TikTok não está mais sozinho
Quando se pensa em big techs os primeiros exemplos que são lembrados dizem respeito a empresas norte-americanas como Meta, Google, Amazon, Apple e por aí vai. De certa maneira, o TikTok figurava quase que sozinho nesse grupo de primeiras empresas associadas ao nome big tech e que não fosse proveniente dos Estados Unidos.
Dizem que estamos vivendo o século asiático. Para além do soft power japonês (com animes e mangás) e coreano (com kpop e doramas), a expansão de aplicativos chineses, como TikTok e agora o DeepSeek, revelam como a China aposta no atingimento da supremacia tecnológica global. Vale lembrar que o plano estratégico chinês mira para 2030 a realização desse cenário no campo da inteligência artificial.
O que o DeepSeek faz de diferente?
Com a proibição baixada pelos Estados Unidos de venda dos chips mais modernos para a China, empresas daquele país precisaram encontrar novos meios de treinar modelos de inteligência artificial que pudessem atingir resultados competitivos com os seus concorrentes norte-americanos.
De acordo com a própria documentação do DeepSeek R1, a ferramenta está ancorada na combinação de alguns elementos centrais, como a exibição de uma "cadeia de pensamento", o uso de aprendizado por reforço e a metodologia de destilação.
Em termos bem simples, a cadeia de pensamento revela como a ferramenta processa informações para gerar a resposta. É como se o DeepSeek estivesse pensando alto, permitindo que o usuário, do outro lado da tela, possa ver como a aplicação chegou na conclusão apresentada.
Isso permite inclusive que erros sejam identificados ao longo do caminho e corrigidos. Além de ser bem fofo ver o aplicativo dizendo "agora vamos inserir essa informação" ou "Para! Para! Para! Tem um momento AHA que eu posso indicar aqui." Sério, tem um João Kleber morando dentro da IA chinesa.

O aprendizado por reforço usado na ferramenta aprimorou a forma pela qual o modelo aprende a partir das suas próprias conclusões. Enquanto a metodologia de destilação faz com que um modelo maior e mais pesado possa "ensinar" a modelos menores e mais leves, que passam a atuar de forma mais eficiente.
Bloqueio 2.0?
O TikTok entrou na mira das autoridades norte-americanas por questões de segurança nacional, com acusações de que a empresa estaria compartilhando dados pessoais de cidadãos dos EUA com o governo chinês. O aplicativo chegou a ser bloqueado ao não encontrar um comprador norte-americano dentro do prazo concedido por uma lei aprovada no Congresso dos EUA.
A chegada do DeepSeek, e a sua instantânea popularidade, parece repetir a dose de toda a discussão sobre segurança nacional do lado de lá, só que com duas diferenças bem importantes. A primeira é que a política de privacidade do DeepSeek deixa claro que dados serão coletados e armazenados na China.
A segunda - e talvez mais interessante - é que o modelo foi disponibilizado com código aberto, o que permite que diversas empresas e entidades possam acessar, estudar e implementá-lo em seus projetos. Sendo assim, um eventual bloqueio do governo norte-americano aqui seria muito mais difícil, já que uma coisa é banir o aplicativo das lojas online e dos servidores de hospedagem, outra é proibir todas as entidades e pessoas que já tiveram acesso ao código e começaram a incorporá-lo em seus projetos. O gênio está fora da lâmpada.
Por mais que nesses casos o armazenamento de dados não seja mais necessariamente na China, a modelagem criada pela empresa chinesa pode acabar ganhando cada vez mais adesão. Fazendo um bonito com menos recursos, o DeepSeek já escreveu uma nova página na história do "Made in China".
Reportagem
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