A decisão sobre onde investir sempre traz dúvidas, mas quando o cenário é instável, essa escolha pode parecer um verdadeiro quebra-cabeça. Em tempos de mudança política ou econômica, o investidor olha para o passado em busca de uma orientação. Mas será que isso ajuda?
O último mandato do presidente Donald Trump, que começou em 2017 após sua vitória em novembro de 2016, trouxe mudanças significativas ao mercado, e, na época, os ativos financeiros reagiram intensamente. Com cortes de impostos, estímulos econômicos e um dólar valorizado, o mercado de ações nos Estados Unidos foi um dos grandes beneficiados. Mas nem todos os ativos seguiram essa trajetória, e o impacto sobre investimentos internacionais e brasileiros também foi significativo. A tabela abaixo apresenta os retornos que os principais ativos financeiros apresentaram no período entre novembro de 2016 ao fim de 2020.
Os dados do período mostram que os ativos de maior risco, especialmente as ações americanas, foram os grandes vencedores. O índice Nasdaq teve um retorno de 270,39%, seguido pelo S&P 500, com 161,35%, enquanto o índice MSCI ACWI, que representa a bolsa global, acumulou 159,58%. Esses retornos expressivos ocorreram principalmente por conta da política econômica expansionista e dos cortes de impostos promovidos pelo governo Trump, que incentivaram o crescimento das empresas americanas.
270,39% |
161,35% |
159,58% |
92,25% |
88,08% |
71,68% |
56,24% |
55,28% |
52,99% |
44,36% |
28,80% |
16,78% |
7,92% |
Parte desses retornos é reflexo da variação cambial, com a valorização do dólar frente ao real. Esse movimento favoreceu os ativos americanos para o investidor brasileiro, pois, ao serem convertidos para reais, ampliaram os ganhos. No caso dos títulos americanos, as Treasuries, essa valorização cambial foi crucial. Em dólares, esses ativos não obtiveram retornos tão expressivos, mas a conversão para reais alavancou o ganho em 88,08%, demonstrando como o câmbio pode ser um aliado para quem investe em ativos internacionais.
Agora, quando olhamos para o Brasil, o cenário econômico de 2017 a 2020 foi marcado por um ciclo de queda na taxa de juros, o que favoreceu o mercado de ações e produtos atrelados ao IPCA. O Ibovespa, por exemplo, se valorizou (92,25%), mas, por aqui, o cenário de juros baixos foi um fator fundamental, dando força à renda variável e aos fundos imobiliários.
Hoje, no entanto, estamos no ciclo de juros oposto ao daquela época. O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou hoje a taxa Selic para 11,25% ao ano. E o mercado projeta que a taxa pode chegar a 13,5% até meados de 2025. Esse cenário de alta de juros limita a valorização de ativos de risco locais, como ações e fundos imobiliários, ao mesmo tempo em que reduz a atratividade de títulos prefixados e atrelados ao IPCA. Porém, para quem busca retornos previsíveis, essa alta de juros coloca a renda fixa em uma posição de destaque — algo que não víamos entre 2016.
No final das contas, o último mandato de Trump foi um período de ouro para ativos de risco americanos, especialmente ações, impulsionados por estímulos fiscais e pela valorização do dólar. O cenário atual de queda de juros nos EUA e políticas expansionistas de Trump pode repetir a dose por lá.
Já no Brasil, a queda dos juros também favoreceu ativos como o Ibovespa e os fundos imobiliários no passado. Mas agora, o cenário está bem diferente, com juros em alta e incertezas globais, o que torna o momento atual mais favorável para a renda fixa brasileira referenciada ao CDI. A mesma alta de juros pode favorecer uma valorização do Real, ao contrário do que ocorreu no último mandato.
A análise desses períodos destaca como as decisões de investimento devem se adaptar ao cenário econômico de cada momento. Reavalie seu portfólio com base nas políticas monetárias atuais e no ciclo de juros. Olhar para o passado ajuda, mas manter os olhos no contexto atual é essencial para tomar decisões mais seguras e consistentes.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
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