DeepSeek é parte de plano ousado chinês de supremacia tecnológica mundial

há 2 meses 8

TikTok não está mais sozinho

Quando se pensa em big techs os primeiros exemplos que são lembrados dizem respeito a empresas norte-americanas como Meta, Google, Amazon, Apple e por aí vai. De certa maneira, o TikTok figurava quase que sozinho nesse grupo de primeiras empresas associadas ao nome big tech e que não fosse proveniente dos Estados Unidos.

Dizem que estamos vivendo o século asiático. Para além do soft power japonês (com animes e mangás) e coreano (com kpop e doramas), a expansão de aplicativos chineses, como TikTok e agora o DeepSeek, revelam como a China aposta no atingimento da supremacia tecnológica global. Vale lembrar que o plano estratégico chinês mira para 2030 a realização desse cenário no campo da inteligência artificial.

O que o DeepSeek faz de diferente?

Com a proibição baixada pelos Estados Unidos de venda dos chips mais modernos para a China, empresas daquele país precisaram encontrar novos meios de treinar modelos de inteligência artificial que pudessem atingir resultados competitivos com os seus concorrentes norte-americanos.

De acordo com a própria documentação do DeepSeek R1, a ferramenta está ancorada na combinação de alguns elementos centrais, como a exibição de uma "cadeia de pensamento", o uso de aprendizado por reforço e a metodologia de destilação.

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Em termos bem simples, a cadeia de pensamento revela como a ferramenta processa informações para gerar a resposta. É como se o DeepSeek estivesse pensando alto, permitindo que o usuário, do outro lado da tela, possa ver como a aplicação chegou na conclusão apresentada.

Isso permite inclusive que erros sejam identificados ao longo do caminho e corrigidos. Além de ser bem fofo ver o aplicativo dizendo "agora vamos inserir essa informação" ou "Para! Para! Para! Tem um momento AHA que eu posso indicar aqui." Sério, tem um João Kleber morando dentro da IA chinesa.

Imagem retirada do paper de apresentação do DeepSeek
Imagem retirada do paper de apresentação do DeepSeek Imagem: arxiv

O aprendizado por reforço usado na ferramenta aprimorou a forma pela qual o modelo aprende a partir das suas próprias conclusões. Enquanto a metodologia de destilação faz com que um modelo maior e mais pesado possa "ensinar" a modelos menores e mais leves, que passam a atuar de forma mais eficiente.

Bloqueio 2.0?

O TikTok entrou na mira das autoridades norte-americanas por questões de segurança nacional, com acusações de que a empresa estaria compartilhando dados pessoais de cidadãos dos EUA com o governo chinês. O aplicativo chegou a ser bloqueado ao não encontrar um comprador norte-americano dentro do prazo concedido por uma lei aprovada no Congresso dos EUA.

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A chegada do DeepSeek, e a sua instantânea popularidade, parece repetir a dose de toda a discussão sobre segurança nacional do lado de lá, só que com duas diferenças bem importantes. A primeira é que a política de privacidade do DeepSeek deixa claro que dados serão coletados e armazenados na China.

A segunda - e talvez mais interessante - é que o modelo foi disponibilizado com código aberto, o que permite que diversas empresas e entidades possam acessar, estudar e implementá-lo em seus projetos. Sendo assim, um eventual bloqueio do governo norte-americano aqui seria muito mais difícil, já que uma coisa é banir o aplicativo das lojas online e dos servidores de hospedagem, outra é proibir todas as entidades e pessoas que já tiveram acesso ao código e começaram a incorporá-lo em seus projetos. O gênio está fora da lâmpada.

Por mais que nesses casos o armazenamento de dados não seja mais necessariamente na China, a modelagem criada pela empresa chinesa pode acabar ganhando cada vez mais adesão. Fazendo um bonito com menos recursos, o DeepSeek já escreveu uma nova página na história do "Made in China".

Reportagem

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