos pelo Brasil", aponta o editor Walter Porto, que acompanha a programação da Flup, a Festa Literária das Periferias.

A programação desta edição do festival, que acontece desde 2012 no Rio de Janeiro, celebra Beatriz Nascimento, em meio a um ressurgimento da autora. Nascimento defendia a escrita da "história por mãos negras" e, em sua homenagem, o programa é composto em grande maioria por convidadas negras.

O primeiro dia de evento foi, no mínimo, surpreendente. Com diversas ausências por variados motivos, substitutas de peso acabaram subindo ao palco da Flup. Benedita da Silva, atual deputada pelo PT do Rio, participou de debate no lugar da ministra Anielle Franco. Depois de participar de uma mesa em que defendeu a "urgência de liberdade" para mulheres negras, Benedita recebeu um prêmio criado em nome de Écio Salles, fundador da Festa.

Afua Hirsch, escritora britânica, Audrey Pulvar, jornalista francesa e vice-prefeita de Paris, e Josephine Apraku, pessoa não binária da Alemanha que pesquisa estudos africanos, formaram uma mesa que não deixou a desejar em uma "conversa transatlântica".


Acabou de Chegar

"Querido Babaca" (trad. Marcela Vieira, Fósforo, R$ 89,90, 280 págs., R$ 62,90, ebook) é o novo livro de Virginie Despentes em que uma atriz veterana e um homem acusado de assédio criam uma amizade por mensagens online. Segundo a jornalista Adriana Abujamra, a obra indica que é possível enxergar o outro e criar laços, sem dogmatismo. Já para a repórter Carolina Moraes, o livro é uma "resposta inesperada às violências a que mulheres são submetidas".

"De Quatro" (trad. Bruna Beber, Amarcord, R$ 89,90, 322 págs., R$ 39,90, ebook), segundo a crítica de Ligia Gonçalves Diniz, inaugura um gênero indispensável: o romance estrogênico. Em meio a tantos livros testosterônicos, Miranda July narra a menopausa, e a fase maluca que a precede, com graça e sem pudor.


"Vidas de Meninas e Mulheres" (trad. Pedro Sette-Câmara, Biblioteca Azul, R$ 89,90, 336 págs., R$ 49,90, ebook) é o único romance de Alice Munro, a Nobel que morreu em maio. No centro da narrativa de "olhar agudo e estilo límpido", como escreve a crítica Luisa Destri, está Del, que relembra sua infância durante a Segunda Guerra Mundial. Grande temas da vida são vistos, ao mesmo tempo, pelo olhar da criança que vive o fato e da adulta que o recorda.


E mais

Rui Tavares, historiador português, político e colunista da Folha, lançou "Agora, Agora e Mais Agora" (Tinta da China Brasil, R$ 249,90, 536 págs.), adaptação de seu podcast homônimo que percorre mil anos de história global a fim de olhar para dilemas do passado e colocar em perspectiva os dilemas atuais. Em entrevista a Reinaldo José Lopes, o autor destacou a relevância de grandes pensadores muçulmanos do passado, que ele acredita terem sido injustamente esquecidos.

Em "Laboratório Palestina" (trad. Gabriel Rocha Gaspar, Elefante, R$ 70, 356 págs.), o autor judeu Antony Loewenstein afirma que empresas de tecnologia bélica testam produtos em palestinos. Para a repórter Clara Balbi, uma cena do livro resume a tese do escritor. Nela, é contado que, no maior evento da indústria aeroespacial do mundo, uma gravação de um drone de ataque israelense foi usada como vídeo promocional.

Com a publicação dos diários de Getúlio Vargas, em 1995, foi tornado público o caso extraconjugal do então presidente com Aimée Sotto Maior de Sá, esposa do chefe de gabinete de Getúlio. Delmo Moreira, autor de "A Bem-Amada - Aimée de Heeren, a Última Dama do Brasil" (Todavia, R$ 90, 224 págs.), conta para o repórter Naief Haddad que se tratava da maior socialite brasileira do século 20.


Além dos Livros

A última semana foi agitada no mundo das premiações literárias. A sequência de prêmios começou na última quinta (7), quando Alexandre Vidal Porto foi anunciado como melhor romance no prêmio literário da Biblioteca Nacional. Dentre as 12 categorias da premiação há duas novas: história em quadrinhos e ilustração, a primeira vencida por Alexandre Sousa Lourenço e Lielson Zeni e a segunda por Gustavo Magalhães.

Na segunda (11), Luciany Aparecida e Eliane Marques subiram ao palco da Biblioteca Parque Villa-Lobos para receber o Prêmio São Paulo de Literatura, que reconheceu as escritoras com um valor de 200 mil, a maior remuneração em dinheiro entre prêmios literários brasileiros. "Mata Doce" de Aparecida foi reconhecido como melhor romance, e "Louças de Família" de Marques venceu entre os estreantes.

Os finalistas do prêmio Jabuti, que são divididos em 22 categorias, aguardam o resultado da premiação na próxima terça (19). Dentre essas categorias, Tatiany Leite nota o "romance de entretenimento" que, desde 2020, permite a inclusão de obras mais comerciais no prêmio literário, mas repete o padrão das últimas 6 décadas de Jabuti – ignorar os romances literários jovens.

Aconteceu também nesta semana a Festa do Livro da USP, que reuniu mais de 220 editoras e 60 mil leitores no campus da universidade. A feira, que comercializa livros com desconto mínimo de 50%, teve um crescimento estimado entre 15% e 20% nas vendas em comparação à sua edição anterior. Mas, para o organizador Márcio Pelozio, o evento é mais do que preços baixos, é um encontro de bibliodiversidade.

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