Crítica: Fagner laça bom disco de inéditas após dez anos de regravações e tributos

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Acaba de sair "Além Desse Futuro", 38º disco da carreira de Raimundo Fagner e seu primeiro trabalho de músicas inéditas desde "Pássaro Urbano", lançado há dez anos. Mas que ninguém pense que o cantor e compositor cearense passou a última década parado: nesse tempo, ele lançou quatro discos, incluindo uma ode à seresta ("Serenata", 2020), um trabalho com versões de forrós de Luiz Gonzaga gravados em dueto com Elba Ramalho ("Festa", 2021), um lindo disco com Renato Teixeira ("Naturezas", 2022) e um tributo a Belchior ("Meu Parceiro Belchior", 2022).

"Além Desse Futuro" é um disco conciso —oito músicas em pouco mais de 33 minutos— em que Fagner faz uma radiografia de sua vida na última década, homenageando amigos e parceiros que se foram e reafirmando relações criativas com colaboradores antigos, como Fausto Nilo e Zeca Baleiro, e novos, como Jorge Vercillo e Toninho Geraes.

A faixa-título, uma balada plangente, abre o disco e é uma parceria com o poeta cearense Fausto Nilo, que trabalha com Fagner há meio século: "Se eu vejo a luz do teu olhar / desejo tudo e mais além / E posso até dizer que sei, ó meu amor / em que tempo esse futuro passará".

"Noites do Leblon" é mais animada, uma baladona pop, composta em parceria e cantada em dueto com Zeca Baleiro, que abre com uma guitarra que lembra o Fagner pop de "Deslizes" e tem um refrão para cantar junto: "Todas as canções que fiz, fiz por amor / compositor da vida / mesmo que pareça ser banal / é o sal do amor que irá curar nossa ferida".

Depois é a vez da autobiográfica "Filho Meu", escrita com Caio Sílvio , autor de grandes sucessos de Fagner, como "Noturno (Coração Alado)" e "Pequenino Cão". A música é uma cantiga-tributo ao filho Bruno Tocantins, que Fagner descobriu em 2006, quando Bruno tinha 32 anos. A paternidade tardia presenteou Fagner com dois netos, Arthur e Clara, e a música deixa evidente a felicidade que a descoberta deles causou ao compositor: "Dias de verão / Vão te surpreender / A vida é mesmo pra valer (...) / Dias sim dias não / A luz virá da escuridão / Faça o bem, siga a sua intuição / Pois dentro de você / No coração há um lugar / Que mal algum pode alcançar".

Outro destaque do novo disco é uma versão de Fagner para "Onde Deus Possa Me Ouvir", do compositor mineiro Vander Lee (1966 - 2016). Em 2022, o cearense fez um show-tributo a Vander Lee em Belo Horizonte. Sobre a gravação da música, Fagner declarou: "É uma justa homenagem a um dos artistas mais talentosos da nossa música, que nos deixou tão cedo. Tive a oportunidade de conviver com ele, ainda que por pouco tempo, mas fiquei lhe devendo a gravação desse hino, que falou tão fundo ao meu coração, assim como a tantos brasileiros".

O novo disco não apenas reaviva antigas parcerias, mas inaugura duas novas colaborações. A primeira é com a dupla Toninho Geraes e Chico Alves na romântica "Ponta de Punhal" (a canção conta com um solo de guitarra de Cristiano Pinho, músico que gravou e acompanhou Fagner por três décadas e morreu, aos 59 anos, em julho de 2024).

A segunda parceria nova é com Jorge Vercillo no reggae "Amigo de Copo", outra canção que fala sobre finitude e ecoa particularmente forte depois da partida de Cristiano Pinho: "Vejo o tempo escorrendo nesse copo em minhas mãos / sou igual a um garimpeiro / decantando areia em vão (...) Aguardente em meu deserto / oceano em solidão / meus amigos vão morrendo / e esse copo em minhas mãos".

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