Pra quem me conhece, espero que este reencontro seja agradável, leve e divertido, sempre que não for impossível.
Pra quem não, sou Claudio Manoel, do Casseta & Planeta, aquele grupo que teve um (com o perdão da expressão) "programa de humor", num tal horário nobre, durante duas décadas, liderando a audiência da emissora líder em audiência. Se tiver curiosidade, também fiz "otras cositas más" (é só ir no Google, WikiPedia e, ai de mim, até no LinkedIn).
Desde a fase mais pré-amadorística, no início dos 1980, ao auge do sucesso, passando por uma dúzia de anos pós-fim do "C&P Urgente!", muitas mudanças, modas, modos, mídias e medos rolaram por água abaixo, acima e foram até às nuvens.
Algumas poucas coisas, no entanto, continuaram iguais. Uma das mais marcantes e recorrentes, desde sempre, é a inescapável pergunta: qual o limite do humor?
E já como não tem como escapar... melhor encarar. Mas em vez de chatear os outros com essa discussão infinda, prefiro relembrar um caso que aconteceu durante a gravação do nosso primeiro LP, "Preto com um Buraco no Meio", em 1989 —que deu muita polêmica, mesmo quando a chatice ainda não era modinha, nem remunerava tão bem— no mitológico estúdio "Nas Nuvens", que tinha como um de seus proprietários Gilberto Gil.
Como éramos muito fãs e queríamos dar um jeito de abordá-lo, resolvemos dar de presente uma das nossas "Camissetas", criadas e vendidas por nós, através da revista, com bastante sucesso, que além da ilustração estampava a frase: "Liberdade é passar a mão na bunda do guarda".
Quando finalmente conseguimos emboscar o grande ídolo e entidade afro-baiana, ele gentilmente acolheu a gentileza, olhou o presente com atenção, leu em voz alta os dizeres e, após uma pausa exata, elogiou: "Proposta ósada".
Muito tempo passou, muita coisa melhorou, muita coisa não mudou, ou cansou de avançar e um outro muito retrocedeu.
Tente, por exemplo, ser "ósado" e vender ou usar uma camiseta com os dizeres: "Liberdade é passar a mão na bunda do juiz", ou seria mais arriscado uma "Liberdade é passar a mão na bunda do oprimido"?
Enquanto você pensa, pense no que disse o grande Millôr Fernandes: "Eu não quero viver num país onde não se possa fazer uma piada de mau gosto". R.I.P., Mestre.