De Calcinha Preta a Marília Mendonça: como lucrar investindo em músicas

há 2 dias 3

Investir em músicas de artistas como Aviões do Forró, Jorge e Mateus, Joelma, Toquinho e Marília Mendonça pode ser uma alternativa para ampliar as fontes de rendimento.

O modelo, conhecido como investimento em royalties musicais, funciona com a compra de cotas de obras que geram pagamentos recorrentes. Os ganhos vêm da reprodução das músicas em plataformas de streaming, emissoras de rádio e outros meios, permitindo que investidores recebam uma parcela dos direitos autorais.

Royalties musicais são ativos alternativos. Diferentemente da renda fixa e da renda variável tradicional, o investimento em royalties não segue os mesmos padrões do mercado de ações ou fundos imobiliários. "Na verdade, você está fazendo, entre aspas, uma vaquinha para os artistas. Então, é como se você, o gestor do fundo, avaliasse a performance de determinados artistas e propusesse uma antecipação do dinheiro para eles", explica João Figueiredo, economista e coordenador do mestrado em economia criativa, estratégia e inovação da ESPM.

É importante lembrar que, mesmo comprando royalties, o investidor não se torna autor da obra nem pode alterá-la, já que os direitos morais do criador são intransferíveis.
Gabriela Payne Zerbini, advogada especialista em propriedade intelectual

Mercado fonográfico é pouco afetado por crises econômicas. Mesmo em períodos de incerteza política e econômica, o consumo de música tende a se manter estável. As pessoas continuam ouvindo suas músicas favoritas, o que garante a continuidade dos pagamentos de royalties.

Queda no poder de compra pode afetar o fluxo de royalties. "A única forma de impacto nos royalties musicais ocorre quando as pessoas perdem poder aquisitivo e deixam de pagar assinaturas em plataformas de streaming", explica Fernando Gabriel, CEO da STRM, fintech que desenvolveu uma IA para valorar catálogos musicais. Segundo ele, a inflação e o aumento de preços podem reduzir a adesão às plataformas, o que afeta o crescimento do setor. Além disso, crises econômicas que reduzam a quantidade de shows também podem gerar impacto na arrecadação dos artistas.

Cancelamento do artista também é um risco. Ana Rodrigues Batista investe em royalties musicais há mais de duas décadas. E um dos critérios utilizados por ela para saber em quem investir é a imagem público do artista. "Para mim, esse é o principal risco. O artista está lá no ápice da carreira e de repente faz fala preconceituosa e as pessoas acabam vetando aquela pessoa", diz.

Entrei numa operação de royalties da Marília Mendonça. Eu achei interessante porque é uma artista que foi consolidada, tinha uma carreira sólida no segmento dela, admirada por muitos e por conta do falecimento, ela não tem esse risco de de cancelamento que a gente sofre com outros artistas.
Ana Rodrigues Batista, investidora

Investimento recomendado para quem já tem experiência. Royalties musicais não são indicados para quem está começando a investir, pois exigem maior conhecimento do mercado. Além disso, o valor mínimo de entrada é alto, em torno de R$ 5 mil, o que torna esse tipo de aplicação mais adequado para quem possui maior renda ou já investe em outras opções mais acessíveis, como o Tesouro Direto.

Plataformas permitem investir em músicas de grandes compositores. A Brodr funciona como um marketplace brasileiro de negociação de royalties tokenizados, permitindo aportes em músicas específicas. Já a Kaya Asset lançou fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) voltados para royalties musicais, enquanto a MUV Capital atua no mercado de direitos autorais tanto da música quanto do cinema.

A Hurst é uma das opções disponíveis para investidores. A plataforma que tende a trabalhar com artistas mais consagrados projeta um retorno anual de 17,47% em três anos. O valor investido é corrigido pelo IPCA, índice que mede a inflação no Brasil, garantindo que os rendimentos acompanhem a variação do poder de compra ao longo do tempo.

O investidor não perde dinheiro. Ao final da operação, supondo que deu tudo errado com o catálogo de música, ele ainda recebe o valor inicial corrigido pelo IPCA do período.
Ana Gabriela Mathias, COO (Diretora de Operações) da Hurst Music

Antes de investir

Conheça a lei. Para quem deseja investir em royalties musicais, segundo Jessica Vilano, sócia do escritório Paschoini Advogados e especialista em direito empresarial, contratos, marcas e patentes, é essencial entender a Lei de Direitos Autorais, especialmente sobre a cessão dos direitos patrimoniais, que precisam ser formalizadas por contrato escrito. Além disso, é importante acompanhar possíveis mudanças na legislação que regula os direitos autorais e no mercado de música digital, que podem impactar os lucros.

Pesquise sobre o mercado. Entenda como funciona a arrecadação de royalties e quais obras têm maior potencial de rentabilidade. "Recomendo acompanhar regularmente os relatórios das associações responsáveis, como o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), para verificar quais artistas ou músicas têm maior potencial de retorno", diz Rodrigo Leal, especialista em digital e entretenimento do Prado Vidigal Advogados.

Escolha bem a gestora. A confiabilidade e a regulamentação da plataforma devem ser criteriosamente verificadas, sendo essencial que ela ofereça relatórios detalhados que permitam o monitoramento adequado dos pagamentos de royalties. Confirme que o vendedor realmente tem direito sobre os royalties que está oferecendo.

Contrato bem estruturado. O contrato deve detalhar todos os aspectos do investimento, evitando ambiguidades. Também é fundamental realizar uma diligência jurídica, ou seja, investigar se a música está envolvida em processos judiciais ou questões legais.

Diversifique artistas e gêneros. Eventualmente, se um artista não performar muito bem, pode ser que outro compense. O mesmo serve para o gênero musical, é importante diversificá-lo. Além disso, não é aconselhável investir somente em gêneros musicais que se tem mais apreço. Batista investe, por exemplo, em sertanejo apesar de ser um gênero que ela não escuta. A popularidade do estilo musical contou mais para ela. A Hurst, por exemplo, possui mais de 300 catálogos com cerca de 11 gêneros distintos.

Diversifique a carteira. O investimento em royalties musicais têm um risco um pouco maior do que o risco da renda fixa. "Esse investimento serve bastante às pessoas que já têm uma carteira com outros ativos, que já têm ações, renda fixa e que estão procurando diversificar a sua carteira", diz Figueiredo.

Assessoria jurídica especializada. Para ter ainda mais segurança, um advogado especializado pode garantir que o contrato seja sólido e proteger seus interesses. "Com um planejamento bem estruturado e respaldo jurídico adequado, investir em royalties musicais pode ser uma excelente fonte de renda passiva", diz a advogada Gabriela Payne Zerbini.

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