O BC (Banco Central) voltou a realizar leilões de dólares para conter a disparada da moeda. A autoridade monetária fez sete operações de venda desde a última quinta-feira (12), somando mais de US$ 12 bilhões que foram injetados no mercado.
Os leilões são intervenções do BC no câmbio. Na prática, eles servem para aumentar a quantidade de dólares disponíveis para os investidores, seguindo a lei da oferta e demanda. Ou seja, quanto mais moeda puder ser comprada, menor vai ser a cotação dela.
"Nesse período do final de ano, a tendência é que haja muito envio de dólar para fora do país, o que limita a quantidade da moeda disponível para compra aqui e aumenta a pressão sobre o preço dela", explica Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ouriminas.
"Tem muita saída para turismo, por exemplo, quando o pessoal compra dólar para ir viajar. Tem empresa multinacional mandando dólar para as matrizes. É um período de muita remessa para fora, e o BC faz intervenções para suprir a alta demanda."
É importante ressaltar que os leilões não servem para abaixar a cotação do dólar à força. O futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, chegou a explicar no início do mês que a instituição não pode "segurar o dólar no peito", já que o efeito prático é muito limitado.
Em bom português, colocar mais dólar à venda para tirá-lo do patamar de R$ 6 seria "enxugar gelo", já que os motivos por trás da disparada –as incertezas com a estabilidade das contas públicas e o cenário internacional adverso– seguiriam pressionando o câmbio.
É por isso, explica Elson, que os leilões não abaixam a cotação, mas limitam a disparada. "O mercado absorve rápido o que é leiloado, porque a demanda está muito alta. Sem os leilões, a cotação seria maior, justamente porque há muita demanda", diz.
O BC ainda realiza diferentes tipos de intervenção, embora não esclareça os motivos por trás de cada leilão ou o porquê uma modalidade foi escolhida.
Entenda abaixo como cada leilão funciona.
Dólares das reservas internacionais do país são vendidos para o mercado, mas o BC se compromete a comprá-los de volta em uma data já determinada no momento do anúncio do leilão.
Leilão à vista
Dólares das reservas internacionais do país são vendidos para o mercado, mas o BC não os compra de volta. "É como se o BC estivesse ‘queimando’ dólares, no jargão do economês, porque ele não vai comprar de volta", explica Gusmão.
Swap cambial
O termo "swap", em português, significa troca. Nessa modalidade de leilão, o BC 'troca' a cotação do dólar por outro valor numa data futura. "Quando a moeda está subindo muito, as empresas que poderão precisar de dólar no meio do ano, por exemplo, olham a cotação em R$ 6,20, como está agora, e pensam: ‘Será que vai estar em R$ 6,50? É melhor eu comprar agora’. E isso faria a moeda subir ainda mais", explica André Galhardo, consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online.
"É como aconteceu na greve dos caminhoneiros. A pessoa que nunca andava com o carro viu que estava faltando gasolina e decidiu abastecer o tanque, o que piorou ainda mais a situação. Então, é como se o BC falasse assim: calma, você precisa de dólar só no meio do ano? Eu te vendo dólar no meio do ano ao preço de hoje, ou em outro preço."
O swap funciona como uma espécie de proteção do valor da moeda para o comprador, em casos de muita volatilidade, em que a cotação fica travada em determinado preço. Em troca, ele paga juros ao BC, definidos conforme a variação da Selic nesse prazo previamente acordado.
"Tem riscos. Se a moeda brasileira se valorizar e o dólar cair para R$ 5,90, por exemplo, a empresa vai ter que comprar o dólar a R$ 6,20, como acordado com o BC. E se o dólar for a R$ 7, o BC tem que arcar com a diferença."
Folha Mercado
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Swap cambial reverso
É como o tradicional, mas a trava é no preço do real, e não no dólar, como forma de evitar um processo agudo de valorização da moeda brasileira. "Tem sido bem pouco usado, é verdade, mas foi bastante comum entre 2010 e 2011", diz Galhardo. Na prática, o BC evita que o real se valorize muito além dos interesses estratégicos dele e do governo.