Após a pausa do Natal, o dólar abriu a quinta-feira (26) em queda, com o mercado à espera de novo leilão de venda à vista de dólares por parte do Banco Central e de olho no exterior, onde os rendimentos dos Treasuries e a moeda norte-americana sustentam ganhos, numa sessão de liquidez reduzida.
Às 9h56, o dólar à vista caía 0,32% a R$ 6,164.
O Banco Central fará das 9h15 às 9h20 desta quinta mais um leilão de venda à vista de até US$ 3 bilhões. Além disso, das 11h30 às 11h40, o BC realizará leilão de até 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 3 de fevereiro de 2025.
Após duas sessões consecutivas de queda, o dólar encerrou o pregão da segunda (23) com disparada de 1,86%, a R$ 6,184. A situação reflete a frustração dos agentes financeiros com as contas públicas após a aprovação do pacote de corte de gastos no Congresso Nacional, segundo analistas.
Esse é o segundo maior valor nominal já registrado da moeda norte-americana, ficando atrás apenas do recorde alcançado em 18 de dezembro, quando fechou o dia a R$ 6,267.
Já a Bolsa encerrou em queda de 1,09%, aos 120.766 pontos. Já as taxas de juros futuros subiram mais de 40 pontos percentuais.
Internamente, as preocupações dos investidores seguiram voltadas para a área fiscal do governo, ainda que na sexta-feira o Senado tenha concluído a votação do pacote de medidas para segurar os gastos públicos. Com o Congresso em recesso até fevereiro, Brasília também vai diminuindo o ritmo neste fim de ano.
A equipe da XP estimou que, após tramitação do pacote no Congresso, o potencial de economia fiscal no próximo biênio recuou de R$ 52 bilhões para R$ 44 bilhões. Os cálculos do governo apontavam para cerca de R$ 70 bilhões.
"Apesar da direção correta, vemos esse ganho como insuficiente para garantir o atingimento das metas de resultado primário e, principalmente, a manutenção do limite de despesas do arcabouço fiscal nos próximos anos", afirmaram em relatório publicado mais cedo nesta segunda-feira.
"A frustração em torno do anúncio do pacote de controle de gastos contribuiu sobremaneira para a elevação da incerteza", afirmou a equipe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Daycoval, chefiado pelo economista Rafael Cardoso, em relatório com revisão de estimativas macroeconômicas.
No radar dos investidores também esteve o Boletim Focus, divulgado nesta segunda. Analistas consultados pelo Banco Central elevaram pela sexta semana seguida a projeção para a taxa básica de juros no final de 2025 e passaram a ver a Selic a 14,75%.
A projeção do mercado para a alta do IPCA em 2024 passou de 4,89% para 4,91% e em 2025 foi de 4,60% para 4,84% —em ambos os casos bem acima da meta contínua de inflação perseguida pelo BC, de 3%.
O centro da meta oficial para a inflação é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
O cenário para o câmbio também revela pressão, com projeção de dólar a R$ 6,00 no fim deste ano e a R$ 5,90 no encerramento do próximo.
No exterior, investidores ainda digerem a mais recente série de reuniões de bancos centrais. Na semana passada o Federal Reserve surpreendeu os mercados ao projetar um ritmo moderado de cortes na taxa de juros, fazendo com que os rendimentos dos Treasuries e o dólar subissem. Esta perspectiva seguiu permeando os negócios nesta segunda-feira, com o dólar e os rendimentos em alta.
A sessão do dia também era impactada pelos dados de confiança do consumidor americano, que enfraqueceu em dezembro, à medida que a euforia pós-eleição presidencial diminuiu e surgiram preocupações sobre as condições futuras dos negócios.
O Conference Board informou nesta segunda-feira que seu índice de confiança do consumidor caiu para 104,7 neste mês, de 112,8 revisados para cima em novembro. Economistas pesquisados pela Reuters previam que o índice subiria para 113,3, a partir dos 111,7 relatados anteriormente.
"As visões dos consumidores sobre as condições atuais do mercado de trabalho continuaram a melhorar, consistentes com os dados recentes de empregos e desemprego, mas sua avaliação das condições de negócios enfraqueceu", disse Dana Peterson, economista-chefe do Conference Board.
Após dois dias de queda firme, as taxas dos contratos de DI (Depósitos Interfinanceiros) fecharam a segunda-feira em forte alta, acima de 40 pontos-base em alguns vencimentos, em meio à desconfiança persistente do mercado com a política fiscal do governo Lula e ao avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior.
Como o mercado no Brasil estará fechado na terça e na quarta-feira em função do Natal, a liquidez também foi afetada nesta segunda, marcada ainda pelo avanço do dólar nesta segunda.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 15,215%, ante 14,903% do ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2027 marcava 15,44%, em alta de 45 pontos-base ante o ajuste de 14,992%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 14,63%, ante 14,244% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 14,38%, em alta de 37 pontos-base ante 14,013%.
"(Há uma) abertura generalizada da curva de juros, (porque) ainda paira muito no mercado a preocupação em relação ao cenário fiscal", avaliou Henrique Cavalcante, analista da Empiricus, acrescentando que o cenário externo também ajudava a sustentar o avanço dos prêmios no Brasil.
Os preços do petróleo caíram com preocupações diante de excedente e força do dólar. Um dólar mais forte torna o petróleo mais caro para os detentores de outras moedas.
Os preços futuros do petróleo Brent caíram 0,43%, a US$ 72,63 por barril. Os contratos futuros do petróleo West Texas Intermediate dos Estados Unidos caíram 0,32%, a US$ 69,24 por barril.
Com Reuters