O país que deu ao mundo bandas populares como BTS e sucessos como "Parasita" e "Round 6" agora está exportando algo mais lento. A publicação de "Marigold Mind Laundry", (A incrível lavanderia dos corações, em tradução livre), nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha neste mês chama a atenção para a mais recente tendência sul-coreana: o romance de cura.
Esses livros sobre esgotamento podem ser julgados por suas capas, que exalam uma paz saudável. A maioria retrata um edifício atraente em uma cor suave, com a natureza artisticamente disposta ao redor. Nas histórias, os personagens deixam para trás o estresse em busca de algo mais significativo.
Um executivo de sucesso abre uma livraria; uma roteirista de TV larga o emprego e começa aulas de cerâmica. A conexão com um novo lugar traz conexões com novas pessoas em suas próprias buscas por bem-estar. De gatos a kimchi, sorvete a café, abundam os "elementos de cura aconchegantes", diz Clare Richards, tradutora de "Temporada de Cura no Ateliê Soyo" (Bertrand Brasil), romance popular na Coreia que será lançado internacionalmente em breve, inclusive no Brasil.
A Coreia do Sul há muito tem um mercado para contos reconfortantes com temas de cura, assim como o Japão. Mas a tendência atual surgiu durante a pandemia, quando o gênero começou a dominar as listas de mais vendidos sul-coreanos. A representação de espaços comunitários teve forte apelo durante um período de restrições sociais, diz a agente de direitos internacionais Joy Lee.
Como muitos passatempos, a ficção de cura prosperou online, atraindo jovens leitoras que buscavam recomendações nas redes sociais. Vários romances foram publicados primeiro online ou por meio de financiamento coletivo, em vez de rotas convencionais de publicação. Críticas entusiásticas de estrelas do K-pop ajudaram a alimentar a tendência.
Editoras internacionais tomaram nota. Bloomsbury, Hachette e HarperCollins publicaram ou adquiriram bestsellers de K-healing; a Penguin Random House lançará três títulos nos próximos quatro meses. A ficção coreana de repente estava na moda e "explodiu completamente", diz Jane Lawson da Penguin Random House. A tendência de cura tornou-se "totalmente global"; muitos títulos têm contratos em 15 a 20 territórios.
Isso reflete uma mudança mais ampla, com o interesse por ficção traduzida aumentando, especialmente entre jovens leitores. Em 2022, as vendas de ficção traduzida aumentaram 22% na Grã-Bretanha; quase metade dos leitores tinha menos de 35 anos, de acordo com a Booker Prize Foundation, que concede prêmios literários.
"Sempre tivemos gêneros muito diversos na Coreia, mas agora parece que ficção de cura é sinônimo de ficção coreana" para editoras internacionais, diz Lee, que observa que as ofertas literárias dentro da Coreia são mais diversas do que o que está sendo exportado.
Por que a Coreia do Sul gerou o romance de cura? É uma função de sua cultura competitiva, repleta de esgotamento. Sete em cada dez sul-coreanos relatam problemas de saúde mental, como depressão; "cafés" de soneca são comuns em Seul. Os personagens dos livros lutam com exaustão no trabalho ou buscam emprego sem sucesso.
"Sou bom em estudar... Eu trabalho muito. Como a sociedade ousa me virar as costas?" lamenta um graduado desolado em "Welcome to the Hyunam-Dong Bookshop" (2022), "Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong" (Intrínseca), de Hwang Bo-reum, um best-seller sobre uma mulher que larga o emprego e abre uma livraria. Hwang quer confortar os leitores "dando um tapinha no ombro daqueles que perderam a alegria na vida, tendo se esforçado demais para se sair bem", explica a autora em nota.
O sucesso do gênero também indica o apelo do escapismo. Às vezes, as localizações dos romances são maravilhosas e conscientes: uma lavanderia que lava traumas ou uma loja onde você pode comprar sonhos. Os livros se beneficiam de uma leitura lenta, diz Shanna Tan, tradutora de vários romances de cura. Os leitores vêm para palestras sobre livros com suas cópias fortemente anotadas a tiracolo com palavras de conselhos de vida sublinhadas. É terapia por meio da literatura.
Texto de The Economist, traduzido por Helena Schuster, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com