Foco do G20 está no combate à fome, no desenvolvimento sustentável e na reforma de organizações multilaterais. As prioridades do G20 de 2024 vão justamente na contramão do pensamento político de Trump e de Milei. Foram definidas pelo governo Lula, já que o Brasil tem a presidência do grupo neste ano.
G20 analisa também financiamento aos acordos climáticos, e Milei e Trump podem atrapalhar. Ao longo do ano, integrantes do G20 têm discutido a possibilidade de criação ou de aumento de verba para fundos de combate ao aquecimento global e à mudança climática. Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, diz que os EUA sob Trump podem prejudicar ou se retirar das conversas sobre formas de financiamento. Isso enfraqueceria as negociações e seria uma "desculpa perfeita" para outros países que não quiserem assumir compromissos para mitigar o aquecimento do planeta. Nesta semana, Milei determinou que a comitiva argentina abandonasse a COP29, a cúpula do clima na ONU.
Articulações políticas internacionais podem perder força. Monique Goldfeld, professora do IDP (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento, Ensino e Pesquisa), diz que a falta de comprometimento de Trump com organizações multilaterais têm impacto muito grande "em questões que envolvem a legislação internacional para proteger os direitos humanos". Ela destaca que a costura política com outros países é super delicada e que, "ao que tudo indica, muitas dessas articulações políticas não irão adiante, fazendo com que subterfúgios tenham que ser uados para driblar os EUA" nas negociações.
Multilateralismo reduz poder de decisão. Sarang Shidore, diretor do Quincy Institute, centro de estudos com sede em Washington, afirma que, tradicionalmente, os conservadores americanos não gostam da burocracia internacional e tampouco da imposição de legislações externas sobre o país. Por isso, diz ele, um fórum como o G20 não é confortável para os EUA como é para Europa ou para o Brasil. No entanto, pondera que Trump precisará discutir algumas questões e que "os EUA não são dominantes como nos anos 1990".
Milei e Trump defendem o nacionalismo. Danielle Ayres, professora de política internacional e segurança da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), diz que a extrema-direita se posiciona contra o multilateralismo por entender que a única maneira de existir como Estado é dentro de uma lógica nacionalista, "onde a interação com os demais Estados é sempre uma competição, e onde não cabe interagir com os demais num lógica interdependente".
Ou seja, para eles, o aumento das relações entre os Estados que a globalização trouxe destrói a característica nacional. Assim, todo e qualquer espaço multilateral como o das organizações deve ser enfraquecido ou colocado em segundo plano.
Danielle Ayres, professora de política internacional e segurança da UFSC