Essa época de festas de final de ano pode ser particularmente difícil para quem convive com problemas de saúde mental. Não à toa, serviços como o Centro de Valorização da Vida intensificam disponibilidade de agentes para oferecer apoio emocional e prevenir o suicídio.
O início de um novo ano, que para alguns pode se apresentar como uma nova oportunidade, uma página em branco, para nós que vivemos com doenças como depressão e ansiedade se coloca como mais um desafio, medo de mudanças e a perspectiva de fracasso iminente (mesmo que só dentro de nossas cabeças).
Lidar com tudo isso somado a um transtorno alimentar é um desafio à parte. Para além do obstáculo das ceias em família, é preciso usar toda a sua força de vontade para não estabelecer metas irreais diante dos novos 365 dias que se estendem à nossa frente. Minha meta para 2025 é não estabelecer como objetivo emagrecer.
Oficialmente eu nunca me propus esse desafio. Nunca coloquei numa listinha na primeira página da agenda, nunca quebrei a meta em tarefas menores para conquistar um grande objetivo. Mas o número oculto que eu desejava alcançar na balança persegue meus pensamentos. Mesmo que seja o mesmo número que eu vi na balança aos quinze anos, há mais de uma década.
O clima de retrospectiva que toma conta das redes sociais nas últimas semanas do ano certamente não ajuda. Eu me comparo com a minha própria versão de janeiro, e, de alguma forma, a atual sempre sai perdendo. Da mesma forma que a Joana de janeiro perde para a Joana de 2022, de 2021, de 2020 e por aí vai.
É injusto esperar que meu corpo adulto seja o mesmo de quando eu era adolescente. É ainda mais injusto lembrar que quando eu era adolescente eu também não estava satisfeita. Sempre podia ser mais magra. Quanto menos de mim existisse no mundo, melhor. "Você quer sumir?", me perguntou minha mãe certa vez. Não soube explicar para ela que sim, talvez eu quisesse.
Me sentia envergonhada de ocupar espaço, do meu quadril que se alargava, dos seios que começavam a crescer, das coxas que pareciam ocupar o espaço do mundo inteiro. Talvez tenha sido o medo da sexualização precoce, talvez tenha sido resultado de uma socialização em ambiente extremamente patriarcal, mas o resultado foi que eu me tornei muito boa em me esconder. Esconder o meu corpo em roupas largas, esconder minha personalidade e reservá-la só para quem me conhece muito bem. Fui definhando, murchando, somatizando, guardando tudo para mim.
Até que internalizar tudo ficou insustentável e eu rachei, como um recipiente de vidro que foi submetido à pressão demais. Foi terrível, mas ao mesmo tempo, libertador saber que eu não estava sozinha e que tudo o que eu sentia (e sinto) tem nome.
Por isso, em 2025 o meu desejo é ocupar o espaço que me foi dado no mundo. Sem pedir desculpas, sem tentar me encolher (literalmente) e, se possível, sem querer sumir. Isso inclui não tentar emagrecer e também a radical ideia de que de vez em quando eu posso sim incomodar outras pessoas. Eu posso pedir ajuda.
Você, que me lê, também pode (e deve!).
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