Paira entre os fãs do Superman uma incerteza sobre como o diretor James Gunn vai retratar o personagem no filme que será lançado em julho. Se trata, afinal, do herói mais engomadinho de todos os tempos, agora nas mãos do cineasta que injetou humor abobalhado na trilogia dos Guardiões da Galáxia, da Marvel, e que na DC fez um Esquadrão Suicida cheio de palavrões e sanguinolência.
Gunn se derrete por todo tipo de mal-comportamento que o Superman desprezaria. Nos gibis clássicos, o herói de cabelo lambido é bastião da honestidade e defensor da esperança.
Por isso havia tanta expectativa pelo trailer do vindouro "Superman", lançado na manhã desta quinta-feira. É o primeiro vislumbre da nova abordagem do herói, já interpretado por três atores diferentes no cinema, e que agora ressurge na pele do americano David Corenswet, de 31 anos e currículo modesto.
A julgar pelo comercial, Gunn preferiu frear seu lado megalomaníaco. Ele colou um amontoado de cenas que tentam lembrar ao espectador todo o virtuosismo do herói, o inabalável e imparável extraterrestre que atira laser pelos olhos, tem sopro congelante, músculos duros como aço e muita bondade no coração.
"Esse lado do personagem, sua esperança, honestidade e bondade, é considerado fora de moda por alguns hoje em dia", diz Gunn em conversa virtual com jornalistas. "Por isso assumir o Superman tem sido um paradoxo. Tenho vontade de fazer algo totalmente novo, mas que também não deixe de ser tradicional."
O jeito, ele explica, foi tentar equilibrar o clássico à novidade, ainda que o filme possa irritar fãs mais conservadores. "Quando fiz o primeiro filme dos Guardiões da Galáxia ninguém sabia quem eles eram. Havia, tipo, 12 pessoas no inteiro mundo que ficaram chateadas porque tirei a barbatana de um personagem", ele brinca.
"O Superman, por outro lado, é um dos personagens mais famosos do mundo, e todo mundo acha que sabe como ele deveria ser, como seu traje deveria parecer, quais deveriam ser os seus valores morais, quais são os seus poderes."
Ainda não dá para arriscar dizer como será a história —o trailer revela pouco do desenvolvimento, e se limita a mostrar cenas soltas do herói, ora de capa, ora despido do uniforme. Quando não precisa salvar o mundo, afinal, Superman é Clark Kent, um repórter. É no jornal onde ele se trabalha que se desenvolve o romance com Lois Lane, desta vez vivida por Rachel Brosnahan, que ganha destaque na prévia. Gunn promete que a relação dos dois será importante para a trama.
O trailer tem ainda um tom de homenagem ao personagem, reforçado pela adição de uma música que adapta o tema clássico composto por John Williams para "Superman: O Filme", de 1978. É um apelo à nostalgia —basta tocarem os primeiros acordes para qualquer pessoa lembrar do herói de cabelo lambido, uniforme azul e capa vermelha.
Gunn, elogiado pelas trilhas sonoras oitentistas de "Guardiões da Galáxia", afirma que sabia bem o poder que música terá no novo filme. "A trilha de John Williams foi o que mais me chamou atenção quando assisti o filme de 1978, ainda criança. Então pedi ao nosso compositor John Murphy que fizesse algo fora do normal com a música-tema. Trabalhamos arduamente nela, antes até de o roteiro ser finalizado."
Apesar desse apego à tradição do personagem, Gunn deu um jeito de imprimir sua assinatura. A cena que abre o trailer, com o Superman caído na neve, derrotado e sangrando, indica que a pancadaria do novo filme deve extrapolar o código moral do personagem, cujas histórias mais clássicas evitam violência em excesso.
O drama da cena é quebrado em seguida com a fofa aparição do cachorro Krypto, que chega para tentar salvar o herói. A sequência lembra o tom do último capítulo de "Guardiões da Galáxia", aliás, em que Gunn mostra o guaxinim Rocket, amado pelos fãs, em cenas de tortura.