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Cuide-se
Ciência, hábitos e prevenção numa newsletter para a sua saúde e bem-estar
No início deste mês, foi lançado um documentário sobre Maurício Kubrusly no Globoplay. O filme acompanha o jornalista que viajou o mundo com o Fantástico e que, aos 79 anos, tem o diagnóstico de demência frontotemporal.
A mesma doença foi diagnosticada no ator Bruce Willis. E, quando falamos em demências, há mais casos conhecidos, como o ex-presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan, com Alzheimer, e Robin Williams, que tinha demência por corpos de Lewy.
E você provavelmente conhece alguém que convive com uma doença do tipo. Por isso, na edição de hoje, vamos entendê-las melhor e saber o que é possível fazer como prevenção.
O que é demência? Termo usado para definir a perda de funções cognitivas, explica Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional e pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
↳ Elas incluem o raciocínio, a consciência, a capacidade de fazer cálculos, a percepção visual e auditiva, a capacidade de planejamento e execução, a atenção e, também, a memória.
É a perda de funções previamente adquiridas, complementa Ivan Okamoto, neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein. É isso que diferencia demências de pessoas com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor.
Demência não é sinônimo de perda de memória, diz Valadares. Ela é afetada na maioria dos casos, mas não necessariamente é o primeiro sintoma. O médico exemplifica algumas situações:
- Alguém que sabia cozinhar muito bem, mas, de repente, não consegue mais. Não só porque não lembra a receita, mas porque não consegue mais misturar bem, abrir o micro-ondas e perde a noção de proporções;
- Alguém que dirigia todo dia, mas não sabe mais ligar o carro, porque esqueceu, não sabe o funcionamento da chave, como conectar tudo;
- Alguém que tocava um instrumento, mas para de entender a música e perde a habilidade;
- Alguém que perde a memória visual. Não sabe se localizar, não reconhece o lugar onde está;
- Alguém que esquece experiências de vida, fatos importantes que aconteceram há muito ou pouco tempo.
É comum receber no consultório pessoas entre 35 e 50 anos com queixas de esquecimento, relata Valadares. "Esquecem um compromisso, confundem coisas do dia a dia, perdem objetos. Na maioria das vezes, embora seja uma preocupação honesta, isso raramente é uma demência", diz.
↳ Má qualidade do sono, estresse elevado, excesso de compromissos, carga de trabalho grande e rotina corrida com filhos são fatores que podem afetar isso.
"Não é qualquer esquecimento, é o esquecimento que causa interferência na rotina, que atrapalha a vida da pessoa e impede ela de tomar decisões", complementa Okamoto.
E há diferentes diagnósticos que levam à demência. Explico:
Doença de Alzheimer: é o mais comum, responsável por mais de 50% dos casos, de acordo com o neurologista do Einstein. É caracterizada pela perda de memória, depois perda de linguagem, que pode ser acompanhada por alterações de comportamento.
A teoria mais aceita por cientistas é que a doença acontece por um acúmulo de proteínas no cérebro, que causariam danos aos neurônios.
Demência frontotemporal: é um outro tipo de degeneração que ocorre no cérebro. É comum ter alterações de comportamento, hipersexualidade, perda de senso crítico, explica Okamoto.
O desenvolvimento dela está relacionado à deposição de uma proteína tóxica nas regiões frontal e temporal do cérebro, de acordo com o neurologista.
Demência por corpos de Lewy (DCL): é uma doença degenerativa também causada pelo acúmulo de proteína no cérebro e caracterizada por parkinsonismo precoce, rigidez, comprometimento motor e alucinação, segundo Okamoto.
Demência vascular: causada por um comprometimento ou lesão vascular no cérebro, como um AVC (acidente vascular cerebral), explica Valadares.
E é possível prevenir? Sim. O estilo de vida pode deter o declínio cognitivo.
Quase metade de todos os casos de demência no mundo poderiam ser prevenidos ou adiados ao interferir em 14 fatores de risco, de acordo com um levantamento publicado na revista The Lancet. São eles:
- Baixo nível educacional;
- Colesterol alto;
- Consumo excessivo de álcool;
- Depressão;
- Diabetes;
- Falta de atividade física;
- Falta de contato social;
- Hipertensão;
- Lesões graves na cabeça;
- Obesidade;
- Perda de audição;
- Perda de visão;
- Poluição do ar;
- Tabagismo.
Por isso, veja cinco orientações dos especialistas sobre o que fazer no dia a dia para se proteger de quadros de demência:
Fazer atividade física regularmente
De 150 a 300 minutos por semana. No mínimo, três sessões de 50 minutos de exercício. Não é preciso correr uma maratona, mas balancear exercícios aeróbicos com treinos de força.
Controlar o risco de doenças cardiovasculares
Cérebro e coração andam de mãos dadas. Faça exames regulares de pressão arterial, colesterol, glicose no sangue e peso corporal. Para quem tem diabetes e hipertensão, é essencial fazer acompanhamento médico e estar com o tratamento em dia.
Estimule e desafie seu cérebro
Faça cursos de idiomas, estude sobre assuntos que não sabe, faça quebra-cabeças ou palavras cruzadas e tenha hobbies ativos, como tocar um instrumento, ler, fazer cerâmica ou pintura. Encontre algo prazeroso que amplie suas funções cerebrais —não vale mexer no celular.
Tenha uma vida social ativa
Isso não significa ter que ir a festas ou baladas (você pode, se quiser). O importante é manter laços sociais: ter contato, conversar e conviver com amigos e familiares. Evite ao máximo se isolar socialmente.
Alimente-se bem
Uma alimentação saudável, com frutas, legumes e verduras abundantes. Evite ultraprocessados. Assim como o restante dos órgãos, o cérebro precisa de uma alimentação equilibrada e nutritiva.
Tudo se resume em: cuidar da saúde. E não há soluções milagrosas. Cuidado com falsas curas ou tratamentos que carecem de respaldo científico, orienta Okamoto.
A idade em si é um fator de risco para demências, explica Valadares, mas ele não é mutável. Não conseguimos frear a velhice, então é preciso adotar bons hábitos para equilibrar os efeitos do envelhecimento.