Exposição de fotos de Vania Toledo traz a público sua obsessão por pesos de papel

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A fotógrafa Vania Toledo tinha uma obsessão —colecionar pesos de papel. Ao longo de sua vida, acumulou mais de cem, boa parte dos quais de vidro de Murano, que deixava na sua sala de estar e sobre livros e documentos diversos em seu apartamento no Copan.

Na virada para o século 21, ela decidiu partilhar com o público sua coleção, ao criar uma série de fotografias em cor nas quais os pesos aparecem retratados sobre páginas de livros de arte e convites de exposições. Era um novo aspecto do olhar de Toledo, acostumada a clicar, em preto e branco, as festas e os personagens da noite de São Paulo.

Intitulada "O Terceiro Olhar", a série foi apresentada em 2001 num extinto café na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, graças ao trabalho de Diógenes Moura, então responsável pela área de fotografia da instituição, e Emanoel Araújo, à época diretor da Pinacoteca —ambos ajudaram a artista a criar o conceito e a executar o trabalho.

Agora, 23 anos mais tarde, o mesmo conjunto de fotos vem a público numa exposição na galeria Base, em São Paulo, que abre neste sábado. Nas 22 imagens em exibição, o peso de papel perde seu sentido utilitário para adquirir novos significados.

Ele vira um ornamento quando disposto sobre closes de esculturas de Rodin, um tapa-sexo ao ser colocado numa fotografia de nu masculino e até uma flor que complementa uma pintura de Georgia O'Keeffe. Ou então é apenas um elemento estranho, um óvni que paira no interior da Pinacoteca, numa foto da instituição.

Em todo caso, o que se vê é um aspecto mais pessoal do trabalho da fotógrafa, da esfera do privado, dado que os pesos de papel e parte dos livros estavam em sua casa.

"É um trabalho da Vania que não envolve gente, foi um experimento que ela fez na vida dela, numa época em que já tinha fotografado todo mundo", diz Juliano Toledo, o filho da artista, morta em 2020, aos 75 anos.

Toledo retratou o jet set das baladas paulistanas e personalidades como Gal Costa, Caio Fernando Abreu, Rita Lee, Cazuza, Pelé e Milton Nascimento, montando um álbum de quem era quem na noite e na cultura em imagens que se tornaram bastante conhecidas. Uma pequena seleção destas fotos também está exposta na galeria Base, em outra sala.

Diógenes Moura, o ex-responsável pelo setor de fotografias da Pinacoteca, conta que "O Terceiro Olhar" é também o testamento da amizade entre ele, Toledo e Emanoel Araújo. Moura emprestou alguns de seus livros para a artista fotografar, e ele e Araújo auxiliaram Toledo a desenvolver o conceito para a série.

Segundo Moura, tudo foi feito de maneira despretensiosa, sem a preocupação de fazer sucesso ou de agradar algum crítico. Era uma época, ele diz, em que havia "um frescor" e na qual a arte dava a possibilidade de "voar". "O que a gente não tem mais hoje porque tudo virou produto", acrescenta.

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