Pessoas que produzem conservas caseiras, que fazem procedimentos estéticos com toxina botulínica (conhecida pelo nome comercial Botox) e aqueles que consomem frutos do mar estão mais vulneráveis a desenvolver botulismo.
A doença é uma intoxicação grave causada pela bactéria Clostridium botulinum, que produz a toxina botulínica, usada no Botox e encontrada na natureza, capaz de causar paralisia e perda de reflexos no corpo ao atingir o sistema nervoso e, nos casos mais graves, morte.
Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as práticas incorretas de manipulação dos alimentos podem levar à contaminação do alimento e causar doenças como o botulismo.
"Com o crescimento do veganismo, muitos passaram a preparar conservas em casa sem seguir as etapas corretas de vedação e refrigeração, permitindo a proliferação da bactéria", explica o infectologista Marcelo Simão, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
"Não se deve subestimar o risco ao preparar alimentos em casa. Há uma série de regras que precisam ser seguidas para evitar a proliferação da bactéria", diz.
Além das conservas caseiras e do consumo de frutos do mar mal conservados ou enlatados de forma inadequada, Simão menciona o risco de contrair botulismo pelo uso do botox, que utiliza pequenas quantidades de toxina botulínica para paralisar os músculos e melhorar rugas e linhas de expressão.
"Quando aplicado de forma exagerada, o paciente pode apresentar sintomas de botulismo, já que a toxina utilizada é a mesma. No entanto, é um cenário raro, pois a quantidade usada nesses procedimentos costuma ser bem controlada", afirma.
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Segundo o infectologista, a doença pode causar sequelas neurológicas e respiratórias graves se não for tratada rapidamente.
"O soro antibotulínico deve ser administrado o quanto antes para neutralizar a toxina e evitar complicações graves", diz.
No entanto, por apresentar sintomas comuns, como dores de cabeça, diarreia e náusea, o diagnóstico passa a ser mais difícil.
"Não há exames rápidos para detectar, somente testes laboratoriais. Se houver suspeita, é importante agir rápido", orienta.
O que é botulismo?
Botulismo é uma intoxicação grave causada pela neurotoxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum. Essa toxina é a mais potente encontrada na natureza e pode causar paralisia e perda de reflexos no corpo ao se ligar ao sistema nervoso, segundo Alexandre Barbosa, coordenador científico da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Em condições normais, o corpo humano consegue lidar com a bactéria de forma natural e sem nenhum sintoma, porém quando ela inicia o processo de fermentação e produz a toxina botulínica, passa a representar um perigo maior.
Mesmo se ingerida em pouquíssima quantidade, a toxina pode causar envenenamento grave em questão de horas.
O botulismo é comum?
Não. Apesar de ser uma doença grave, o botulismo é raro.
Atualmente, os casos no Brasil não superam uma dezena por ano, graças à maior industrialização e higienização dos alimentos.
Como se pega botulismo?
A forma mais comum é pelo consumo de alimentos contaminados, como conservas mal higienizadas, salsichas artesanais, carnes enlatadas e produtos de origem animal mal preparados.
Também pode ser contraído pela ingestão de produtos com toxinas ou pela presença da bactéria no intestino.
A bactéria não é contagiosa, ou seja, não transmite de pessoa para pessoa.
Quais são os principais sintomas?
Barbosa explica que os primeiros sintomas da doença são comuns, o que dificulta o diagnóstico.
"De 48h a 72h após a contaminação começam os sintomas leves. Depois, em até um mês, a toxina se liga aos neuroreceptores e começam os sinais mais graves, como a dificuldade para respirar e as paralisações de músculos", afirma.
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Sintomas iniciais
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Dores de cabeça
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Tontura
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Sonolência
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Visão turva
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Diarréia
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Náusea
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Vômito
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Sintomas graves
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Fraqueza
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Perda de sensibilidade nas pernas e braços
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Paralisação dos músculos do rosto
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Dificuldade para abrir os olhos, falar e engolir
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Dificuldade para respirar
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Segundo o Ministério da Saúde, a doença pode levar à morte por paralisia da musculatura respiratória.
Como prevenir o botulismo?
Para evitar o botulismo, é importante não consumir conservas de latas estufadas, vidros embaçados ou alimentos vencidos.
Ao preparar conservas caseiras, é essencial fervê-las por pelo menos 15 minutos e armazenar alimentos abertos a temperaturas abaixo de 15°C.
Manter uma boa higiene das mãos também ajuda a prevenir a contaminação.
Como funciona o tratamento do botulismo?
O tratamento do botulismo deve ser realizado em uma unidade hospitalar com UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para garantir o monitoramento adequado. Quanto antes for iniciado, menor é o risco de morte do paciente e maiores são as chances de não deixar sequelas.
O processo de recuperação é lento e depende de como o organismo reage ao tratamento.
O Ministério da Saúde indica duas linhas de tratamento principais:
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Tratamento de suporte: envolve medidas gerais de suporte e monitoramento cardiorrespiratório.
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Tratamento específico: usa o soro antibotulínico (SAB) para eliminar a toxina e antibióticos para tratar a bactéria C. botulinum.
O SAB é fornecido pelo SUS (Sistema Único de Saúde) após notificação do caso suspeito.