O dólar abriu com uma leve alta nesta quarta-feira (31), com investidores à espera da divulgação de decisões de juros do Brasil e dos Estados Unidos.
Por volta das 9h10, a moeda norte-americana subia 0,12%, cotada a R$ 5,6264. O mercado analisava o anúncio do Banco do Japão de aumentar a taxa de juros para 0,25%, o maior valor a curto prazo em 16 anos.
Após o BC do Japão, o dia reserva volatilidade e cautela para os mercados. As decisões de política monetária mais relevantes para a cena doméstica serão conhecidas nesta tarde, em dia apelidado de "super quarta" no jargão econômico.
A expectativa de analistas consultados pela Folha é de que tanto o BC (Banco Central) quanto o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) mantenham suas taxas de referência inalteradas, com foco nas sinalizações que virão nos comunicados das autarquias.
No Brasil, pesam a deterioração do cenário econômico e a desancoragem de expectativas para a inflação. O Boletim Focus desta semana apontou que especialistas ouvidos pelo BC preevem que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) irá fechar 2024 em 4,10%, ante avanço de 4,05% na semana anterior.
Em 2025, a projeção é de que o índice chegue a uma alta de 3,96%, ante 3,90%.
As previsões vêm na esteira dos últimos dados de inflação medidos pelo IPCA-15, que, pelo período de coleta, funciona como uma espécie de prévia do indicador oficial. Apesar de terem desacelerado em relação ao mês anterior, os preços subiram mais do que o esperado, a 0,30%, com a taxa de 12 meses batendo 4,45%.
O BC trabalha com a meta de inflação em 3%, com margem de tolerância de 1,5 p.p. para cima e para baixo. Com a base anual próxima ao teto de 4,50%, especialistas esperam que a autarquia endureça o tom do comunicado que irá explicar a decisão sobre o patamar da taxa Selic, o principal instrumento de controle de preços.
O Copom (Comitê de Política Monetária) havia iniciado o ciclo de afrouxamento monetário, mas optou por manter a taxa de juros em 10,50% ao ano na última reunião, em junho. O Focus, que também colhe estimativas sobre a Selic, passou a prever não só a manutenção da taxa, mas também possíveis altas até o final do ano.
"Teremos muita turbulência pela frente e o câmbio vai ficar mais alto do antes, o que, junto com o fiscal mal encaminhado, pressiona a inflação. Por conta disso, o risco é o Banco Central ter que subir a Selic este ano. A possibilidade de alta é maior do que a de baixa", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Já nos Estados Unidos, o tom é outro. A expectativa é que a taxa de juros de referência seja mantida na faixa de 5,25% a 5,50% pela última vez, com apostas quase unânimes de que o Fed irá iniciar o ciclo de cortes na próxima reunião, marcada para setembro.
Por lá, a convergência da inflação à meta de 2% e as perspectivas de um "pouso suave" da economia —ou seja, quando os preços são domados sem grandes danos ao mercado de trabalho ou ao crescimento do PIB (Produto Interno Bruto)— levaram à esperança de que a autoridade monetária dos EUA poderá inclusive cortar os juros mais duas vezes até o final do ano.
Uma taxa alta nos Estados Unidos, tidos como a economia mais segura do mundo, desestimula investimentos em ativos de risco, por puxar os investidores à renda fixa norte-americana (os chamados Treasuries, títulos ligados ao Tesouro dos EUA).
Isso significa que, quanto mais o banco central norte-americano cortar os juros, melhor para o real e outras moedas emergentes.
Na terça-feira (30), o dólar fechou em queda de 0,13%, cotado a R$ 5,617, e a Bolsa perdeu 0,64%, aos 126.139 pontos.
Com Reuters