No Centro-Oeste, a diversidade de gênero e de raça nas empresas está evoluindo, mas, como no restante do país, ainda há muito a ser feito, segundo Rafael Oliveira, doutorando em psicologia social, do trabalho e das organizações da UnB (Universidade de Brasília).
"Em diversidade, equidade e inclusão, a gente ainda está atrasado", afirma. Dentro dos desafios específicos do Centro-Oeste, ele destaca a força do agronegócio nos estados. "O agro é sabidamente mais tradicionalista nas práticas", diz.
Uma companhia do setor, porém, é o destaque principal da região Centro-Oeste no Diversidade nas Empresas, levantamento feito pelo Centro de Estudos em Finanças da FGV (Fundação Getulio Vargas) em parceria com a Folha: a Boa Safra.
Para chegar aos resultados, os pesquisadores utilizaram dados de 2023 de companhias de capital aberto declarados à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e avaliaram de forma separada companhias de 100 a 5.000 funcionários, como a Boa Safra, e a partir de 5.000. No total, um universo de 418 empresas foi levado em consideração e a diversidade foi mensurada em cargos de média liderança, diretoria e conselhos de administração e fiscal.
Pretos, pardos e indígenas são 51,5% da média liderança na empresa, segundo o levantamento. O grupo também representa 60% do conselho de administração e 20% da diretoria.
"Acessamos um mercado do Cerrado em que essa diversidade racial já é mais presente", afirma Rodrigo Viana, gerente-executivo de gente e gestão da empresa de produção de sementes, fundada em 2009.
Em 2024, a sede da companhia foi transferida de Formosa (GO) para Brasília, com o objetivo de facilitar os negócios e atrair mais profissionais. A Boa Safra tem unidades de beneficiamento de sementes e centros de distribuição nos estados de Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Bahia e Minas Gerais.
O maior desafio, de acordo com Viana, é em relação à ampliação da diversidade de gênero —que ainda é pequena, de modo geral, no setor do agronegócio, segundo estudos.
"A gente está em um movimento que ainda é de evolução de cultura. Ainda temos desafios bem significativos, de empoderamento, delegação, governança. Cada vez mais a gente vem ampliando os nossos rituais de governança, e estamos percebendo que essa maior diversidade tem agregado valor", diz.
Percebemos que a nossa governança melhorou justamente com a entrada de mais diversidade dentro da companhia. Hoje a gente tem discussões estratégicas e de novos processos de trabalho muito mais enriquecedores do que tínhamos antes
Na área operacional, com a maior quantidade de funcionários, o desafio é amplificado —isso porque, antes de avanços dos maquinários, o trabalho era braçal, tido como masculino. No campo administrativo, contudo, já existe uma maior paridade de gênero, segundo o executivo.
"A diversidade dentro da companhia é essencial para promover um ambiente de inovação, colaboração e respeito mútuo. Equipes diversas trazem diferentes perspectivas, o que contribui para a solução criativa de problemas e a adaptação a grandes desafios", diz ele. "Além disso, a diversidade reflete os valores de inclusão e equidade, fundamentais para o desenvolvimento de uma cultura organizacional saudável e produtiva."
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Pesquisa da FIA Business School, que no Centro-Oeste ouviu 8.882 funcionários de 14 grandes empresas no primeiro semestre de 2024, apontou que 39,7% das posições gerais de liderança são ocupadas por mulheres, contra 60,3% de homens. Já pessoas pretas e pardas respondem por 47,4% dessas posições, contra 48,2% de brancas. Indígenas são 0,4%, e amarelos, 4%.
Lina Nakata, professora da FIA Business School e responsável pelo levantamento, faz uma ressalva: as companhias analisadas são de grande porte, reconhecidas no mercado e, portanto, mais preocupadas com a questão da diversidade de maneira geral. É possível, portanto, que a pesquisa seja mais favorável do que a realidade da maioria das organizações do Centro-Oeste.
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"À medida que as empresas têm lideranças mais diversas, elas conseguem corresponder melhor às necessidades do mercado, porque o mercado é diverso", afirma Nakata. "Mas, se não houver um movimento de ter mais, não só quantidade, mas uma socialização completa desses grupos, ainda teremos dificuldades para fazer o resultado aparecer."
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As notas de participação feminina e de pretos, pardos e indígenas, que vão de 0 a 100, foram calculadas levando em consideração a presença dos grupos em cargos de alta e média liderança. Os autores do estudo deram pesos diferentes para cada uma das categorias analisadas: enquanto diretoria e conselho de administração têm peso maior, uma vez que os membros têm maior poder decisório, a média liderança e o conselho fiscal têm peso menor.
BOA SAFRA
Fundação 2009
Funcionários 921
Participação de pretos, pardos e indígenas 33,15
Participação feminina 15,97
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