: Como foi a cerimônia do Globo de Ouro, com boas piadas e câmera invasiva

há 1 dia 2

O Globo de Ouro deste domingo (5) não pôs um sorriso apenas nos rostos dos brasileiros, com o troféu de Fernanda Torres pela atuação em "Ainda Estou Aqui", como também arrancou boas risadas do resto do mundo com o surpreendente achado que foi sua apresentadora, a comediante Nikki Glaser.

Nos últimos anos, os únicos monólogos de abertura tão engraçados e cuidadosamente ofensivos assim foram os da dupla dinâmica e imbatível formada por Tina Fey e Amy Poehler, em quatro edições diferentes. Algumas piadas passaram do ponto, mas é parte do show –o difícil é achar um equilíbrio entre o divertido e o ácido, o que Glaser fez.

"Eu acho que realmente consegui. Eu estou numa sala cheia de produtores, no hotel Beverly Hilton, e dessa vez estou vestindo todas as minhas roupas. Acho que valeu a pena", disse a anfitriã bem no comecinho, fazendo troça dos casos de assédio sexual que mancharam Hollywood a partir do MeToo.

"Vocês são tão poderosos, podem fazer o que quiserem, menos dizer a um país em quem votar. Talvez na próxima. Se houver próxima. Estou com medo", disse ela, rindo junto com a sala de estrelas influentes e liberais ao lembrar amargamente da reeleição de Donald Trump.

Problemas técnicos atrapalharam, tanto na transmissão, quanto dentro do salão do hotel, com teleprompters sem sincronia e uma câmera que não acompanhou o indicado que deveria ser o destaque da vez, enquanto os nomes de melhor ator em série de drama eram anunciados.

Próximas demais dos convidados, as lentes queriam dar um senso maior de intimidade para quem acompanhava de casa, mas atrapalharam a movimentação e, aparentemente, constrangeram os convidados, como Seth Rogen disse, sem cerimônia, ao apresentar um prêmio.

E se Glaser se mostrou à vontade em suas aparições, as piadinhas redigidas para os apresentadores das categorias, os atores que anunciam quem venceu o quê, foram irregulares. Algumas dinâmicas, como a de Demi Moore e Margaret Qualley, estavam muito bem azeitadas, enquanto outras penaram para aliviar o peso da infinita lista de categorias.

Moore, aliás, fez um dos discursos mais fortes e aplaudidos da noite. Restabelecida numa indústria que a usou e depois a julgou pela aparência, ela deixou claro que deu a volta por cima nesta que é a grande atuação de sua carreira, "A Substância".

"Há alguns anos um produtor me disse que eu era uma 'atriz pipoca', e isso me corroeu", disse ela ao agradecer o troféu de atriz em filme de comédia ou musical. "Quando eu estava nesse ponto baixo da carreira, esse roteiro maluco chegou na minha mesa, e o universo me disse que eu não havia chegado ao fim."

Zoe Saldaña, melhor atriz coadjuvante pelo filme "Emilia Pérez", e Tadanobu Asano, melhor ator coadjuvante pela série "Xógum: A Gloriosa Saga do Japão", deram outros dos discursos mais autênticos da noite. E, claro, Fernanda Torres, ao dedicar sua vitória à mãe, o tesouro nacional que é Fernanda Montenegro.

Quanto à reputação do prêmio, continua sendo tragicamente cômico observar a repentina normalidade dos figurões de Hollywood em relação ao Globo de Ouro, cancelado por uma série de acusações de compra de votos e racismo.

O passado foi esquecido, a edição do ano passado sinalizou e a deste, confirmou, apesar de a associação, agora reformulada, ter encontrado caminhos para continuar mimando seus votantes. São festas, lembrancinhas e conversas exclusivas com artistas que indiscutivelmente reposicionam a corrida dos melhores do ano conforme o poderio financeiro de cada filme ou série.

Nenhuma menção às denúncias do passado foi feita durante a festa, que seguiu com estrelas levemente alcoolizadas e dispostas a esquecer as mágoas.

"Uma das premiações mais prestigiosas dos Estados Unidos", dizia o teleprompter de Catherine O’Hara, antes de a atriz apresentar uma das categorias. "Não há premiação melhor em Hollywood do que o Globo de Ouro", disse Rogen em seguida, de forma exageradamente entusiasmada —para reforçar a mensagem ou, quem sabe, como um lembrete necessário.

Leia o artigo completo