Em um ano volátil para os mercados, o bitcoin foi o ativo mais rentável de 2024, segundo levantamento de Einar Rivero, da Elos Ayta Consultoria. Enquanto isso, a Bolsa brasileira terminou ano com queda de mais de 10%, na maior queda desde 2021, e investidores do país se contentaram com o bom resultado da renda fixa.
A principal criptomoeda do mundo mais que dobrou de preço nos últimos 12 meses e chegou a pouco mais de US$ 92 mil (R$ 568 mil) nesta segunda-feira (30).
Para os brasileiros, a disparada de 121,45% do bitcoin foi ainda potencializada pela alta de 27% do dólar em 2024. Em reais, a criptomoeda está 183,25% mais valorizada em comparação com o final do ano passado.
Não foi só o bitcoin que teve uma valorização acima da média neste ano. O ethereum, a segunda maior criptomoeda global, subiu 57%.
O setor foi impulsionado pelas apostas na possível, e depois confirmada, vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.
Trump, que prometeu tornar o país a "capital cripto do planeta", acena a uma regulação favorável a essa classe de ativos, além de uma criação de reservas nacionais de bitcoins. Com a maioria republicana no Senado e na Câmara, são grandes as chances de aprovação desses projetos.
A vitória de Trump fez o bitcoin renovar recordes históricos por sessões consecutivas. Em 17 de dezembro, chegou a atingir a marca de US$ 108 mil (cerca de R$ 667 mil na atual cotação), até perder parte do fôlego nas sessões finais de 2024.
A valorização das criptomoedas compõe um movimento apelidado pelo mercado de "Trump Trade" —isto é, ativos que poderão se beneficiar sob as políticas do novo governo.
Além delas, ações de empresas americana se destacaram em 2024 com a expectativa de mudanças na regulação dos Estados Unidos. Investidores apostam em redução de impostos e flexibilização nas regras, em especial para instituições financeiras.
O desempenho de ações de empresas estrangeiras negociadas no Brasil é medido pelo BDRX, índice composto por uma carteira teórica de ativos. A sigla significa Brazilian Depositary Receipts Index (certificados de depósito de valores mobiliários brasileiros), e nele são listados empresas como Meta e Microsoft. No acumulado do ano, subiu 70,59%, refletindo a força das companhias em Wall Street.
O Dow Jones teve alta de 25% no acumulado do ano, marcando 42.582 pontos. O S&P 500 subiu 23,84%, agora em 5.907 pontos.
A Nasdaq, o índice de tecnologia dos Estados Unidos, teve o melhor resultado do ano entre as principais praças acionárias norte-americanas: subiu 31,38%, aos 19.486 pontos, impulsionado pela febre em torno da Inteligência Artificial.
A Nvidia, que produz chips e processadores utilizados pela IA, se tornou a segunda mais valiosa empresa do mundo, com uma valorização de 179,20% no ano.
Hoje com valor de mercado em torno de US$ 3,37 trilhões (R$ 20,8 trilhões), a empresa por trás das unidades de processamento gráfico só perde para a Apple, de quem tirou o primeiro lugar do pódio algumas vezes ao longo do ano. A companhia fundada por Steve Jobs vale US$ 3,81 trilhões (R$ 23,5 trilhões), tendo se valorizado 34% em 2024.
OURO E DÓLAR
O ano também foi de cautela generalizada entre os investidores. Com incertezas em relação às eleições dos Estados Unidos e à política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), os agentes financeiros alocaram recursos em ativos considerados seguros —notadamente, o dólar e o ouro.
A força da moeda norte-americana pode ser medida pelo índice DXY, que a compara em relação às principais divisas do mundo, como o euro, a libra esterlina e o iene. A alta do DXY foi de pouco mais de 6%. Já o ouro subiu 26%.
A procura por ativos seguros afetou moedas de mercados emergentes. O real teve a maior desvalorização entre as principais divisas do mundo—, afetado pelo aumento da percepção de risco sobre o Brasil. Ao longo do ano, a credibilidade do governo Lula (PT) junto ao mercado foi erodida pelo descumprimento de parte do arcabouço fiscal, o conjunto de regras que orienta as contas públicas do país.
"Começou a ficar claro que várias despesas estavam furando o arcabouço. A gente já tinha visto esse filme antes, com o teto de gastos anterior, e as projeções do mercado mostravam que, ao longo do tempo, as contas públicas ficariam de novo sob uma regra insustentável", diz Thais Zara, economista sênior da LCA Consultores.
"Quando você tem um endividamento público explosivo em um determinado país e a percepção de que o governo não vai conseguir conter esse crescimento, os investidores se sentem menos confortáveis de investir nele."
A disparada mais expressiva do dólar ante o real ocorreu em novembro, após o governo anunciar um pacote de corte de gastos junto de um projeto de reforma do Imposto de Renda.
O peso argentino e o peso mexicano sucedem o real no ranking, com perdas de 21,5% e 16,5%, respectivamente, ainda segundo dados da Elos Ayta. No ano, apenas o dólar de Hong Kong se valorizou, com alta de 0,64%. A lira esterlina permaneceu estável, e o euro perdeu 6,09% do valor.
RENDA FIXA
Com o real em baixa, o grande destaque no Brasil foi a renda fixa. O CDI, que acompanha a Selic, acumulou um ganho de 10,78% no ano. A taxa básica de juros foi de 11,75% em janeiro para 10,50% em maio e voltou a subir em setembro, encerrando o ano a 12,25%
Já índice IHFA (Índice de Hedge Funds da Anbima), que mede o desempenho dos fundos multimercado, acumulou alta de 5,59%.
A poupança teve uma rentabilidade de 7,09% ao ano. Levando em consideração o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de novembro, de 4,29%, a rentabilidade líquida real foi de 2,69%.
Folha Mercado
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BOLSA DE VALORES BRASILEIRA
A Bolsa brasileira não foi capaz nem de proteger o dinheiro da inflação neste período. O Ibovespa, que chegou a bater recordes 136 mil pontos em meados de agosto com sinalizações da política monetária dos EUA, terminou o ano com uma rentabilidade negativa de 10,36%, aos 120.283 pontos, no pior desempenho anual desde 2021.
Em tempos de juros altos, os investidores tendem a se mover da renda variável para a renda fixa, já que a rentabilidade e a segurança dos ativos costumam ser mais atrativas.
Além disso, as mesmas incertezas globais que levaram à valorização do dólar também culminaram na fuga de capital em mercados emergentes, como o brasileiro. Aqui, ainda pesou a política fiscal, sobretudo após a decepção dos investidores com as medidas de ajuste fiscal propostas pelo governo, em novembro.
"Isso causou uma elevação significativa nos prêmios de risco, com abertura da curva de juros e depreciação do real. Com isso, o sentimento em relação à Bolsa também foi impactado de forma considerável", afirma a equipe de analistas da XP em relatório.
Até 26 de dezembro, R$ 23,7 bilhões foram retirados da Bolsa por investidores estrangeiros, segundo dados da B3.
O índice Small Cap, que geralmente acompanha o Ibovespa, teve uma queda ainda maior, de 25,03%, e ficou com a lanterna do ranking.
O Ifix (Índice de Fundos de Investimentos Imobiliários) também não teve um bom desempenho, com um recuo de 5,89%.
Segundo analistas, a renda variável foi impactada pelo aumento de 1,75 ponto percentual da Selic no segundo semestre de 2024. Além disso, os juros futuros em alta também pesam sobre a avaliação de preço dos ativos, encarecendo dívidas e reduzindo o cálculo de lucro futuro.