Thiago Malakai lança "Equilíbrio" em um momento de reavaliação profunda de si e do mundo ao seu redor. Não é apenas um álbum, mas um manifesto que usa a arte para desconstruir expectativas e desafiar a superficialidade que cerca a indústria e a própria sociedade. Em tempos de sucessos fabricados e influencers de frases prontas, Malakai, com uma voz que reflete o peso de suas raízes e sua jornada, apresenta uma obra visceral. Cada faixa é uma camada de uma realidade complexa, que não se deixa simplificar.
"Infalível" abre o disco com coragem. A faixa traz batidas intensas que criam uma atmosfera de determinação, como se Malakai enfrentasse o futuro sem garantias. A base hip-hop com toques de reggae lembra a resistência das favelas do Brasil, onde a luta é diária. A mensagem é clara: o sucesso é a longa estrada de quem persiste, carregando a história de resistência que moldou seu caminho.
O tema do respeito surge em "Respeito" não como um pedido, mas como uma exigência. Com a participação de Kyan, Malakai escancara as hipocrisias de uma sociedade que valoriza o status enquanto despreza a dignidade das pessoas comuns. A música evoca as quebradas do Brasil, onde o respeito é mais que uma palavra; é sobrevivência. Em uma era onde respeito virou slogan de empresas que exploram a periferia, a faixa se destaca como um lembrete: no asfalto quente da favela, respeito é fundamental.
Em "Tudo Preto", Malakai e Gregory trazem um olhar crítico sobre o preconceito e a constante alienação que a população negra enfrenta. A repetição da palavra "PRETO" carrega o peso de quem sabe que, no Brasil, o racismo não é um desvio, mas uma fundação. Malakai aborda a negritude com orgulho e sem romantizações, expondo a verdade de que ser preto é carregar uma história de exclusão e resistência.
"Equilíbrio", a faixa-título, é inspirada na perda de um amigo. A canção mergulha no luto e emerge como um estandarte de persistência. Malakai compartilha sua vivência de equilibrar-se mesmo na ausência, transformando dor em motivação. Diferente das ilusões de estabilidade que vendem, seu equilíbrio é dinâmico, fluido. Para ele, é preciso ter a coragem de ser vulnerável em um mundo que idolatra a fachada inabalável.
O amor e o desejo encontram espaço em "Nós pra Nós", uma faixa que explora a conexão intensa entre duas pessoas de forma honesta e sem clichês. Malakai narra uma atração que é intensa e respeitosa, uma mistura de desejo e admiração. A profundidade da música contrasta com o tratamento superficial que o amor costuma receber na indústria musical. Aqui, o sentimento é maduro, complexo.
"Vinil" nos transporta para uma era analógica, onde ouvir música era uma experiência completa. Em tempos de streaming e consumo rápido, "Vinil" relembra o valor do momento presente, do ato de se perder em uma melodia. Assim como um disco de vinil, o álbum de Malakai exige atenção e entrega uma experiência rica. A faixa é uma crítica sutil à superficialidade da cultura digital.
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
"Mundo Invertido" atinge um clímax ácido, criticando a valorização da imagem e do status em uma sociedade onde likes viraram medida de valor pessoal. Malakai questiona a inversão de valores, onde o talento só é reconhecido após se alcançar um status respeitável. A faixa critica uma lógica perversa que sacrifica a essência em nome da popularidade passageira.
No fim, "Equilíbrio" se destaca como um álbum de resistência e autenticidade. Malakai, com mais de duas décadas de experiência na indústria, oferece uma obra que é tanto uma afirmação de identidade quanto um chamado à responsabilidade coletiva. "Equilíbrio" nos lembra que arte verdadeira é aquela que desafia, que nos obriga a confrontar verdades incômodas e que não nos deixa sair ilesos. Para Thiago Malakai, o verdadeiro equilíbrio se encontra ao encarar a realidade, por mais dura e desigual que ela seja.