Maior fundação de previdência privada do país e investidor relevante em grandes empresas brasileiras, a Previ avalia que o modelo brasileiro de empresa pulverizada, como o adotado na Eletrobras, ainda precisa amadurecer no Brasil.
"No formato atual, em que a empresa não tem um controlador acompanhando a gestão, os executivos tendem a buscar retornos de curto prazo, que se refletem em bônus para eles mesmos", afirmou o presidente da entidade, João Fukunaga, em evento nesta quarta-feira (7).
A Eletrobras é hoje alvo do governo, que reclama uma presença no conselho de administração compatível com sua participação acionária de 43%. O tema vem sendo debatido em conciliação no STF (Supremo Tribunal Federal).
Com o objetivo de evitar a formação de grupos de controle, o processo de privatização limitou a 10% os votos de cada acionista em assembleias, mesmo que sua fatia seja maior. Na conciliação, o governo quer ter entre três e quatro conselheiros.
Outras grandes empresas brasileiras operam com restrições parecidas, como a Americanas e a Vale, na qual a Previ tem 14% das ações. A fundação tem hoje dois conselheiros na mineradora. Fukinaga é um deles e não quis falar especificamente da companhia.
Além da Vale, a Previ tem participações relevantes na Petrobras, na Neoenergia, na Vibra e na Tupy, entre outras empresas com fatia menor. Tem 22 representantes em conselhos de administração e 26 em conselhos fiscais.
Chegou a ter representante no conselho da Petrobras, mas deixou de indicar representantes após entendimento da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) de que faz parte do bloco governo e, por isso, não pode apresentar candidatos.
Em julho, a autarquia estendeu esse entendimento à Eletrobras, mas o resultado prático é pequeno, já que a Previ tem apenas 0,33% das ações da ex-estatal privatizada em 2021.
Fukunaga diz que, como investidora de longo prazo, a Previ defende que as empresas sejam geridas sob "o olhar do dono".
"Esse tipo de atuação [das empresas pulverizadas] acontece em detrimento das estratégias de longo prazo, tão caras a um fundo de pensão, e dos retornos aos acionistas, representando um risco para a sustentabilidade das próprias companhias", afirmou.
A instituição é frequentemente apontada por acionistas privadas como um braço do governo dentro das empresas, mas Fukunaga rebate que sua estratégia é voltada aos participantes de seus fundos de pensão.
No conturbado processo de sucessão da Vale, por exemplo, a fundação é citada como apoiadora de nomes ligados ao governo, como o secretário do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, que despontou há semanas como possível candidato.
O processo sucessório da mineradora, porém, tem regras estritas que dificultam ingerências externas. Prevê a análise de uma lista tríplice composta por dois nomes apresentados por consultoria internacional e um nome interno, escolhido entre os vice-presidentes da mineradora.
A consultoria contratada pela Vale, a Russel Reynolds, já apresentou uma lista de 15 nomes, que será depurada até dezembro, quando o conselho avalia a lista tríplice.