O dólar abriu em queda nesta terça-feira (24), com investidores repercutindo a ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central).
No mercado externo, os investidores avaliam o anúncio da China de um pacote de medidas de estímulo econômico.
Às 9h04, a moeda norte-americana estava em desvalorização de 0,53%, cotada a R$ 5,5056 . Na segunda, a divisa fechou em alta de 0,26%, a R$ 5,534, e a Bolsa caiu 0,38%, aos 130.568 pontos.
O Copom decidiu elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, na última quarta-feira.
A decisão foi unânime entre os membros do colegiado, com Gabriel Galípolo —indicado pelo presidente Lula (PT) ao comando do BC em 2025– alinhado ao atual chefe da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
O comitê disse que o cenário demanda um política de juros mais contracionista, ou seja, que ajude a frear a força da atividade econômica para assegurar o controle da inflação.
Como justificativa, o colegiado citou a resiliência da economia brasileira, as pressões do mercado de trabalho, a elevação das projeções de inflação, as expectativas distantes da meta perseguida e o hiato do produto positivo (indicação de que a atividade está operando acima do seu potencial, aquecida e sujeita a pressões inflacionárias).
No mesmo dia, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) realizou o primeiro corte nas taxas desde 2020, num afrouxamento de 0,50 ponto após temores de desaceleração do mercado de trabalho. Os juros americanos agora estão na banda de 4,75% e 5%.
Os movimentos opostos dos BCs favorecem investimentos de "carry trade", isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas para rentabilizar sobre o diferencial de juros.
A perda do ímpeto inicial após as decisões —e o hiato de dados econômicos para calibrar expectativas sobre as próximas reuniões, sem sinalizações claras das autarquias— tem feito o dólar voltar a se valorizar ante o real. Entre sexta e segunda-feira, a moeda subiu 2%, apagando as perdas acumuladas da semana passada.
"A expectativa de longo prazo para a trajetória dos juros, tanto no Brasil quanto nos EUA, continuará sendo um elemento-chave para determinar os movimentos futuros do mercado financeiro brasileiro", afirmou Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, em comentários.
Especialistas ouvidos pela Folha preevem que a Selic deve entrar em 2025 na faixa de 11% e permanecer neste patamar por um bom tempo. É a mesma projeção do último Boletim Focus: economistas consultados pelo BC esperam que a taxa básica de juros do país feche o ano em 11,5%. Há uma semana, o patamar estava em 11,25% —e, há um mês, em 10,5%.
Folha Mercado
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O foco dos operadores agora está em uma nova bateria de dados que será publicada nesta semana.
Na quarta-feira, é esperado o IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), uma espécie de "prévia" do indicador oficial da inflação do país, o IPCA. Na quinta e na sexta, serão publicados, respectivamente, os dados do mercado de trabalho brasileiro do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios).
Já na cena internacional, o destaque é a leitura do PCE (índice de preços para despesas de consumo pessoal, na sigla em inglês) na sexta-feira, o indicador de inflação mais monitorado pelo Fed para balizar as decisões de juros.
Dados do PIB (Produto Interno Bruto) americano devem sair na quinta-feira, junto com o tradicional relatório semanal de pedidos de auxílio-desemprego, que tem ganhado relevância conforme os focos do mercado se voltam para o estado do mercado de trabalho dos EUA.
Os agentes financeiros ainda olham para a cena fiscal brasileira. O governo brasileiro apresentou, na sexta-feira, o relatório bimestral de receitas e despesas, o que acendeu temores sobre o cumprimento das metas propostas pelo arcabouço.
Embora tenha havido um aumento nos gastos obrigatórios, a melhora na projeção de receitas permitiu desbloquear outras despesas que estavam travadas para cumprir a meta fiscal, que é de déficit zero neste ano. O saldo final dessa combinação de fatores foi positivo para o governo.
Segundo o Ministério do Planejamento, foi liberado R$ 1,7 bilhão em gastos no próximo ano, antes congelado no Orçamento de 2024, e houve um bloqueio adicional de R$ 2,1 bilhões para compensar o crescimento das despesas obrigatórias e evitar o estouro do limite do novo arcabouço fiscal.
Por outro lado, a melhora das receitas permitiu reverter integralmente o contingenciamento de R$ 3,8 bilhões feito em julho. O instrumento é usado para conter gastos quando outra regra fiscal está em risco —neste caso, a meta de resultado primário.
"O mercado tem dado um peso muito grande ao descontingenciamento, que, ao meu ver, foi pequeno demais para criar a narrativa de que há uma deterioração fiscal em curso", diz André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, plataforma de transferências internacionais.
Os receios em torno da área fiscal têm levado a um aumento de prêmios nos ativos brasileiros, como os juros futuros e o câmbio.
Com Reuters