Como treinar seu cérebro para lembrar de números, datas e outras informações

há 3 meses 9

Tendemos a achar que a memória de alguém ou é boa ou é ruim. No entanto, você pode conhecer uma pessoa com uma memória terrível para nomes e rostos, mas excelente para aprender idiomas. Outra pode ter uma capacidade extraordinária de lembrar eventos passados em detalhes, mas dificuldade para gravar números de telefone.

Essas aparentes contradições são o resultado da complexidade da nossa memória. Na verdade, nossa memória é composta de vários sistemas, que são apoiados por uma série de estruturas e mecanismos neurobiológicos que variam dependendo do que estamos aprendendo e como.

Aprender um novo idioma, por exemplo, não usa os mesmos mecanismos ou processos cerebrais que as informações científicas. Isso dificulta a generalização sobre o que torna uma estratégia de memória mais ou menos eficaz em um ambiente educacional.

Neste artigo, focaremos apenas na memória declarativa: informações explícitas que podemos acessar conscientemente, como fatos, datas, nomes, eventos passados, conceitos e assim por diante.

Estratégias de memória e mnemônica

Estudos sobre especialistas em memória competitiva (pessoas que conseguem lembrar de grandes quantidades de informação) mostraram que, embora a genética seja responsável por sermos melhores ou piores em lembrar dados, é possível desenvolver uma capacidade excepcional de lembrar usando estratégias há muito utilizadas.

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As técnicas mais comuns, conhecidas como mnemônica, são baseadas na criação de imagens mentais ou estratégias verbais que geralmente exigem muito treinamento.

Métodos de visualização —como o método dos loci— consistem em associar os itens a serem lembrados a lugares específicos. Por exemplo, você pode memorizar uma lista de compras seguindo mentalmente sua rota para o trabalho e deixando os itens da lista em diferentes lugares ao longo do caminho. Quando quiser lembrar deles, você só terá que refazer mentalmente a rota.

Esse método é comumente usado por especialistas em memória, e dados de neuroimagem mostram que, durante tarefas de memorização, especialistas em memória têm maior ativação nas áreas do cérebro responsáveis pelo processamento de ambientes espaciais.

A eficácia das estratégias mnemônicas está enraizada em três princípios fundamentais:

  1. Relacionar as informações que você quer aprender com coisas que você já sabe.
  2. Lembrar da rota para acessar a informação junto com a informação em si para recuperá-la rapidamente.
  3. A prática leva à perfeição: treinar e praticar os dois primeiros processos é essencial para uma memória afiada e ágil.

Pesquisas sobre especialistas em memória sugerem que se alguém pode ser treinado em estratégias de memória para lembrar 67.890 dígitos do número pi, isso também pode ser usado para impulsionar o aprendizado nas escolas. No entanto, embora as técnicas mnemônicas espaciais ou verbais tenham se mostrado altamente eficazes, a aplicação na vida cotidiana é limitada.

Na escola, isso significa que elas podem ser usadas para aprender listas —como planetas ou elementos químicos— mas não para assuntos ou informações mais complicadas.

Codificação de memórias e redes de conhecimento

Por causa dessas limitações em contextos escolares, vale a pena procurar outras formas de melhorar a memória. Podemos fazer isso focando nos elementos envolvidos nos próprios processos de memória e aplicando os mesmos princípios das estratégias mnemônicas.

A criação de uma memória começa quando a informação é percebida, catalogada e codificada pela primeira vez no cérebro. Sabemos que o fator mais importante no aprendizado de novas informações não é a intenção ou o desejo de aprender, mas sim o que fazemos com as informações.

Processar profundamente as informações relacionando-as ao conhecimento existente é a chave para facilitar a memorização —é muito mais eficaz relacionar informações a coisas que já sabemos do que apenas repetir mentalmente algo até que fique gravado.

Portanto, é essencial criar redes ricas de conhecimento nas quais você possa integrar e organizar novos conhecimentos. Lembrar quando o primeiro presidente americano foi eleito será muito mais fácil se relacionarmos com o que já sabemos sobre, por exemplo, a Revolução Francesa. Os pesquisadores chamam isso de codificação semântica.

O processo de recuperação de uma memória é tão importante quanto o processo de codificação. Muitas vezes sabemos algo, mas não conseguimos acessá-lo, como quando o nome de uma pessoa está na ponta da língua, mas você não consegue lembrar.

Para que o treinamento da memória seja eficaz, devemos, portanto, armazenar as chaves com as quais iremos acessá-lo junto à própria informação. A prática repetida é essencial para que a memorização ocorra de forma mais eficiente e rápida.

Conhecendo sua própria memória

Nas escolas, o método mais eficaz não consiste em simplesmente ensinar técnicas de memorização, mas sim ajudar os alunos a aprender como suas próprias memórias funcionam. Como regra geral, quanto mais conhecimento eles já têm e quanto mais tempo praticam estratégias eficazes de memorização, mais fácil será para eles adquirirem novos conhecimentos.

Também é essencial ensinar aos alunos quais estratégias de estudo são as mais eficazes para diferentes tipos de conteúdo e avaliação, e focar em aplicá-las com flexibilidade.

* Claudia Poch é coordenadora de Doutorado em Educação e Processos Cognitivos na Universidade de Nebrija e Jorge González Alonso é pesquisador sênior do Centro de Pesquisa Nebrija em Cognição da Faculdade de Línguas e Educação da Universidad Nebrija.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.

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