Dólar abre perto da estabilidade com foco nas tarifas dos EUA

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O dólar à vista rondava a estabilidade ante o real nas primeiras negociações desta terça-feira (1º), à medida que os investidores continuam se posicionando para o anúncio de tarifas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enquanto aguardam dados econômicos.

Às 9h04, o dólar à vista caía 0,02%, a R$ 5,7058 na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,07%, a R$ 5,738.

Na véspera, dólar e bolsa fecharam em forte queda. O dólar à vista caiu 0,94% e iniciou a semana cotado a R$ 5,707. O Ibovespa teve queda de 1,24%, a 130.259 pontos.

O tarifaço de Trump deve ser anunciado na quarta-feira, 2 de abril —o apelidado "dia da libertação". A expectativa pela política comercial do republicano tem ditado o humor dos mercados globais desde o início do ano, e a moeda norte-americana tem se enfraquecido em meio a temores de que a guerra comercial possa empurrar a economia dos EUA para uma recessão.

Só em relação ao real, o dólar caiu 7,63% neste primeiro trimestre e 3,51% em março. Já a Bolsa subiu 8,3% desde o início do ano, se beneficiando da percepção de que o Brasil poderá ganhar espaço no comércio internacional em meio à guerra de tarifas. No mês, acumulou ganhos de 6,07%.

Os ativos de risco —e nesta categoria se incluem índices acionários e moedas de mercados emergentes— têm ora se beneficiado, ora se depreciado, diante do vai-e-vém do tarifaço.

"É muito mais a incerteza geral que está pesando no sentimento do investidor", diz Charles De Boissezon, chefe global de estratégia de ações da Société Générale. "Os anúncios de tarifas continuam mudando, mas o que eles têm em comum é que eles simplesmente não são bons para o crescimento global."

O tarifaço tem gerado temores nos mercados pelo impacto potencial na economia mundial. O principal receio é que ele aumente a inflação em uma ampla gama de produtos e distorça cadeias de suprimentos globais, especialmente se os países afetados revidarem com mais impostos.

"Ao contrário do otimismo cauteloso da semana passada, quando alguns sinais indicavam que o anúncio tarifário de 2 de abril poderia ser mais simbólico do que substancial, o que se vê agora é uma percepção crescente de que o governo Trump prepara algo significativamente mais agressivo", disse o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

"A falta de clareza sobre os detalhes finais —e o próprio fato de que ainda estão sendo definidos— apenas amplia o risco de um evento desorganizado, capaz de gerar forte volatilidade."

Ainda não se sabe se o Brasil será ou não atingido pelas medidas, segundo informou uma autoridade da Casa Branca à Folha. Mas, caso o país esteja na lista de afetados, as taxas incidirão sobre todos os produtos importados pelos Estados Unidos, sem exceções.

"A valorização do real parece estar associada à posição neutra que o Brasil se encontra nessa guerra tarifária, ainda mais em um contexto de possibilidade de recessão nos Estados Unidos", diz João Duarte, sócio da One Investimentos.

Os temores de recessão nos EUA estão diretamente relacionados às tarifas de Trump. A economia tem dado sinais de desaceleração nas últimas baterias de dados, mas a falta de clareza sobre o potencial inflacionário do tarifaço pode forçar o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) a manter os juros em níveis elevados para conter a alta de preços, o que pode resfriar ainda mais a atividade econômica

O cenário desenhado por especialistas é de uma "estagflação", isto é, quando a inflação está elevada e a economia não cresce.

Os investidores também aguardam mais dados sobre o mercado de trabalho dos EUA, que serão conhecidos nesta semana. O destaque fica para sexta-feira, com a divulgação do "payroll" (folha de pagamento, em inglês).

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