Dezembro, um mês difícil para os alcoólatras, chegou

há 2 semanas 1

Dezembro chegou. Alguns dizem que é a sexta-feira do ano, sendo assim é um mês chato para os alcoólatras. Todo dia tem confraternização. Seja do trabalho, dos amigos, dos conhecidos, dos que só se encontram no final de ano. Para mim sempre foi uma época desafiadora.

Outro dia estava em um desses encontros, uma confraternização do meu trabalho novo, um daqueles eventos a que fui obrigada a ir. As pessoas não me conheciam direito. Cheguei e peguei minha água com gás. Imediatamente me perguntaram se eu não queria uma bebida alcoólica. "Só hoje, para relaxar". Agradeci, mas esse convite se estendeu até o fim do encontro. Todos decidiram me incentivar a beber.

Ainda não falo abertamente que sou alcoólatra. Já tentei uma vez e a reação foi péssima. Então digo que não estou bebendo, que não quero etc., mas é impressionante o espanto das pessoas e a insistência em fazer com que eu beba. "Só uma para brindar", "Ah é evangélica?". Sempre com tom de zoação. Hoje eu tenho uma condição mais firme de negar sem cair na tentação da bebida. Mas é muuuuito chato como não aceitam que uma pessoa não queira beber. No bar, em festas, no restaurante. Não importa a razão, deveria ser normal aceitar a condição da pessoa de não fazer o uso de bebida alcoólica.

Por isso tenho pânico quando sou convidada para algum encontro de final de ano. Já fico com um pé atrás sabendo de todo enredo que vou ter que enfrentar. Parece que se eu não bebo algo alcoólico eu sou menor. Já ouvi uma vez isso: "Nossa, como você é chata, só uma para brindar o fim do ano".

Ninguém faz ideia da luta que é largar a bebida. Como não se fala muito em alcoolismo, fica tudo mais difícil. A minha ideia aqui é trazer o assunto à tona e fazer com que todos tomem consciência desse problema. Demorei mais de quinze anos para deixar a bebida, foi um processo muito doloroso. Por isso não aceito reverter essa minha conquista por nada. Nem se um homem maravilhoso me pedir para beber com ele, nem se meu chefe novo pedir para eu brindar. Prefiro perder a oportunidade de conhecer o cara maravilhoso e igualmente perder o emprego.

Já na minha família é diferente. Todos sabem que eu não bebo, mas ninguém deixa de beber por causa disso, muito pelo contrário. Bebem e eu não me importo. Quem não deve beber sou eu, os outros ao meu redor podem tranquilamente fazer uso da bebida. Então o Natal é tranquilo, fico mais com meus sobrinhos pequenos e tudo bem. Fico calma porque sei que ninguém vai insistir para que eu beba.

Mas sei que não é fácil para quem está começando a deixar a bebida agora passar por essas situações. Lembro do começo da minha recuperação, o quão difícil era enfrentar esses eventos. A gente sofre bem antes de chegar à festa tentando pensar em desculpas para dizer por que não vamos beber.

A saída para mim foi simples. Chego cedo, cumprimento a todos, escuto um pouco e vou embora assim que a turma começa a se animar. Saio à francesa, normalmente ninguém repara. Vou para a minha casa e assisto um filme ou faço qualquer outra coisa que me anime. As festas não são mais para mim, pelo menos ainda não. E tudo bem.

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