Disco novo de Apeles reflete sobre o brilho e a solidão da vida noturna

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Num dos vídeos para uma das faixas do novo disco de Apeles, uma mulher dança sozinha na sala vazia de um aparamento, as garrafas bebidas de vinho no canto. Em outro, uma garota passa batom em frente ao espelho em uma casa noturna de São Paulo. Num terceiro, um rapaz tenta se divertir brincando na montanha-russa e nos cavalinhos de um parque de diversões.

Em tese, seriam todos momentos felizes, de êxtase, mas Eduardo Praça, o músico por trás do projeto Apeles, tinge todas as situações com uma coloração melancólica. Capturadas em super-8, as imagens dos vídeos têm cara de fotografias antigas encontradas em gavetas, enquanto as músicas, apesar de trazerem uma base eletrônica mais ou menos animada, soam intimistas, como segredos contados ao pé do ouvido.

As canções e seus vídeos correspondentes compõem o novo álbum de Apeles, o recém-lançado "Estasis", um projeto audiovisual centrado no brilho e no vazio da vida noturna. É uma dicotomia, diz o músico em entrevista por vídeo, entre querer estar num clube mas ao mesmo evitar os malefícios da boemia, algo que ele afirma sempre ter experimentado como artista. "Eu quero aproveitar [a noite], mas ao mesmo tempo quero estar em casa sem estar de ressaca."

Um exemplo de seu estado de espírito aparece na última música do disco, em que Praça canta que renuncia às madrugadas e agora prefere a paz. Durante seu processo criativo, ele conta se abastecer de estar na rua, de bebida, de conhecer pessoas novas e dialogar com elas. "Essa coisa da noite pode te levar para um lugar sombrio. É muito bom criativamente, mas às vezes pode ser um pouco pesado para como você quer levar a sua vida", acrescenta.

"Estasis" é o terceiro disco de Praça com o codinome Apeles, alcunha adotada por ele depois de se desligar das bandas que o tornaram conhecido no meio independente —Ludovic e Quarto Negro— justamente para criar uma nova persona.

Se nos dois álbuns anteriores de Apeles —"Rio do Tempo", de 2017 e "Crux", de 2019— a sonoridade pendia mais para o rock alternativo, no mais recente ele explora estilos como a eletrônica de pista, o rap e o experimentalismo, sem deixar de lado as guitarras que fizeram parte de sua formação.

Esta variedade de estilos, conta o músico, vem do fato de o disco novo não ser centrado nele. Das dez faixas do álbum, nove tem participações. São artistas de vários países do mundo, que trouxeram as suas referências e as suas línguas maternas para deixar mais ricas as composições do paulistano.

Por exemplo, a dupla sul-coreana de eletrônica Haepaary abre o disco com uma música falada na qual descrevem, em seu idioma, como foi a festa da noite passada. Mais adiante, a pianista e compositora grega de eletrônica Lena Platonos empresta a voz para a letra de "Blefe, Prova, Posse", e o rapper britânico Awate canta em inglês.

"Não queria que fosse mais um álbum do Apeles, no sentido de entrar na coisa egocêntrica de um disco sobre as minhas experiências de novo", diz Praça, ao se referir aos seus dois trabalhos anteriores, mais autobiográficos que este. Neste disco, ele também agiu como curador e pesquisador musical. "Queria contemplar tanta gente talentosa que admiro."

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