Em cinco anos, uma pessoa pode mudar bastante. Um grupo de pessoas, muito mais. E se amadurecer é algo nem sempre bom à arte, que pode ficar mais comportada e até chata, no caso do 5 a Seco essa meia década sem gravar fez muito bem à banda.
Quando contemplado por inteiro, o quinto álbum do grupo que acaba de chegar às plataformas, "Sentido", é o disco mais empolgante do quinteto paulistano. Onde havia instrumentistas incríveis e mentes criativas bem intencionadas, agora está uma banda que vai além e consegue elencar 15 faixas e superar expectativas a cada uma.
Embora todas as músicas possam ser enquadradas numa espécie de MPB sofisticada, definição horrível na falta de uma melhor, há uma grande diversidade na audição. De certo modo, o disco parece um "greatest hits", porque vários caminhos são trilhados, no instrumental e nas letras.
Apontar para várias direções é algo bem compatível com a origem do 5 a Seco. Afinal, este era um nome de um show montado em 2009 reunindo músicos que começavam a despontar na cena paulistana. Deu tão certo que virou um projeto fixo. E essas mesmas individualidades que forjaram uma equipe criativa também foi um pouco responsável por esses cinco anos sem atividades em conjunto.
Vinícius Calderoni se dedicou mais ao teatro, escrevendo e dirigindo. Tó Brandileone produziu muita gente, enquanto Leo Bianchini se reuniu ao grande número de músicos brasileiros tentando fincar pé na cena portuguesa. E, para não dizer que não houve nenhum projeto em comum, Pedro Viáfora e Pedro Altério fizeram o duo Pedros e tiveram experiências solo.
A abertura de "Sentido" parece uma declaração de intenções do 5 a Seco, como se eles quisessem deixar claro que o grupo continua resistindo a qualquer tipo de protagonismo individual.
Na faixa inicial, "Comédia de Enganos", composição de Calderoni com Alfredo Del Penho e Beto Lemos, essa individualidade fica explícita na opção de cada integrante cantar uma estrofe da letra, que tem um inegável DNA de Chico Buarque. E essa influência é tão forte que eles conseguiram convencer o próprio Chico a colocar voz na última estrofe. Uma participação que, na MPB, vale como um troféu.
Para brincar com o título do álbum, que é o quinto na discografia da banda, é inegável que o trabalho faz muito sentido. Porque as variações instrumentais são evidentes, expansivas, mas cada canção parece ter pontos de conexão com as outras. Algumas faixas são percebidas entrelaçadas com a seguinte, quase como a trilha de um musical.
Quando o som sai fora da curva, a coisa não desanda, mas melhora, como na balançada "Bagulho Doido", que prova a existência de um funk essencialmente brasileiro, com percussão e cordas. A percussão, é preciso dizer, aparece com um dos trunfos do disco. Mais insinuada em faixas como "Amor e Só", ou com mais peso em "A Vera".
Talvez a maioria dos fãs saudosos do 5 a Seco tenha como maior atração no grupo as baladas, que aqui retornam com força. O grupo sempre falou de amor de uma maneira bem peculiar, com um discurso bem distante da estrutura comum do linguajar romântico.
No novo álbum, o quinteto reúne uma trinca de canções sedutoras. Fica fácil perceber como cada um tem sua colaboração para dar nessa viagem lírica, porque são compositores diferentes. "Deixa Eu Gostar de Você" é de Pedro Altério e Celso Viáfora; "Ela Apareceu", foi escrita por Pedro Viáfora; e "Milagre" é uma parceria de Tó Brandileone e Vinicius Calderoni.
Como um todo, o disco é envolvente, com várias configurações instrumentais a serviço de quem escuta. Talvez com um pouco mais de piano e menos violão do que nos trabalhos anteriores mais recentes.
"Sentido" fecha com as ótimas "Pequenas Alegrias" e "Sigamos". A primeira, entre batidas e silêncios bem marcados, tem uma letra enxuta e certeira: "Bem, talvez isso pareça um tanto zen/ Sei que hoje não tá fácil pra ninguém, também não está pra mim/ Foi um ano recheado de porém e muito pouco sim".
E "Sigamos", escrita e cantada pelos Pedros, é uma marcha, em sons e versos. Uma canção otimista, quase eufórica sobre a decisão de seguir em frente. E é bom que o 5 a Seco decidiu prosseguir. Depois de cinco anos, voltou ainda melhor.