Donald Trump afirmou que está trabalhando em um acordo comercial com o Reino Unido e sugeriu que o país poderia escapar das tarifas se ambos conseguissem chegar a um consenso. No entanto, os aliados não conseguiram concordar sobre garantias de segurança dos EUA para a Ucrânia.
Durante uma calorosa coletiva de imprensa na Casa Branca na quinta-feira (27), o presidente dos Estados Unidos disse que seu homólogo britânico, Keir Starmer, estava "trabalhando muito duro" para convencê-lo a não impor tarifas ao Reino Unido.
"Vou te dizer que ele fez por merecer o que quer que paguem a ele lá, ele tentou", disse Trump sobre Starmer, descrevendo-o como um "negociador muito duro". "Podemos muito bem chegar a um verdadeiro acordo comercial onde as tarifas não seriam necessárias. Vamos ver."
A sinalização de um acordo ocorreu um dia depois de Trump ameaçar a UE com taxas de 25% sobre suas exportações, e horas depois de ele dizer que avançaria com tarifas sobre o México e o Canadá e aumentaria em 10% sua taxa planejada sobre a China.
Trump disse que o Reino Unido era um "lugar muito diferente" da UE. Starmer confirmou que os dois países decidiram na quinta "começar a trabalhar em um novo acordo econômico com tecnologia avançada em seu núcleo".
Funcionários britânicos disseram que os dois lados estavam visando um acordo econômico e tecnológico em moldes que não atingissem um acordo de livre comércio completo.
Trump disse que o vice-presidente J.D. Vance e o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, estão entre os altos funcionários da administração dos EUA trabalhando nessa frente. "Acho que vamos ter um acordo... o mais rápido possível", disse ele.
No entanto, as tentativas de firmar acordos comerciais entre EUA e Reino Unido fracassaram no passado devido à recusa britânica em aceitar certos produtos agrícolas americanos. A ideia de tal pacto comercial foi um argumento central para os defensores do Brexit há quase uma década.
Embora um acordo comercial completo com os EUA enfrente obstáculos prodigiosos, seria um "verdadeiro bônus" se o Reino Unido alcançasse o objetivo mais modesto de evitar tarifas, afirma Paul Dales, economista do Reino Unido na Capital Economics.
A reunião entre Trump e Starmer, que se concentrou em garantir um acordo de paz para a guerra na Ucrânia, ocorreu dias depois de o presidente francês Emmanuel Macron visitar a Casa Branca para discussões semelhantes.
O presidente ucraniano Volodimir Zelenski se encontrará com Trump em Washington nesta sexta-feira (28), sinalizando um degelo em seu relacionamento. Quando questionado sobre ter se referido anteriormente a Zelenski como um "ditador", Trump respondeu: "Eu disse isso?"
Líderes europeus instaram Trump a fornecer cobertura militar para qualquer missão de manutenção da paz na Ucrânia. Mas na quinta, o republicano disse que os EUA não precisariam fornecer tal "apoio" já que americanos trabalhando em um acordo de minerais proposto com Kiev serviriam como um dissuasor contra possíveis ataques russos.
"Somos um apoio porque estaremos lá, estaremos trabalhando no país. Isso é uma grande coisa economicamente para eles. Vamos ter muitas pessoas lá. Eu simplesmente não acho que você vai ter um problema", afirmou Trump.
Trump acrescentou que os EUA "certamente tentarão recuperar o máximo" de terra ucraniana sob controle russo "quanto pudermos" e que ele e Starmer discutiriam isso durante sua reunião privada. "Eles lutaram muito e duramente pela terra", pontuou Trump.
O presidente dos EUA elogiou Starmer, chamando-o de "homem especial". "Sempre me importei com os britânicos. Eles não precisam de muita ajuda, podem cuidar de si mesmos", disse Trump, acrescentando que "se eles precisarem de ajuda, eu sempre estarei com os britânicos, ok? Mas eles não precisam."
Trump também disse a Starmer, que sediará uma reunião com líderes europeus de 18 países em Londres no domingo para discutir a defesa europeia, que acredita que o presidente russo Vladimir Putin honrará qualquer acordo de paz firmado com a Ucrânia.
"Acho que ele vai manter sua palavra. Falei com ele, conheço-o há muito tempo agora." Ele acrescentou: "Não acredito que ele vá violar sua palavra. Acho que o acordo vai se manter." Quando questionado se confia em Putin, Trump disse que tem uma abordagem de "confiar e verificar" em relação ao russo.
Folha Mercado
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Durante a reunião na Casa Branca, Trump também endossou inesperadamente o acordo do Reino Unido de ceder a soberania das Ilhas Chagos às Ilhas Maurício sob um acordo de longo prazo para garantir o futuro da base militar Reino Unido-EUA em Diego Garcia por até 140 anos.
"Vamos ter algumas discussões sobre isso muito em breve, e tenho a sensação de que vai dar muito certo", disse Trump.
Embora a conversa entre Trump e Starmer tenha sido principalmente cordial, Vance disse anteriormente que o Reino Unido foi responsável por "violações à liberdade de expressão que afetam não apenas os britânicos... mas também afetam as empresas de tecnologia americanas e, por extensão, os cidadãos americanos".
Starmer rebateu, dizendo que o Reino Unido tem liberdade de expressão "há muito, muito tempo" e acrescentando que ela "durará por muito, muito tempo".
Starmer começou sua reunião com Trump entregando-lhe uma carta do rei Charles, na qual o monarca convidava o presidente dos EUA para a Escócia.
A visita teve o objetivo de preparar o terreno para o que Starmer chamou de "uma visita de Estado verdadeiramente histórica" ao Reino Unido —a primeira vez que um presidente dos EUA recebeu a honra duas vezes.
Questionado se aceitaria a oferta de visitar a Escócia, Trump disse "a resposta é sim", acrescentando que o rei era "um homem bonito".
Colaborou Steff Chávez em Washington