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Dólar a meio caminho de impactar os bolsos
A recente alta do dólar está prestes a afetar o bolso dos brasileiros, principalmente nas compras de supermercado.
↳ Pão, trigo e azeite devem registrar ajustes de preços em breve.
No meio do caminho. Análise da Folha mostra que a valorização da moeda americana nos últimos meses encareceu as contas das empresas brasileiras que importam matérias-primas.
Os preços de 60 produtos no atacado vêm subindo desde junho e registraram aumento de 5,6% em julho. Até abril, esses preços estavam em queda.
- O dólar atingiu R$ 5,85 nesta segunda-feira (5) durante um dia de tensão no mercado financeiro, mas recuou. No pregão de ontem, fechou em R$ 5,66.
A ponte. A relação entre o dólar e o aumento do custo de vida no Brasil costuma demorar cerca de dois meses para aparecer. Em produtos como o etanol, o impacto é mais rápido, ocorrendo em apenas um mês.
↳ Se o dólar aumenta 10%, o pão de forma sobe 8%, e o azeite sobe 7,7%.
↳ Se a moeda aumenta 10%, o etanol sobe 4%.
Por que importa: quanto mais tempo o dólar permanecer valorizado, mais bens e serviços serão reajustados, impactando a inflação oficial do Brasil. Este é um dos motivos que explicam a atenção do Banco Central aos riscos inflacionários.
- Uma alta de 10%, que dure 12 meses, elevará a inflação em 1,9% no período.
Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) indicou riscos de uma alta dos juros, desfazendo parte dos cortes do último ano.
Piorou. Economistas vêm aumentando semana a semana a estimativa de inflação para o Brasil em 2024. A previsão atual é de 4,12%.
O centro da meta oficial para a inflação é de 3,00%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Sem alívio. A alta do dólar nos últimos meses aconteceu principalmente por três motivos: incertezas com as contas públicas do Brasil, críticas do presidente Lula à necessidade de corte de gastos e a percepção de que os juros dos Estados Unidos ficariam em patamar alto.
Outro motivo. Nesta semana, porém, a disparada aconteceu porque parte dos economistas e agentes do mercado veem um risco grande de crise nos Estados Unidos. Essa preocupação, porém, começa a diminuir e impacta menos a moeda.
↳ Em épocas de crise, o fluxo de investimentos tende a migrar das empresas nas Bolsas de Valores para ativos mais seguros, como o dólar.
Jatinhos fora de Congonhas
O número de jatos executivos que utilizam o aeroporto de Congonhas diariamente caiu 25%,e a tendência é de que a redução continue.
Entenda: a empresa espanhola Aena, que assumiu a gestão do aeroporto de São Paulo em 2023, determinou que os aviões de pequeno porte utilizem apenas a pista auxiliar, por questões de segurança.
↳ A pista principal está reservada para voos comerciais durante a ampliação do aeroporto.
A Aena também pretende reduzir o número de voos permitidos por hora de oito para quatro a partir de 2025.
De mudança. As restrições levaram os voos executivos para outros aeroportos próximos, sendo o Campo de Marte, na zona norte da capital, o mais beneficiado.
O Campo de Marte também passa por obras de modernização realizadas pela Pax, subsidiária da XP Investimentos, que administra o Aeroporto de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. A área ao redor será um parque.
A feira de aeronaves Labace, atualmente sediada em Congonhas, se mudará para o Campo de Marte em 2025.
No interior de SP. O aeroporto Catarina, administrado pelo grupo JHSF em São Roque, e o aeroporto de Jundiaí são outras pistas que se beneficiaram.
↳ O Catarina é o primeiro aeroporto privado com voos internacionais do país, que já operam 24 horas por dia.
↳ Ele recebeu 64% dos voos executivos internacionais do estado de São Paulo em 2023.
Sucesso. A redistribuição de voos acontece em meio à alta do setor executivo no Brasil. A Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral) prevê 948 mil pousos e decolagens este ano, aumento de 2,4%.
O Brasil alcançou 10,3 mil aviões desse tipo, crescimento anual de 6%. Entre eles estão aviões com motor a pistão, jatos, helicópteros e turboélices.
O novo Congonhas. As obras no aeroporto paulistano preveem a construção de um centro comercial com 20 mil metros quadrados, um novo terminal e a expansão das pistas de taxiamento e principal. A Aena planeja entregar as obras em 2028. Veja como ficará.
- As reformas permitirão a operação de aviões maiores, mantendo o número de pousos e decolagens em 44 por hora.
- Haverá ao menos 20 pontes para embarque direto pelos portões. Atualmente, são 12.
- O volume de passageiros aumentará de 22 para 30 milhões ao ano.
M&Ms + Pringles
A empresa americana Mars, dona das marcas M&Ms, Snickers e Whiskas, está em negociações para comprar a Kellanova, fabricante das batatas Pringles, de acordo com o jornal Financial Times.
Por que importa: um analista ouvido pelo Financial Times vê o início de um novo ciclo de consolidações no setor de alimentos industrializados. Esses movimentos de fusões e aquisições são mais conhecidos pela sigla em inglês M&As.
Operações de fusão tendem a auxiliar na redução de custos e expansão das vendas.
↳ O momento seria parecido com o início dos anos 2000, quando a General Mills comprou a Pillsbury e a Kraft adquiriu a Nabisco, todas elas empresas de alimentos.
Expansão. A estratégia de crescimento recente da Mars inclui a compra de um grupo de hospitais veterinários e da marca de chocolates britânica Hotel Chocolat.
O interesse pela Kellanova ocorre em um contexto em que as pessoas estão cautelosas com os gastos, influenciadas por um longo período de inflação nos Estados Unidos.
A Mars. A empresa é uma gigante do setor de alimentos, com mais de cem anos sob gestão familiar. O presidente do conselho da empresa é John Franklyn Mars, 88 anos, neto do fundador. Possui mais de 150 mil funcionários e vendas anuais de US$ 50 bilhões (R$ 282 bilhões).
↳ A Mars é uma empresa de capital fechado, sem ações no mercado.
A Kellanova. Tem um valor de mercado de US$ 22 bilhões (R$ 124 bilhões) e surgiu em 2023, após a divisão da Kellogg’s em duas empresas distintas: uma focada nos cereais matinais, como os Sucrilhos, e outra focada em snacks, biscoitos e salgadinhos.
↳ As ações da empresa nos Estados Unidos valorizaram 16% depois da informação começar a circular.
↳ A disparada foi replicada nos papéis que representam a empresa aqui na Bolsa brasileira. Batizados de BDRs, esses investimentos permitem acesso mais fácil a ações gringas.
As empresas não confirmaram as negociações.
Investidores na seca
Bolsa de Valores completa três anos sem estreia de empresas
Três anos se passaram desde que uma empresa estreou suas ações na Bolsa brasileira. A última oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) foi da companhia de biotecnologia Vittia, que levantou R$ 382 milhões em 31 de agosto de 2021.
Esperava-se que as ofertas retornassem com o aguardado corte de juros nos Estados Unidos. Mas o risco de uma crise econômica na maior economia do mundo deixa essa possibilidade mais incerta.
Entenda: os juros altos dos últimos anos reduziram a atratividade dos ativos de risco, como as ações, levando investidores à renda fixa e diminuindo as perspectivas de crescimento das empresas.
Em 2021, os IPOs no Brasil atingiram o recorde de 45 operações, incluindo Raízen, Smart Fit e CSN Mineração.
Na época, os juros estavam em patamar historicamente baixo em meio à pandemia, e o volume de pessoas interessadas em investir na Bolsa também era recorde.
Sim, mas... Algumas empresas realizaram ofertas secundárias recentemente, trazendo algum alento ao mercado, como a Eletrobras e a Sabesp.
O governo federal, em 2022, e o estado de São Paulo, em 2024, escolheram a oferta de ações como método para privatizar essas duas companhias.
Quem está na fila? Se os EUA escaparem de uma recessão ao mesmo tempo em que reduzem os juros, os IPOs devem retornar ao Brasil em 2025.
Algumas empresas esperadas são Aegea (saneamento), CTG (energia), Votorantim Cimentos (indústria), Unico (tecnologia), Creditas (setor financeiro) e Wellhub (antiga Gympass, saúde e bem estar).