O ministro da Defesa, José Múcio, afirmou nesta quarta-feira (19) que a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares envolvidos na suposta tentativa de golpe de Estado trouxe alívio para as Forças Armadas, ao individualizar os suspeitos e isentar a instituição.
“A denúncia identifica os militares responsáveis por uma tentativa de golpe, ao mesmo tempo que separa e isenta a instituição Forças Armadas daquele processo”, disse Múcio, segundo informações do g1.
O texto da denúncia da PGR destaca que o Exército foi “vítima” da trama e que a não adesão dos comandantes militares foi decisiva para impedir a concretização do golpe.
“Isso é muito importante para a instituição, para virarmos essa página. Agora, os militares responsáveis estão identificados e denunciados, e terão de responder por seus CPFs”, afirmou Múcio.
Dos 34 denunciados pela PGR, 25 são militares. O comandante do Exército, general Tomás Vieira Paiva, está em viagem ao exterior, mas já havia sido informado sobre a iminência da denúncia.
Múcio como testemunha
Deputados aliados de Bolsonaro articulam para que José Múcio seja convocado a depor no Supremo Tribunal Federal (STF) a favor do ex-presidente.
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“Não existe um crime sem o emprego das Forças Armadas. Eu espero que a defesa do presidente Jair Bolsonaro chame o ministro da Defesa, José Múcio”, declarou o deputado Hélio Lopes (PL-RJ), vice-líder da legenda na Câmara.
A ofensiva ocorre após Múcio ter afirmado que, no período de transição, precisou recorrer a Bolsonaro para conseguir contato com os comandantes militares.
Bolsonaro convoca manifestações
Parlamentares bolsonaristas apostam que a denúncia da PGR ampliará a adesão às manifestações convocadas por Bolsonaro para 16 de março, programadas para ocorrer em 120 cidades.
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“A apresentação da denúncia, muito provavelmente, vai fazer com que milhões de pessoas que não iriam passem a ir para a manifestação”, afirmou o deputado Ubiratan Sanderson (PL-RS).
Além das ruas, a oposição prometeu intensificar críticas ao STF na tribuna da Câmara caso a Primeira Turma da Corte aceite a denúncia do procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Os bolsonaristas classificam o parecer como “perseguição política” e “decisão de cunho midiático”, além de questionarem o fato de a PGR ter apresentado a denúncia logo após pesquisas indicarem queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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Acusações da PGR
A PGR denunciou Bolsonaro por cinco crimes:
- Dano qualificado com uso de violência e grave ameaça
- Deterioração do patrimônio tombado
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
- Golpe de Estado
- Organização criminosa
Se condenado pelas acusações, Bolsonaro pode pegar mais de 43 anos de prisão.
Segundo a denúncia, o ex-presidente liderou uma organização criminosa “baseada em projeto autoritário de poder” e “com forte influência de setores militares”. O ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, que está em prisão preventiva, foi apontado como co-líder da trama.
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“A organização tinha por líderes o próprio presidente da República e o seu candidato a vice-presidente, o general Braga Netto. Ambos aceitaram, estimularam e realizaram atos tipificados na legislação penal como atentados contra a existência e independência dos poderes e do Estado Democrático de Direito”, afirma a PGR.
Defesa de Bolsonaro
A defesa do ex-presidente classificou a denúncia como “inepta”, “precária” e “incoerente”, alegando que as acusações se baseiam em um acordo de colaboração premiada “fantasioso” do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
“A despeito dos quase dois anos de investigações, nenhum elemento que conectasse minimamente o (ex-) presidente à narrativa construída na denúncia foi encontrado”, diz a nota da defesa.
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Agora, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal decidirá se aceita a denúncia, transformando Bolsonaro e os demais investigados em réus.