Uma criança morreu por sarampo no oeste do estado do Texas, nos Estados Unidos, nesta quarta-feira (26), segundo autoridades estaduais de saúde. O óbito é o primeiro de um surto que está se espalhando na região e no estado do Novo México.
A criança de idade escolar não estava vacinada, de acordo com autoridades de Lubbock (Texas) e do Departamento de Serviços de Saúde do Estado.
O surto da doença ocorre em meio a preocupações crescentes entre especialistas em saúde pública sobre o declínio nas taxas de vacinação no país e a confirmação de Robert F. Kennedy Jr., proeminente cético em relação às vacinas, como secretário de saúde dos EUA.
Em uma reunião de autoridades na Casa Branca, na quarta-feira, Kennedy minimizou a notícia e disse que autoridades federais de saúde estavam "observando" o surto e notando que houve outros neste ano.
"Então não é incomum", afirmou. Kennedy não mencionou a vacinação, nem descreveu as medidas que o governo federal pode tomar para ajudar a conter o surto. Ele também citou duas mortes no Texas, embora as autoridades tenham dito que houve apenas uma.
Em "The Measles Book", publicado pela Children's Health Defense —organização antivacinas sem fins lucrativos fundada por Kennedy—, o secretário escreveu que "surtos de sarampo foram fabricados para criar medo", levando autoridades governamentais a "impor vacinas desnecessárias e arriscadas a milhões de crianças com o único propósito de engordar os lucros da indústria".
Até 20 de fevereiro foram registrados três surtos de sarampo nos Estados Unidos em 2025 e 16 no ano passado, de acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças). Os surtos de 2024 totalizaram 285 casos. A contagem deste ano, até o momento, é quase a metade disso.
Alguns especialistas se opuseram à descrição do surto como nada incomum.
"Cada surto, doença, hospitalização e morte é uma tragédia, porque é totalmente evitável com essas vacinas", disse David Higgins, pediatra e especialista em medicina preventiva do Campus Médico Anschutz da Universidade do Colorado.
"Agora, o que precisamos fazer como nação é reconstruir e construir confiança em uma das maiores ferramentas de saúde pública já criadas", completou.
Pelo menos 124 casos de sarampo foram identificados no Texas desde o final de janeiro, principalmente entre crianças e adolescentes que não foram vacinados ou cujo status de vacinação era desconhecido, segundo autoridades de saúde locais.
Destes, 18 foram hospitalizados. Este surto de sarampo é o maior do estado em mais de 30 anos, diz Katherine Wells, diretora de saúde pública em Lubbock, no Texas.
O sarampo é uma doença respiratória altamente contagiosa que pode ser fatal para qualquer pessoa que não esteja protegida contra o vírus.
Os médicos dizem que a melhor maneira de se proteger contra a doença é com duas doses de um imunizante, geralmente administrado a crianças como uma vacina combinada de sarampo-caxumba-rubéola (MMR). Duas doses previnem mais de 97% das infecções por sarampo.
A maioria dos casos se concentrou no condado de Gaines, uma área na extremidade oeste do Texas. É o lar de milhares de menonitas, um grupo cristão insular que historicamente teve taxas de vacinação mais baixas. Autoridades disseram que a criança que morreu morava na região.
No ano passado, cerca de 82% da população do condado recebeu a vacina MMR. Especialistas dizem que pelo menos 95% das pessoas de uma comunidade precisam ser vacinadas para evitar surtos.
Autoridades de saúde pública dizem acreditar que o surto tenha começado nessa comunidade e depois se espalhado para condados vizinhos, onde as taxas de vacinação infantil estão significativamente abaixo das metas federais.
O estado do Novo México também relatou um surto, com nove casos no condado de Lea, na parte sudeste do estado, na fronteira com o Texas.
Quatro desses casos são de crianças menores de 18 anos, todas não vacinadas, de acordo com Robert Nott, porta-voz do Departamento de Saúde do Novo México. Nenhum dos casos levou a hospitalizações, segundo ele.
A taxa nacional de imunização contra o sarampo nos EUA, que caiu durante a pandemia de Covid-19, não se recuperou para os 95% necessários para conter a propagação da doença. Pouco menos de 93% das crianças no jardim de infância tomaram a vacina contra sarampo, caxumba e rubéola no ano letivo de 2023 e 2024, de acordo com o CDC.
As campanhas antivacina frequentemente têm como alvo a vacina MMR.
"O que é mais alarmante para mim é que estamos vendo reduções nas taxas de vacinação contra sarampo, especialmente em comunidades específicas", diz Higgins. "E o sarampo é tão incrivelmente contagioso que se espalha como fogo quando chega a uma comunidade com uma taxa de vacinação muito baixa."
Contágio e sintomas
O vírus do sarampo pode permanecer no ar por até duas horas após uma pessoa infectada ter saído do quarto. Cada pessoa infectada pode espalhar a doença para até outras 18.
O vírus se espalha quando uma pessoa infectada respira, tosse ou espirra. Dentro de uma ou duas semanas após a exposição, aqueles que estão infectados podem desenvolver febre alta, tosse, coriza e olhos vermelhos e lacrimejantes.
Em poucos dias, uma erupção cutânea aparece como manchas vermelhas e planas no rosto e depois se espalha pelo pescoço e tronco para o resto do corpo.
Na maioria dos casos, os sintomas do sarampo desaparecem em algumas semanas. Mas, em casos raros, o vírus causa pneumonia —dificultando que os pacientes, mas especialmente as crianças, levem oxigênio aos pulmões— ou inchaço cerebral, o que pode causar problemas duradouros, incluindo cegueira, surdez e deficiências intelectuais.
Para cada 1.000 crianças que contraem sarampo, 1 ou 2 morrerão, de acordo com o CDC. O vírus também enfraquece as defesas imunológicas, deixando o corpo vulnerável a outros patógenos.
Um estudo de 2015 estimou que, antes da vacinação generalizada, o sarampo pode ter sido responsável por até metade de todas as mortes por doenças infecciosas em crianças. Mesmo agora, as consequências podem ser sérias. Cerca de 40% das pessoas infectadas no ano passado foram hospitalizadas, de acordo com o CDC.
Autoridades de saúde do Texas têm, com algum sucesso, encorajado a população a tomar a vacina MMR. Desde que Lubbock começou a realizar iniciativas há duas semanas, os profissionais de saúde vacinaram cerca de cem pessoas a mais do que normalmente fariam, embora o comparecimento tenha diminuído nos últimos dois dias.