Após ser procurada pela coluna, a montadora entrou em contato com Fernanda Santos e, segundo ela, um acordo foi firmado entre as partes para encerrar o caso. Os termos da negociação não foram divulgados.
O UOL Carros também procurou a Stellantis, que ressaltou que "consumidora foi contatada e a questão foi resolvida. Durante esse período, a cliente foi totalmente assistida. Em todas as análises realizadas por técnicos da montadora, não foi identificada nenhuma anomalia que impeça a utilização do veículo, que está em perfeitas condições de uso e funcionamento".
"Vale ressaltar que em todas as passagens do veículo pela rede de concessionárias, foram realizadas as análises e serviços quando necessários. A Stellantis reitera a qualidade de seus produtos, o respeito aos seus consumidores e permanece à disposição para eventuais esclarecimentos por meio da rede de concessionárias e canais de atendimento", completou o comunicado.
Fernanda afirma ter enfrentado um verdadeiro "ciclo de panes", incluindo falhas eletrônicas, barulhos na suspensão, travamentos do câmbio automático e, em situações mais graves, a perda total de força do veículo em movimento. Segundo seu relato, isso já aconteceu pelo menos quatro vezes enquanto ela dirigia.
"Você pisa no acelerador e o carro simplesmente não responde. O painel pisca, tudo apaga. Já tive que jogar para o acostamento para não causar um acidente."
Ela conta que percorre em média 5 mil quilômetros por mês devido ao trabalho, e que desde a primeira viagem com o veículo - feita no dia seguinte à retirada na loja - começaram os problemas: uma proteção plástica solta no assoalho e barulhos estranhos. Em seguida vieram falhas na central multimídia, infiltração de água no porta-malas e portas, sensores de pneus que acusavam falsamente perda de pressão e o retrovisor que parou de recolher.
Apesar de tantas idas à oficina autorizada, Fernanda afirma que as visitas nem sempre resultavam em registros formais: "fui mais de 30 vezes, mas nem todas geraram ordem de serviço. Às vezes, eles mexiam no carro e me mandavam embora. Não deixavam nem eu ver o laudo do scanner. Só entregavam um papel escrito à mão com o que 'achavam' que era o problema."
O que mais revoltou a consumidora, porém, é a forma como foi tratada nas visitas. Segundo ela, a concessionária não manteve a transparência sobre o diagnóstico e se recusou a oferecer suporte com carro reserva durante boa parte desse tempo - apesar de ela depender do veículo para trabalhar e prestar assistência a pais idosos.
"Eles diziam que não tinham nada para me emprestar. Sentia como se o problema fosse eu. Depois que comecei a publicar nas redes, até me bloquearam."
Ela afirma ter criado um dossiê com mensagens e prints de conversas sobre todas as falhas - e começou a receber relatos semelhantes de outros proprietários. "Já são pelo menos seis pessoas com Fastback enfrentando as mesmas falhas. Também recebi mensagens de donos de Argo, Renegade e Toro. Parece ser algo da plataforma.""Não é normal um carro apagar em movimento", diz advogado
O advogado de Fernanda, Jader Alves Bitencourt, acompanha o caso e afirma que sua cliente buscou todas as alternativas antes de tornar a situação pública.
"A Fernanda foi insistente, persistente. E isso incomodou. Porque, normalmente, o que acontece é que o cliente desiste. Ela não desistiu. Foi à luta para resolver o problema, mas acabou sendo tratada como se fosse ela o problema."
Segundo o advogado, o ponto mais delicado do caso é o risco à segurança. "Não é normal um veículo apagar em movimento, cortar a parte elétrica, e ninguém conseguir identificar o motivo. Isso coloca a vida da Fernanda e de outras pessoas em risco real."
Bitencourt afirma que, mesmo com os relatos constantes, não foi fornecido à consumidora um laudo técnico detalhado — apenas ordens de serviço sem diagnóstico completo. "Eles entregam folhas escritas à mão. Não mostram os gráficos nem as leituras reais feitas pelo scanner. E quando questionamos, dizem que não foi detectado nada."
Ainda segundo ele, a concessionária também se recusou a fazer testes prolongados com o carro para tentar reproduzir a falha em uso real, sob o argumento de que não oferecem esse tipo de serviço. "Ela não sabe se o carro vai falhar a qualquer momento. É como uma roleta russa. A Fernanda está exposta a um risco diário."
O que diz a Fiat Trentino
A concessionária Fiat Trentino, autorizada da marca, enviou nota oficial ao UOL Carros em resposta ao caso. No comunicado, a empresa afirma: "Em todas as vezes que a cliente foi até a concessionária, foi atendida normalmente e com excelência assim como todos os demais clientes."
E completa: "a Trentino iniciou o procedimento de identificação do problema relatado, sempre seguindo o padrão estabelecido pela fabricante (Fiat), incluindo a utilização do aparelho scanner wiTECH 2.0, que não acusou nenhum problema."
A empresa diz também ter realizado teste de rodagem com o veículo, sem detectar falhas: "não sendo identificado nenhum problema no veículo após seguir os procedimentos de reparo do automóvel e diagnóstico com a supervisão da Fabricante Fiat (...), o automóvel foi liberado para uso da cliente - já que não há nenhum problema que impeça a utilização do automóvel."
No que diz respeito à ocorrência policial, ressalta-se que a autoridade policial não foi acionada para expulsar a cliente da loja como divulgado, mas sim para resolver situações interpessoais e graves que ocorreram durante a presença da cliente, motivo pelo qual a PMSC foi ao local e registrou o ocorrido por meio do devido boletim de ocorrência.
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